Como são as relações amorosas com pessoas inseguras?
Manter relações amorosas com pessoas inseguras pode deixar marcas amargas e até mesmo dolorosas. São pessoas que vivem em constante dúvida, que têm uma baixa autoestima que as devora. Não adianta dizer “eu te amo” a elas, uma vez que palavras não são suficientes pois preferem e precisam de provas de amor, além de sacrifícios .
Quando o medo impera sobre o nosso universo pessoal, tudo desanda. Podemos não notar hoje, nem amanhã, mas a insegurança é capaz de criar enormes gatilhos emocionais .
A insegurança faz com que as pessoas se escondam atrás de suas sombras, dúvidas e desconfianças, enxergando o mundo por trás das suas barreiras. Elas não se expõem, não se arriscam e esperam que os outros, de alguma forma, se ajustem conforme suas próprias perspectivas e necessidades.
Em contrapartida, sabemos que todos nós possuímos inseguranças . Isso é normal. Todos nós temos espaços a serem limpos, pontas soltas para amarrarmos e outras peças para encaixarmos no intuito de sermos mais resolutos em nosso dia a dia. Entretanto, em termos afetivos, a insegurança pode ser muito perigosa .
Sentir, pensar e agir através do medo, da incerteza e da baixa autoestima pode nos levar a criar laços realmente prejudiciais, além de nos fazer passar por transtornos psicológicos, dependendo das características de cada um.
“Quem tem medo, tem desgraça.”
-Provérbio curdo-
Origens e características das relações amorosas com pessoas inseguras
O autor israelense Jonathan Safran Foer, em seu romance Extremamente Alto & Incrivelmente Perto , escreveu: “Tenho tanto medo de perder o que eu amo que me nego a amar qualquer coisa”. Num primeiro momento, a afirmação pode parecer sã e correta. Sempre é melhor não amar do que se submeter ao domínio constante do medo e da ansiedade pela perda. Porém, o ideal é não reprimir o sentimento de amar e costurar os tecidos que foram rasgados pelo medo.
De qualquer forma, como são as relações amorosas com pessoas inseguras? Certamente, sempre haverá diferenças em cada caso. Porém, deixando isso de lado e focando nos erros que surgem da insegurança, podemos dizer que as características a seguir ocorrem com frequência.
Me enxergue melhor do que eu me enxergo
A pessoa insegura não espera que seu par seja como um espelho . Ela precisa de algo a mais, algo mais maquiavélico, complexo e desgastante. A pessoa amada possui a obrigação de enaltecer e elogiar as virtudes da pessoa insegura. Isso serve de sustento emocional e deve ser alimentado diariamente com reforços positivos, imagens, palavras e gestos que possam validar o outro conforme a sua necessidade.
Essa dinâmica pode ocorrer durante os primeiros meses ou até mesmo durante alguns anos. Em qualquer cenário, esta tarefa esgota qualquer um. Isso porque quem se esforça em lançar luz sobre as sombras do outro acaba relegado à indiferença e à exaustão emocional.
A insegurança do vitimismo e a insegurança da tirania
Nas relações amorosas com pessoas inseguras, elas podem fazer uso de duas táticas para controlar seus pares:
- A primeira técnica é a vitimização. Tais pessoas dão a entender que não estamos fazendo o suficiente, que estamos constantemente falhando. Também vão nos fazer acreditar que somos egoístas, vão distorcer qualquer fato, palavra ou nuance para nos culpar pela sua infelicidade, pelo seu desconforto.
- Por outro lado, as pessoas que sofrem de sentimentos claros de inferioridade recorrem a uma estratégia clássica: lutar pela superioridade. Este fenômeno foi analisado por Alfred Adler e, como explicado pelo renomado psicólogo, a pessoa sofre de uma cisão entre o eu real (ou seja, fraco) e o eu ideal (ou seja, forte).
- Por isso, as pessoas inseguras podem não hesitar quando tentam se engrandecer e, para isso, nada melhor do que tentar “menosprezar” o outro. Ao menosprezar, desvalorizar ou desprezar as conquistas e virtudes do outro, a pessoa insegura ganha poder e força.
A origem da insegurança emocional
Estudos como o realizado por Jeffry A Simpson, da University of Minnesota, nos Estados Unidos, mostram que a origem da insegurança afetiva está no estilo de apego com que fomos criados . Esta é uma teoria muito recorrente que fala sobre as consequências que isso pode ter para a nossa personalidade, com uma infância baseada na rejeição, na negligência, naquelas necessidades básicas e emocionais não atendidas e negligenciadas.
Esse tipo de apego acaba contaminado pelo medo , por isso a insegurança acaba aparecendo na idade adulta, na forma de necessidades constantes de sentir a validação que não houve na infância.
O que fazer quando a insegurança se faz presente em nossas relações?
As relações amorosas com pessoas inseguras não são fáceis. Pode ser que estejamos passando agora mesmo por isso. É possível, inclusive, que nós mesmos sejamos pessoas inseguras , cheias de medos, dúvidas constantes e sensação permanente de que seremos abandonados.
Daniel J. Siegel, doutor pela Universidade de Harvard, destaca que as relações podem ser comparadas às saladas de frutas, mas não à vitamina batida. Ou seja: não devemos, nunca, renunciar à nossa essência para sermos “absorvidos” por outra pessoa. Não devemos fazer isso, muito menos pedir ao outro que faça.
A baixa autoestima e a insegurança devem ser tratadas . É preciso tratar as ideias irracionais, as desconfianças e os vazios que impedem o nosso crescimento, força psicológica e resolução emocional. É possível atingir isso através da terapia psicológica.
Não se deve exigir sacrifícios no amor, mas sim trabalhar com compromissos . Para isso, devemos ser corajosos, maduros e decididos. Vamos refletir sobre isso, pois, como diria Borges: o pior pecado de todos é ir embora deste mundo sem ter sido verdadeiramente feliz em algum momento .
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