Relação entre os transtornos de ansiedade e a alta inteligência

Relação entre os transtornos de ansiedade e a alta inteligência
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

“A ignorância gera felicidade”. Segundo vários estudos, esse ditado popular tem evidências parciais que o apoiam. Assim, de acordo com um trabalho da Universidade de Lakehead, no Canadá, existe uma relação muito evidente entre os transtornos de ansiedade e a alta inteligência, um vínculo quase direto entre as mentes brilhantes e analíticas e a preocupação excessiva e a ansiedade social.

Há pouco tempo, falamos em nosso site sobre a aparente correlação entre a criatividade e o transtorno bipolar. Bom, convém frisar antes de mais nada que o que esses estudos dizem não significa que por trás de toda pessoa com um QI excepcional ou com um potencial criativo notável exista um transtorno psicológico. De forma alguma.

Existe uma relação entre os transtornos de ansiedade e a alta inteligência, uma evidência que teria sua origem na substância branca do cérebro.

A ciência, e em particular os departamentos de Psicologia de grande parte das universidades de todo o mundo, tentam periodicamente oferecer informações interessantes e dados com evidências significativas que possam nos ajudar posteriormente na prática clínica.

Assim, um fato evidente é o seguinte: há muitas pessoas com altas capacidades que mostram comportamentos e estados que não se compatibilizam muito com esse cérebro privilegiado. Elas não são felizes, sentem-se frustradas e nem sempre tomam as melhores decisões.

São muitos os psiquiatras e neuropsicólogos de todo o mundo que se deparam com frequência com o mesmo problema: pacientes com um QI elevado que apresentam ansiedade crônica e generalizada. Qual é a razão por trás desse fato?

Mulher sofrendo de transtorno de ansiedade

Relação entre os transtornos de ansiedade e a alta inteligência

Quem trabalha no campo da educação verá isso com muita frequência. Há estudantes brilhantes que se caracterizam por um equilíbrio e uma tranquilidade destacáveis. Outros, por outro lado, costumam se frustrar frente a qualquer mudança, antecipam-se negativamente e caem em um estado de estresse muito desgastante, até o ponto de prejudicar seus desempenhos acadêmicos.

Tscahi Ein-Dor e Orgad Tal, dois psicólogos da Universidade de Lakehead, no Canadá, realizaram diversos experimentos em várias escolas e faculdades com o objetivo de estudar esses comportamentos que, no fim das contas, acabam prejudicando o sucesso pessoal e profissional de um grande número de alunos. Nesse processo, incluíram nesses estudos o teste de ressonância magnética, que foi precisamente o que evidenciou algo tão surpreendente quanto inesperado.

A substância branca e a alta inteligência

Os transtornos de ansiedade e a alta inteligência poderiam ser explicados por uma pequena anomalia cerebral na substância branca. Recordemos que essa estrutura, formada em sua maioria por axônios mielinizados, está relacionada com a transmissão de informações e determina nossa inteligência e a agilidade dos processos cognitivos. Por sua vez, ela também está envolvida com a questão emocional.

Uma parte dos cientistas acredita que, à medida que se desenvolvia a inteligência no ser humano, também se desenvolvia a ansiedade. A razão? Por um fim muito específico: antecipar os perigos, para que a capacidade de analisar e processar a informação nos ajudasse a melhorar nossa sobrevivência, antecipando riscos e ameaças. Obviamente, no momento em que a ansiedade atinge níveis muito elevados, a inteligência perde seu potencial, uma vez que a pessoa se sente literalmente paralisada.

Os transtornos de ansiedade e a alta inteligência

Características das pessoas com alta inteligência e transtornos de ansiedade

Essa pequena anomalia ou variação na substância branca cerebral não determina que 100% das pessoas com altas capacidades desenvolvam, em algum momento, um distúrbio de ansiedade. Há um risco maior, uma suscetibilidade mais evidente de não serem capazes de controlar as emoções e as situações de estresse. Todos esses processos costumam ser evidenciados nas seguintes características:

  • Inteligência sentinela: capacidade de antecipar ameaças ou perigos que outras pessoas não percebem (algo que, em certos contextos pode ser benéfico).
  • Hipersensibilidade: os transtornos de ansiedade e a alta inteligência são perceptíveis especialmente na baixa tolerância em contextos com muitas pessoas, com grande número de estímulos que acabam provocando um esgotamento mental.
  • Contágio emocional: outra característica habitual das pessoas muito inteligentes é que também demonstram baixa “ecpatia”, isto é, são muito sensíveis às emoções dos outros, mas não sabem filtrá-las, lidar com elas e separá-las de suas realidades. Isso as leva a sofrer com “contágios emocionais” contínuos, com o cansaço e o bloqueio que essa situação gera.
  • Subconscientes desgastados: esse termo curioso pode parecer algo estranho, mas revela um fato que parecerá evidente. As pessoas com um QI elevado pensam muito. Desperdiçam energia mental e emocional em excesso com questões irrelevantes que, na maioria dos casos, não as levam a lugar algum.
  • O mundo está cheio de possibilidades e não podem ignorar nenhuma. Os transtornos de ansiedade e a alta inteligência também são perceptíveis na incapacidade de estabelecer limites, de deixar de lado algumas opções e escolher outras. O mundo, para elas, é cheio de infinitas opções, variáveis e condições, e elas são incapazes de descartar qualquer uma.
Os labirintos da mente humana

Nesse ponto, a questão é quase inevitável: como lidar com isso? Como gerenciar um cérebro hiperativo incapaz de colocar filtros em uma realidade muito complexa, cheia de dados, emoções e estímulos? Poderíamos dizer que o mais recomendável seria acabar com essa ansiedade, reduzi-la, torná-la a menor possível.

Bom, por mais curioso que isso pareça, a resposta não é essa. A chave está em usar a ansiedade a nosso favor, lidando com ela de forma efetiva, sabendo usar todo o seu potencial. Porque, se evolutivamente a alta inteligência e a ansiedade caminham lado a lado para um fim, devemos nos orientar para esse fim. Vamos aprender a usar essa ativação para intuir o que os outros não veem, para antecipar riscos, eventos e probabilidades. Mas vamos fazer isso com equilíbrio, sabendo colocar filtros, caminhos ordenados nos quais toda essa energia mental possa fluir de forma organizada.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.