A psicologia do perdão

A psicologia do perdão
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A psicologia do perdão também é uma forma de desapego. Ela se refere a um ato de coragem através do qual as pessoas deixam de lado o rancor que as consome para aceitar o que aconteceu e seguir em frente. É também uma reestruturação do “eu”, um caminho psicológico para reparar o sofrimento, as emoções negativas, e encontrar pouco a pouco a paz interior.

Quando procuramos bibliografias em relação à psicologia do perdão, encontramos principalmente obras e documentos relacionados ao crescimento pessoal, ao estudo da moral e até mesmo ao mundo da religião ou da espiritualidade. No entanto, existem estudos científicos sobre o que é perdão, como realizá-lo e o que é necessário para que nosso equilíbrio físico e emocional dê esse passo?

“Os fracos não podem perdoar. O perdão é um atributo dos fortes”.
– Mahatma Gandhi –

Sim, existem alguns estudos sobre a psicologia do perdão. Na verdade, a “Associação Americana de Psicologia” tem diversos trabalhos e pesquisas sobre o que é perdoar ou não. Como as nossas sociedades antigas e a atual estão cheias de conflitos ao longo da sua história, nem sempre conseguiram avançar nesse sentido: uma dimensão que, por sua vez é a chave para o nosso bem-estar mental.

Certamente todos nós temos um espinho cravado, uma conta pendente com algum fato de nosso passado que restringe a nossa felicidade atual, que diminui a nossa capacidade de construir um presente muito mais satisfatório. Todos nós, de alguma forma, guardamos a nossa pequena cota de ressentimento em relação a algo ou alguém que precisa ser curado…

Mulher rodeada de pequenos aviões

Perdoar para evitar o “desgaste” pessoal

A melhor maneira de se aprofundar nessa área da psicologia é diferenciar o que é o perdão e o que não é. Perdoar, em primeiro lugar, não significa nos dizer que o que aconteceu em determinado momento foi bom se na realidade não foi. Também não significa “aceitar” ou se reconciliar com a pessoa que nos prejudicou; e muito menos nos obrigar a conviver ou sentir pena dela.

Na realidade, a psicologia do perdão nos oferece as estratégias apropriadas para que possamos dar os seguintes passos:

  • Aceite que as coisas aconteceram dessa maneira particular. Nada que aconteceu nesse momento específico do passado pode ser alterado. Portanto, devemos parar de pensar, perder energia, coragem e saúde, imaginando como as coisas poderiam ter acontecido se tivéssemos agido de outra forma.

“Perdoar é aprender a “deixar ir” para reinventar um novo “eu” que assume o passado, mas que tem forças para aproveitar o presente.

Por sua vez, a psicologia do perdão nos diz que não somos obrigados a entender ou aceitar os valores ou pensamentos da pessoa que nos prejudicou. Perdoar não é oferecer clemência ou buscar justificativas para o que sofremos. Nunca devemos perder a nossa dignidade.

  • É preciso facilitar o luto do ressentimento, “deixar ir” a raiva, a intensidade do desespero e o bloqueio que nos impede de respirar… Para isso, é necessário deixar de odiar aqueles que nos prejudicaram.
Caramujo com dente-de-leão

Por outro lado, há um aspecto importante que geralmente esquecemos. O perdão é a base de qualquer relacionamento, seja de casal, amizade, etc. Lembre-se de que nem todos veem as coisas da mesma maneira; na verdade, há diversas percepções, abordagens e opiniões.

Às vezes assumimos certos comportamentos como afrontas ou atos de desprezo, quando o que está por trás é uma simples intolerância ou um mal-entendido. Assim, e para deixar de ver traições onde não há, devemos ser capazes de expandir o nosso senso de compreensão e a nossa capacidade de perdão.

A psicologia do perdão: a chave para a saúde

O Dr. Bob Enright, da Universidade de Wisconsin, é um dos mais conhecidos especialistas no estudo da psicologia do perdão. Depois de mais de três décadas analisando casos, fazendo estudos e escrevendo livros sobre o assunto, concluiu algo que, talvez, possa chamar a nossa atenção. Nem todos conseguem, nem todos são capazes de dar o primeiro passo para oferecer o perdão. A razão disso reside na crença de que o perdão é uma forma de fraqueza.

Isto é um erro. Uma das melhores ideias que a psicologia do perdão nos dá é de que perdoar, dar o primeiro passo, além de nos permitir avançar com mais liberdade no nosso presente, nos dá a oportunidade de aprender novos valores e estratégias para enfrentar qualquer fonte de estresse e ansiedade. Perdoar e reciclar ressentimentos nos liberta; é um ato de coragem e força.

Mulher com borboleta em sua mão

O Dr. Enright nos lembra que existem muitas razões para perdoar. A melhor delas é que vamos ganhar saúde. Existem muitos estudos que mostram a estreita relação entre o perdão e a redução da ansiedade, da depressão e de outros distúrbios que reduzem a nossa qualidade de vida.

A pessoa que permanece dia após dia presa no ciclo das recordações, nas garras do ressentimento e no ódio persistente em relação a um evento do passado ou determinada pessoa, desenvolve além da infelicidade um estresse crônico. Ninguém merece viver dessa maneira. Porque não há emoção mais tóxica do que a raiva combinada com o ódio…

Vamos portanto, colocar em prática algumas das seguintes estratégias para facilitar o caminho do perdão:

  • Perdoar não é esquecer, é aprender a pensar melhor e entender que não somos obrigados a facilitar uma reconciliação, mas a aceitar o que aconteceu sem nos sentirmos “fracos” por dar esse passo. Perdoar é nos libertarmos de muitas cargas que não merecemos carregar ao longo da vida.
  • O ódio tira a energia, o ânimo e a esperança. Devemos, portanto, aprender a perdoar para sobreviver e viver com mais dignidade.
  • A escrita terapêutica e a manutenção de um diário também podem nos ajudar.
  • Devemos entender, por sua vez, que o tempo por si só não ajuda a esquecer. Deixar passar os dias, meses e anos não nos impedirá de odiar ou lembrar o que aconteceu. Não vamos deixar para amanhã o desconforto que sentimos hoje.
  • Precisamos entender que o perdão é um processo. Talvez nunca possamos perdoar completamente a outra pessoa, mas podemos descarregar uma boa parte de todo ressentimento para poder “respirar” um pouco melhor…

Para concluir, o campo da psicologia do perdão é muito amplo e, por sua vez, tem uma relação muito próxima com a área da saúde e do bem-estar. É uma disciplina que nos oferece estratégias fabulosas para aplicarmos em qualquer área da nossa vida, do nosso trabalho e dos relacionamentos diários. Perdoar é, portanto, uma das melhores habilidades e virtudes que podemos desenvolver como seres humanos.


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