A psicologia da alquimia de Jung

A psicologia da alquimia de Jung
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A psicologia da alquimia enunciada por Carl Jung deixou uma herança tão fascinante quanto polêmica. Para o famoso psiquiatra suíço, uma das finalidades do ser humano era a sua transformação em um ser livre e individual. No entanto, esta conquista incluía decodificar cada símbolo contido no nosso inconsciente.

O assunto, por si só, não é fácil de entender em um primeiro momento. No entanto, muitas das teorias e dos enfoques herdados de Carl Jung supõem, atualmente, pequenos desafios teóricos nos quais sempre é muito interessante se envolver.

Ele permite nos abrir a novas perspectivas, flexibilizar enfoques e nos enriquecer, um pouco mais, com o legado de uma das personalidades mais polêmicas e interessantes da história da psicologia.

“Mágico é, simplesmente, outra palavra para definir a alma”.
– Carl Jung –

Quem abrir, pela primeira vez, o livro de Jung intitulado Psicologia e alquimia, publicado em 1944, vai ficar confuso. As fórmulas enunciadas em cada uma das páginas desta obra são muito ousadas. No entanto, se existe algo que definiu Carl Jung foi a sua grande capacidade de aproximação à vida mística, imprecisa e misteriosa que transcende a própria psique.

A psicologia da alquimia é, acima de tudo, uma proposta para a transformação. Nela, o fator mais decisivo é a nossa intencionalidade e a criatividade, que permitem dar início aos nossos “caminhos alquimistas” particulares.

O que é a psicologia da alquimia?

Nós podemos supor que a alquimia é uma prática protocientífica, um meio-termo entre o místico, o espiritual e o filosófico, que baseia as suas origens em Hermes Trismegisto, um filósofo greco-egípcio. Talvez também tenhamos em mente os propósitos que, aparentemente, a alquimia buscou no passado: a juventude eterna ou o poder de transformar qualquer material em ouro.

Quando nos referimos à psicologia da alquimia de Carl Jung, cabe dizer que ela não tem nada em comum com estes propósitos. Neste caso, o que existe é um sentido de elevação, de evolução pessoal. Deste modo, ao nos aprofundarmos um pouco mais no seu livro Psicologia e alquimia, vamos descobrir seu interesse por reviver o conceito da alquimia em uma tentativa apaixonada de renovar a nossa cultura filosófica e psicológica.

Para Jung, o conhecimento do próprio indivíduo parte da capacidade de entender não só a psique, mas também cada uma das manifestações do inconsciente. Só observando os sonhos, por exemplo, nós poderíamos alcançar uma visão mais holística do próprio indivíduo, uma fonte mais rica e profunda para criar uma melhor versão de nós mesmos.

Alcançar o verdadeiro autoconhecimento, portanto, implicaria, antes de mais nada, ter uma visão mais ampla, ousada e, especialmente, profunda do ser humano. Temos um exemplo desta busca e autorrealização em Isaac Newton.

Isaac Newton, um exemplo da psicologia da alquimia

Isaac Newton, gênio da matemática e célebre cientista, fez mais do que desenvolver o cálculo diferencial, descobrir as propriedades espectrais da luz, enunciar a teoria da gravitação universal ou formular os primeiros cálculos da atração da Lua pela Terra.

Graças a ele, entramos na chamada Era da Razão, onde tudo devia contar com um adequado apoio experimental e científico. Pois bem, algo que pode ser comprovado nas notas e nos diários privados de Newton é que ele era um grande especialista em alquimia. Aliás, como também nos revelam vários artigos, esta era a sua verdadeira paixão.

Jung dizia que a alquimia era uma forma de arte e, por isso, não deixava de ser uma ciência, na qual todo o conhecimento poderia se transformar em algo muito mais luminoso e elevado. Portanto, Newton foi capaz de se abrir a outro tipo de conhecimento, no qual a espiritualidade, a astronomia, o simbólico e o místico podem servir de ajuda para formar uma psique evoluída.

A psicologia da alquimia

Na verdade, para conseguir isso, bastaria entender algumas ideias, segundo Carl Jung:

  • A alquimia é uma viagem pessoal de transformação. É um impulso instintivo de crescimento.
  • As pessoas com uma mente inflexível e uma consciência focada em um ponto de vista objetivo, no que é material e naquilo que é observável, terão uma vida limitada.
  • Para favorecer uma consciência mais ampla e elevada, como a de Isaac Newton, deveríamos desenvolver, segundo Carl Jung, os seguintes quatro elementos alquímicos: a intuição (fogo), o pensamento (ar), o sentimento (água) e a sensação (terra).
  • Desse modo, a psicologia da alquimia se baseia, também, em muitos de nossos elementos psíquicos não resolvidos. Devemos nos aprofundar, antes de mais nada, na escuridão alquimista, onde se encontram as nossas sombras, para revelá-las. Toda transformação exige um certo esforço e um grande senso de criatividade.

Existem dois tipos de alquimia. Uma delas se esforça para conhecer o cosmos como um todo e recriá-lo. É, de certa forma, a percursora da ciência natural moderna. A outra alquimia se concentraria na possibilidade de uma transformação que nos leva a sermos nós mesmos.

Psicologia da alquimia para compreender a alma humana

Psicologia e alquimia é o volume de número 12 das obras completas de Carl Jung. Para compreender esta obra, vamos descrever o contexto: estamos no final da Segunda Guerra Mundial e em plena crise de valores. Jung estava passando por uma ruptura pessoal ligada com a sua confiança no ser humano.

A psicologia da alquimia busca chegar até a essência mais profunda do nosso ser, até a alma que, de algum modo, poderia ser resgatada por meio de um processo alquimista. Esta viagem, quase como se representasse o inferno de Dante, deveria continuar o seguinte caminho de iniciação, um trajeto que começava nos círculos mais profundos, emergindo, pouco a pouco, até a iluminação:

  • Conhecer a matéria-prima do ser humano. Para isso, nós deveríamos tirar as nossas máscaras sociais.
  • Trabalhar o nigredo, a massa escura onde estão as nossas sombras, as partes escuras que não queremos ver de nós mesmos.
  • Entender a união dos opostos em nossa personalidade (a nossa maldade e a nossa capacidade de fazer o bem).
  • Diferenciar a nossa alma feminina da masculina, assim como os arquétipos que estão em nosso ser (o herói, o pai, o sábio, etc.).
  • Decifrar o significado dos nossos sonhos.
Carl Jung

Para concluir, a psicologia da alquimia enunciada por Jung é um convite direto para ir além da ciência mais ortodoxa e empírica. Ela foi mais uma das suas tentativas de nos fazer cruzar o limite do conhecimento mais ordinário para chegar ao extraordinário, até a essência simbólica e espiritual contida em nossa própria psique.

Atualmente, no jardim da que foi a sua casa de campo em Bollingen, Suíça, ainda se conserva uma grande pedra em forma de cubo, onde é possível ver uma série de símbolos alquimistas que ele mesmo escreveu. Estes símbolos lhe foram revelados em um sonho, e significavam o seguinte: “Isso é um sinal para você, para que se lembre de que é uma unidade e de que você mesmo já é tudo neste mundo”.


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