Relaxamento: os benefícios mentais de desativar o corpo
Há dias que estamos tão “atolados” que só queremos chegar em casa e ler um bom livro, tomar um banho de espuma ou beber alguma coisa com os amigos. Fazemos isso com o intuito de relaxar e desconectar. Ao estar mais tranquilos, nos libertamos das preocupações e nos sentimos melhor, não é verdade?
Na sociedade atual, cheia de obrigações e tarefas por fazer, torna-se necessário dedicar um tempo para o nosso relaxamento. É muito bom poder se desconectar das formas que mencionamos acima, masAs situações que dissemos no início representam mais uma distração do que um método de relaxamento em si. Vamos ver o que isso realmente é!
O que é o relaxamento?
A primeira coisa que você tem que ter e mente é o que dissemos no início… dar um passeio, passar um tempo com os entes queridos, ver um filme, fazer umas palavras cruzadas, etc., não são técnicas de relaxamento. É verdade que, por norma geral, tudo isso nos ajuda a desconectar dos problemas e das preocupações que temos.
Isso ocorre porque tudo isso nos ajuda a focar a nossa atenção em outra coisa e a nos distraímos daquilo que nos causa ansiedade, mas não necessariamente nos relaxa. De certo modo, nos mantemos ativos nessas atividades, enquanto o objetivo do relaxamento é desativar fisiologicamente, ou seja, fazer com que o nosso corpo entre em um estado de descanso.
Assim, como indica Herbert Benson, o relaxamento é um estado físico de descanso profundo que produz mudanças na resposta emocional e fisiológica ao estresse em oposição à resposta de luta-fuga. Isso quer dizer que nos serve para diminuir a ativação produzida pelo processo de estresse ou por alguns estados, como a ansiedade. Para conseguir relaxar, temos que controlar a ativação corporal.
Por que o relaxamento nos ajuda a regular nossas emoções?
As emoções são as respostas que o nosso organismo gera quando ocorrem mudanças em torno de nós, para que possamos nos adaptar melhor a elas. Desta forma, as emoções se manifestam através de três sistemas:
- Fisiológico: se refere às sensações corporais que são produzidas com uma emoção. Inclui a alteração da frequência cardíaca, a variação do ritmo respiratório, etc.
- Subjetivo: inclui os pensamentos e tudo o que passa pela nossa cabeça quando uma emoção aparece.
- Motor: engloba desde a expressão facial até os movimentos do nosso corpo quando ocorre uma emoção. Ou seja, as condutas que realizamos.
Esses sistemas são complementares entre si. Isto é, as alterações em um deles vão produzir mudanças no outro, de forma que a emoção vá se regulando. Portanto, a desativação do sistema fisiológico vai levar à desativação tanto do sistema motor, quanto do subjetivo.
De forma geral, o aumento dos níveis de ativação do corpo é uma resposta útil para lidar com as demandas que vêm de fora. Ele nos ajuda a superar situações de grande exigência. Quando esta ativação aparece perante condições nas quais não há exigências externas reais ou de forma muito intensa, duradoura ou reiterada, produz efeitos prejudiciais para a nossa saúde.
O relaxamento, ao buscar o contrário, nos ajuda a lidar com a ansiedade. Também foi mostrado que ele é adequado para tratar a insônia, disfunções sexuais, a dor crônica, tiques… mostrando ser um recurso muito importante para controlar a tensão do dia a dia, prevenir transtornos e melhorar a qualidade de vida. Para isso, é necessário levar em conta as exigências da situação, juntamente com os aspectos cognitivos (nossos pensamentos) e comportamentais que provocam a ativação.
Foi demonstrado que, ao reduzir a ativação corporal, ocorrem benefícios sobre o sistema subjetivo. Aumenta a sensação de calma e tranquilidade, assim como de paz e de bem-estar. Nos ajuda a reorientar a atenção, a ter um maior autocontrole e a conhecer as sensações corporais associadas às diferentes emoções. Desta forma, somos capazes de regulá-las melhor e veremos como as respostas de ansiedade serão reduzidas aos poucos.
O que tenho que fazer para que o relaxamento seja efetivo?
Alguns de vocês poderão estar pensando: está bem, você me convenceu sobre os benefícios do relaxamento, mas eu tenho muitas dificuldades para relaxar, o que posso fazer? Em primeiro lugar, não se desespere! Existe alguém que seja capaz de correr 20 quilômetros sem treinamento prévio? Não, certo? É a mesma coisa com o relaxamento.
É necessário praticar, praticar e praticar todos os dias. Este é o fator mais determinante da eficácia do relaxamento. Mas não é só isso, é bom levarmos mais coisas em conta. A verdade é que “deixar a mente em branco” não é algo factível. Por isso temos que concentrar nossa atenção em um estímulo constante, como a nossa respiração.
Além disso, é necessário se deixar levar sem se preocupar com como você está indo. É muito importante, principalmente quando começamos a treinar o relaxamento, escolhermos o momento do dia e o lugar onde vamos praticar. É necessário evitar distrações e interrupções. Também é importante estarmos em uma posição confortável.
O objetivo de praticar o relaxamento é que o utilizemos em situações que nos gerem desconforto. Por exemplo, se notarmos que estamos nervosos no trabalho, a ideia é que possamos desativar e continuar com outra atividade. Isso é relevante. O objetivo de relaxar não é adormecermos, é apenas descansar e desconectar para realizarmos outra tarefa.
Para poder generalizar o treinamento, é necessário fazer isso de forma progressiva. Primeiro começaremos treinando em um ambiente tranquilo e silencioso. Assim que tivermos isso sob controle, devemos ir utilizando o relaxamento em situações que nos deixam cada vez mais nervosos. Começaremos por aquelas que não nos geram muita ansiedade e iremos aumentando o seu nível.
O relaxamento é, portanto, uma habilidade que podemos adquirir e melhorar. Assim que conseguirmos generalizar seu uso, seremos capazes de colocá-lo em prática em situações que nos deixam muito desconfortáveis. Assim, teremos um recurso que nos dá tranquilidade e que vai nos ajudar a lidar com situações desagradáveis que, de outra forma, evitaríamos. Por isso, vamos praticar!
Imagens cortesia de Ryan McGuire.