Psicologia cognitiva: no que consiste e quem a formulou?
A psicologia cognitiva é atualmente uma das linhas terapêuticas mais influentes e efetivas no que se refere à recuperação de transtornos mentais. Ainda que o termo “cognitivo” seja pouco usual na linguagem coloquial, no mundo das ciências do comportamento é um termo usado com grande frequência. Para o leitor que não está familiarizado especialmente com a psicologia, diremos que “cognitivo” é nesse caso usado como sinônimo de conhecimento ou de pensamento.
Hoje em dia usamos com frequência a terapia cognitiva para resolver uma multiplicidade de problemas psicológicos. Isso chegou a esse ponto atualmente porque foi possível observar como a cognição e o pensamento influenciam, e até mesmo determinam em muitos casos, o comportamento do paciente.
O tratamento a partir dessa perspectiva é centrado na identificação do pensamentos, crenças e esquemas mentais que não correspondem à realidade à volta do paciente. Ou seja, pensamentos exagerados para tentar questioná-los mediante um debate consistente a partir de perguntas que coloquem em dúvida os pensamentos. Uma vez que a pessoa ou o paciente seja capaz de identificar e questionar suas próprias crenças, estará então preparado para reformulá-las e criar novas crenças mais ajustadas à realidade.
A revolução cognitiva
Nos anos 50 o paradigma dominante era da psicologia comportamental ou behaviorista. Ainda que esta tenha tido sucesso em explicar muitos dos fenômenos psicológicos, era também bastante reducionista já que se preocupava em explicar apenas o observável. Tudo aquilo que estava entre os estímulos e as respostas era chamado de “a caixa preta behaviorista”. Era considerado ou irrelevante para o estudo do comportamento observável ou até mesmo algo metafísico.
Quanto a teoria em voga chegou a um beco sem saída, foi observado que os fenômenos que ocorriam em nossa mente eram importantes. Acontecia algo durante o tempo que se passava entre o estímulo recebido e a resposta que este gerava. Foi aí que os cientistas começaram a estudar os processos de racionalidade, linguagem, memória, inteligência, imaginação…
O mesmo ocorreu com a psicanálise de Sigmund Freud, corrente da psicologia que também era tida como uma das mais importantes na época. Assim como o behaviorismo, a psicanálise também não era capaz de dar respostas para a multiplicidade de transtornos mentais, ainda que tenha sido uma revolução para a psicologia.
Em linhas gerais, existem algumas perspectivas científicas que deram origem ao surgimento da psicologia cognitiva, são elas:
- Os aprimoramentos na informática e na computação (Turing, Von Neumann) que permitiram a criação de máquinas e programações capazes de tomar decisões, criando paralelos de como a mente humana processa informações.
- Os avanços na cibernética, como de Wiener.
- As teorias da informação com Shannon, que concebia a informação como uma eleição e redução de alternativas.
Quais autores formularam a psicologia cognitiva?
Como explicamos anteriormente, a psicologia cognitiva surgiu a partir das limitações do behaviorismo. Este era capaz de explicar, por exemplo, por que existem pessoas que respondem de modos diferentes entre si, mesmo que tenham passado pelo mesmo condicionamento, as mesmas experiências. Os representantes mais conhecidos que ajudaram a psicologia cognitiva a se estabelecer no mundo das ciências do comportamento foram:
F.C. Barlett
Barlett foi o primeiro professor de psicologia experimental na Universidade de Cambridge. Sua principal teoria foi a Teoria dos Esquemas Cognitivos. A teoria diz que o pensamento, assim como a memória, são processos que podem ser reconstruídos.
Por meio de fábulas que o pesquisador lia para as pessoas que participavam de seus estudos, ficou comprovado que a recordação das mesmas não era feita de forma literal. Mesmo que as histórias fossem lidas repetidamente, cada pessoa era mais propensa a lembrar o que se encaixava com seus esquemas mentais prévios. Ou seja, cada pessoa lembrava de detalhes da história que se encaixavam melhor em sua vida e crenças, e tinha a tendência de esquecer detalhes opostos.
Jerome Bruner
Para este autor, existem três formas de aprendizagem: a inativa, a icônica e a simbólica. Bruner criou uma teoria de ensino que determina quatro grandes aspectos mais importantes na aprendizagem: a predisposição a aprender, as formas a partir das quais um corpo de conhecimento pode ser estruturado, sequências para apresentação do material e, por último, a natureza e ritmo de estímulos de recompensa ou de punição.
O mais importante de sua teoria é o lugar que ocupa a imersão no conhecimento, necessária para que qualquer um possa aprender. Assim, salienta a ideia de que um estudante aprende mais e mais rápido quando se envolve com o conhecimento que deve adquirir, por meio de seu uso prático e aplicação.
Gardner
Gardner formulou a famosa teoria das múltiplas inteligências. A teoria diz que a inteligência seria a capacidade de organizar os pensamentos e coordená-los com as ações. Cada pessoa teria, pelo menos, oito tipos de inteligência ou habilidade cognitiva.
Essas formas de inteligência são semi autônomas, mas podem trabalhar em equipe, integradas dentro da mente da pessoa. Cada pessoa, além disso, desenvolverá mais um ou outro tipo de inteligência em graus diferentes devido a ênfases culturais e história de vida.
Jeffrey Sternberg
Sternberg é muito conhecido por sua teoria triangular do amor. A teoria diz que o amor consumado é composto por três elementos: intimidade, paixão e compromisso.
Além disso, também postulou a teoria triárquica da inteligência, que diz que a inteligência é uma atividade mental que tem como objetivo melhorar nossa adaptação, selecionando e determinando as características relevantes de uma pessoa. A inteligência, segundo ele, fica evidente em como cada um de nós enfrenta ou produz mudanças.
David Rumerlhart
É um autor muito influente dentro da teoria dos esquemas. Segundo ele, os esquemas são representações de conceitos gerais que ficam armazenados em nossa memória e que nos ajudam a organizar o mundo. Sua teoria nos explica como o mundo é representado em nossa mente e como usamos as informações para interagir com o ambiente.
Jean Piaget
Piaget é um dos autores mais importantes da psicologia cognitiva. Ele formulou a teoria do desenvolvimento cognitivo por etapas. As etapas são caracterizadas pelo desenvolvimento gradual de estruturas lógicas, que são qualitativamente diferentes em diferentes idade. Cada estrutura dá a possibilidade para a criança de, aos poucos, desenvolver suas capacidades, impondo também restrições de acordo com cada fase.
Existem outros muitos representantes da psicologia cognitiva, como Vigotsky, Erickson ou Ausubel. Todos mereciam um espaço nessa lista uma vez que seus estudos contribuíram para a revolução da psicologia atual, compondo-a e possibilitando entender quais são os principais pontos forte dessa linha, e também as fraquezas da corrente mais popular da atualidade, a cognitivo-comportamental.
Assim, graças a contribuições de todos eles, a psicologia deu enormes passos. Desse modo, ainda que o behaviorismo siga ainda hoje em uso e inclusive se combine com a psicologia cognitiva na linha cognitivo-comportamental, foi também um grande avanço para seu tempo frente ao que se conhecia anteriormente, melhorando o tratamento de diferentes transtornos mentais com tanta incidência como a depressão, por exemplo.
Referências bibliográficas:
De la Vega, M. Introducción a la psicología cognitiva (1984). Alianza.
Bruner, J.S. (1959). Learning and Thinking. Harvard Education, 29: 184-192.
Pozo, J.I. Teorías cognitivas del aprendizaje. Morata. Novena edición