Racionalização emocional: o que é e quais são as consequências?

Racionalização emocional: o que é e quais são as consequências?
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Você sabe o que é sentir uma realidade com intensidade, sem que exista nenhuma base para que ela de fato esteja acontecendo? Se não, descubra a seguir o que é isso. Se sim, então você sabe em primeira mão o que é um dos problemas psicológicos mais complicados – e também um problema frequente – conhecido como racionalização emocional.

A racionalização emocional é um termo que descreve um tipo particular de distorção cognitiva. Este termo foi usado pela primeira vez nos anos 70 por Aaron Beck, o fundador da Terapia Cognitiva, uma linha terapêutica da psicologia.

Segundo Beck, cada vez que alguém chega a alguma conclusão da realidade a partir de sua reação emocional, o que está ocorrendo é justamente uma racionalização emocional. Dessa forma, qualquer evidência fatídica observada é descartada ou deixada em um segundo plano em detrimento da suposta “verdade” que os próprios sentimentos definem. Beck acreditava que essa racionalização tinha origem em pensamentos negativos crônicos, que são geralmente involuntários, incontroláveis ou automáticos.

Os sentimentos não são fatos

A racionalização emocional assume que o que se está sentindo é necessariamente verdade. Se você se sente com ciúmes, por exemplo, é porque alguém fez algo para te deixar assim, e qualquer pessoa ou coisa pode ser a destinatária dessa culpa. Ainda que em geral haja relação entre o que está acontecendo e o que sentimos, muitas vezes podem ser coisas bastante diferentes.

Sombra de flor em blusa

A força do sentimento cria uma convicção, que se mantém normalmente até que a tormenta emocional comece a se acalmar. Quando usamos a racionalização emocional, acreditamos em alguns pensamentos automáticos que causam mal-estar emocional, e logo tratamos de criar motivos para a base de nossos sentimentos.

Para fazer isso, a racionalização emocional geralmente distorce e colore a realidade com um viés negativo – também pode ser que ocorra com um viés positivo, mas nesse artigo não vamos nos focar nesses casos. Nossa visão de mundo daquele momento é totalmente integrada, de forma perfeita, sem que possamos notar a influência. Desse modo, em nenhum momento questionamos se aquilo que entendemos que está acontecendo está realmente de acordo com a realidade, e não sendo manipulado por nós.

“As emoções negativas como a solidão, a inveja e a culpa têm um papel importante a desempenhar em uma vida feliz. São sinais grandes e chamativos de que algo precisa mudar”.
-Gretchen Rubin-

Pensar emocionalmente pode sabotar seu presente

A racionalização emocional é um tipo de racionalização enganosa, porque está baseada em sentimentos e os sentimentos refletem os nossos pensamentos e nossas crenças, nem sempre condizentes com a realidade. Por exemplo, todos alguma vez na vida já nos sentimos enganados. Mas isso significa que fomos necessariamente enganados? Nem sempre.

Trata-se de um sentimento distorcido e, portanto, as emoções derivadas não são válidas como justificativa para chegar imediata e diretamente a nenhuma conclusão. O mesmo ocorre, por exemplo, quando nos sentimos sem esperança ou desanimados em relação a alguma coisa. Esses sentimentos não implicam que os problemas que temos sejam impossíveis de resolver e que tudo está perdido.

A racionalização emocional também tem um efeito secundário bastante comum: a procrastinação. Se você sente que vai falhar em algo, provavelmente fica adiando sua execução, ou até mesmo nem tenta fazer. A procrastinação se coloca no caminho da tomada de decisões saudáveis que tenham relação com o cuidado de si mesmo.

Diante da certeza de algo, a reação natural é não lutar para evitar ou eliminar o que está acontecendo. Geralmente aceitamos, felizes ou não, a realidade percebida e assumida como real. Como consequência, muitas vezes essa realidade inventada se torna, de fato, a realidade.

Mulher diante de janela molhada

Racionalização emocional e depressão

A racionalização emocional tem um papel fundamental em quase todas as depressões. Devido ao fato de que algumas pessoas sentem o mundo de modo tão negativo, uma pessoa deprimida assume que a vida realmente é assim. Não ocorre ao sujeito desafiar a validade de sua percepção, e ele acaba acreditando totalmente nos sentimentos.

As pessoas deprimidas, além disso, com frequência racionalizam emocionalmente as situações, numa via de mão dupla. Por exemplo, podem se dedicar a filtrar a vida e se concentram no aspecto negativo até mesmo de um resultado muito positivo. Isso acontece justamente porque vivem em um estado de humor muito negativo. Para piorar, não importa se realmente há motivo para gerar essa situação, porque mesmo se houver motivo contrário, esse fato não será valorizado, de forma que a racionalização emocional acaba prevalecendo.

Um dos problemas que surgem é que, na verdade, a racionalização emocional se torna um padrão aprendido, porque muitas pessoas acabam pensando dessa forma. Ainda que a racionalização emocional não seja a culpada da depressão, esse modo de pensar faz com que seja muito difícil combater a causa do transtorno quando alguém tem essa doença.

Além disso tudo, a racionalização emocional ainda é extremamente comum. Nós gostamos de pensar que tomamos decisões bastantes lógicas, mas na verdade na maioria das vezes nos deixamos levar pelos sentimentos. É mais fácil assim.

De fato, se observarmos as conexões cerebrais existentes, é muito mais fácil tomar uma decisão com base em um sentimento do que ponderar fatos. Não temos a tendência de buscar fatos que respaldem nossas conclusões. Apenas aceitamos porque é, simplesmente, mais fácil.

Mulher com raiva

Mude as suas crenças limitantes para frear a racionalização emocional

O principal problema com os erros de pensamento – como esse que ocorre na racionalização emocional – é que uma vez que tomamos a decisão de que nossas emoções são fatos, deixamos de buscar explicações alternativas para entender qualquer situação. Por isso nossas crenças se tornam terrivelmente limitantes, tornando-se acusadoras.

Para evitar esse quadro, cada vez que você se der conta de que a racionalização emocional está se apoderando do seu pensamento, tente parar e pensar por alguns segundos, considerando o seguinte:

  • Tome nota de seus pensamentos e, se perceber o mecanismo da racionalização emocional, considere que seus sentimentos podem ter pouco a ver com o que está acontecendo ao seu redor, e pense objetivamente sobre isso.
  • Ponha suas “lentes da tranquilidade”. Pergunte a si mesmo se você conseguiria ver a mesma situação atual de um modo diferente se estivesse em outra fase de vida, mais tranquila. Tente examinar as evidências e decidir se as emoções que está experimentando são apropriadas e compreensíveis dentro dos fatos reais que se colocam.
  • Dê tempo para que as emoções se dissipem. As emoções podem ir embora razoavelmente rápido. Então dê um pouco de tempo ao tempo e deixe para avaliar os fatos e tirar conclusões mais tarde. Pode ser que o furacão emocional desapareça. É fácil olhar por outra perspectiva quando se está mais calmo.

Não perca de vista que esse mecanismo é um engano da mente, uma ilusão que aparece quando temos dificuldade para gerir nossas próprias emoções, das quais nossos sentimentos se alimentam. As emoções, no entanto, por mais negativas que sejam, não são ruins por si só, pois possuem valores adaptativos que nos ajudam a sobreviver.

“Correr uma maratona com uma mochila é difícil e pode atrapalhar a sua corrida. Não deixe que a bagagem do seu passado, carregada de medo, culpa e raiva, desacelere seu passo ou o impeça de andar”.
-Maddy Malhotra-


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.