Psicopatologia e criatividade

Existe uma relação entre psicopatologia e criatividade? É necessário sofrer de algum tipo de sintomatologia para se tornar um "gênio criativo"? Neste artigo falamos sobre o estudo da relação psicopatologia-criatividade, incluindo o papel da neurociência no mesmo.
Psicopatologia e criatividade
Isabel Monzonís Hinarejos

Escrito e verificado por a psicóloga Isabel Monzonís Hinarejos.

Última atualização: 18 maio, 2023

A relação entre criatividade e psicopatologia tem sido objeto de interesse há centenas de anos. Já em seu tempo, Aristóteles observou que grandes cientistas e artistas, pessoas altamente criativas, tendiam à melancolia.

Figuras como Ernest Hemingway, Virginia Woolf, Edgar Allan Poe, Vincent Van Gogh e Edvard Munch sofriam de alguma doença mental que os afetava em seu processo criativo.

Ainda hoje, o estudo da relação entre a criatividade e a psicopatologia permanece árduo e difícil. Primeiro, porque para conhecer essa relação deve ser encontrado um método científico e formal de mensurar algo tão intangível como a criatividade.

Segundo, porque os transtornos mentais são múltiplos e muito variáveis, e como costuma-se dizer no mundo clínico, “existem tantas psicoses quanto pessoas”.

Isso nos leva ao terceiro motivo que justifica a dificuldade de medir essa relação: embora sejam muitos os avanços na neurociência, o mundo da psique ainda parece ser um grande desconhecido.

O estudo sobre a relação entre criatividade e psicopatologia

O estudo sobre a relação entre criatividade e psicopatologia

Como ponto de partida, podemos dizer que o estudo da relação criatividade-psicopatologia começou após o século XVII. Isso foi possível após aceitar que a primeira variável poderia ser suscetível à medição.

Em outras palavras, a criatividade deixou de ser uma variável intangível, sem possibilidade de estudo científico.

Autores como Galton, Silverman e Brain, entre outros, postularam a partir de uma perspectiva naturalista que a criatividade não era um fenômeno extraordinário, mas comum e com bases biológicas.

Isso, embora agora pareça óbvio, não havia sido considerado até então. Além disso, eles observaram que, frequentemente, pessoas com um alto desempenho criativo sofriam de transtornos ou sintomas depressivos, maníaco-depressivos ou da esfera neurótica.

No entanto, logo concluiu-se que essa relação deveria ser estudada com mais rigor, e não apenas através de estudos de caso. A partir daí, foram estabelecidos três métodos para estudar a influência da psicopatologia na criatividade:

  • Através de estudos biográficos de figuras criativas da história. Os resultados proporcionados por esse método não são precisos ou conclusivos, embora sejam muito interessantes.
  • Analisando a psicopatologia de pessoas criativas. Através da aplicação de inventários, escalas e critérios clínico-métricos em pessoas com profissões criativas, pretende-se determinar se existe ou não uma maior prevalência de transtornos mentais. Além disso, em caso afirmativo, em que tipologia estão incluídos (afetiva, psicótica, etc.).
  • Mediante o estudo da criatividade em pacientes psiquiátricos. Esse método é baseado no princípio contrário ao anterior. Se o primeiro busca a psicopatologia na criatividade, este busca a criatividade na psicopatologia. No entanto, a grande maioria das pesquisas se concentrou em pacientes com bipolaridade ou esquizofrenia.
Peças formando cérebro

O que a neurociência diz sobre essa relação?

Foram realizados inúmeros estudos neurocientíficos nas últimas décadas para tentar encontrar uma relação entre essas duas variáveis.

Embora os resultados sejam muito diversos – e às vezes até contraditórios –, eles indicam que “existe uma associação evidente entre doenças mentais e transtornos de comportamento” (Escobar e Gómez-González, 2006).

Esses estudos associam a criatividade ao transtorno bipolar, ao alcoolismo, ao suicídio, à depressão maior, à esquizofrenia e a déficits de disfunção cerebral (epilepsia, autismo, etc.).

No entanto, cabe ressaltar mais uma vez que essa relação ainda é inconclusiva. Atualmente, não há um consenso claro entre os especialistas.

A nível neuroanatômico, a criatividade está relacionada, entre outros, ao funcionamento do córtex pré-frontal, responsável pelas funções cognitivas superiores.

Também tem relação com o sistema límbico, que gerencia as respostas fisiológicas aos estímulos emocionais. No entanto, especialistas apontaram que a chave está no fluxo de informação que “corre” pelas regiões do cérebro envolvidas na criatividade.

Portanto, pode-se concluir que, embora ainda exista um longo caminho a percorrer, a criatividade é afetada nos transtornos mentais nos quais essas estruturas mencionadas são alteradas.

Mesmo assim, os transtornos mentais não são um fator determinante nem suficiente para que uma pessoa seja criativa.


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