A resiliência também tem um lado ruim
A resiliência refere-se à capacidade de enfrentar, adaptar e recuperar de situações adversas, estressantes ou traumáticas. A resiliência pode se manifestar de maneiras diferentes em pessoas diferentes e, por isso, nem todas as pessoas resilientes têm a mesma aparência. Assim, é possível uma combinação de características e comportamentos que, por vezes, mostram o lado ruim da resiliência.
É importante ressaltar que a resiliência não é uma característica inata, mas pode ser desenvolvida e fortalecida ao longo do tempo. Praticar habilidades de enfrentamento saudáveis, autocuidado e buscar apoio são algumas das maneiras pelas quais as habilidades de enfrentamento podem ser promovidas e fortalecidas.
Por si só, esta força não é prejudicial, mas em certas circunstâncias ou quando se manifesta de forma inadequada, tem efeitos adversos. A seguir, explicamos o que podem ser.
Como é revelado o lado ruim da resiliência?
Apesar dessa capacidade de se manter forte, superar desafios e manter o equilíbrio emocional, mesmo diante de circunstâncias difíceis, a resiliência pode ter um lado sombrio em determinados cenários. Aqui estão algumas situações em que a resiliência se manifesta de forma negativa.
Negação de emoções
A resiliência geralmente se concentra em superar as dificuldades e seguir em frente. Às vezes, isso leva à supressão de emoções difíceis, que podem ter consequências adversas a longo prazo. Se as emoções não forem processadas adequadamente, elas se acumulam e podem causar problemas psicológicos no futuro.
Sobrecarga emocional
A resiliência permite que as pessoas sejam vistas como fortes e capazes; isso leva a que sejam confiadas responsabilidades adicionais e cargas emocionais. Se essas pessoas frequentemente enfrentam situações estressantes sem tempo para descansar e se recuperar, elas experimentam sobrecarga emocional, exaustão e, às vezes, desenvolvem problemas de saúde mental.
Falta de suporte
Os resilientes tendem a se sentir compelidos a serem autossuficientes e a não pedir ajuda. Embora seja importante ser capaz de lidar com os desafios por conta própria, a falta de apoio social e emocional é prejudicial. Isso também resulta em isolamento e dificulta a recuperação de situações adversas.
Persistência em situações prejudiciais
A resiliência mobiliza a persistência obstinada em situações nocivas ou tóxicas. Algumas pessoas resilientes têm dificuldade em saber quando se afastar de um relacionamento, trabalho ou ambiente prejudicial. Elas continuam lutando e se adaptando, apesar dos sinais de alerta, o que prolonga seu sofrimento.
É preciso ressaltar que embora as situações anteriores mostrem que a resiliência tem seu lado obscuro, elas não são inerentes à qualidade em si, mas decorrem de como ela se manifesta e utiliza em determinadas circunstâncias.
Nesse contexto, um estudo publicado na revista PLoS ONE, que trata da relação entre exaustão e resiliência, detalhou que, em alguns participantes, a resiliência atuou como um mecanismo para minimizar os sinais de estresse e exaustão, levando a uma deterioração da saúde mental.
Como evitar que a resiliência se torne prejudicial?
Lembremo-nos de que a resiliência saudável envolve reconhecer e processar emoções e adaptar-se com flexibilidade a situações difíceis, ao mesmo tempo em que estabelece limites apropriados e busca apoio.
Da mesma forma, como aponta um estudo publicado na revista Contemporary Nurse, devemos ter em mente que a resiliência parece ser um processo que se desenvolve em vários momentos da vida, o que implicaria que não é algo inerente à personalidade.
Nesse sentido, seguem algumas dicas para evitar que a resiliência seja negativa.
Reconheça e valide suas emoções
Não reprima suas emoções, permita-se senti-las e processá-las adequadamente. Reconheça que é normal experimentar uma variedade de emoções em situações difíceis e procure maneiras saudáveis de expressá-las e gerenciá-las.
Praticar o autocuidado
Priorize seu bem-estar físico, mental e emocional. Reserve um tempo regularmente para cuidar de si mesmo, descansar, relaxar e participar de atividades que lhe tragam alegria e contribuam para aliviar o estresse. Manter um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Estabelecer limites
Aprenda a estabelecer limites saudáveis e diga “não” quando necessário. Reconheça suas capacidades e não se sobrecarregue com responsabilidades e exigências excessivas. Aprenda a delegar tarefas e peça ajuda se precisar. Esses limites são físicos, emocionais ou psicológicos.
Procure apoio social
Não tenha medo de pedir ajuda e buscar apoio emocional. Construir e nutrir relacionamentos de apoio com amigos, familiares ou profissionais de confiança. Compartilhar suas preocupações e desafios com outras pessoas oferece uma perspectiva diferente e recursos adicionais.
Pratique habilidades de enfrentamento saudáveis
Para evitar o lado ruim da resiliência, desenvolva e use estratégias de enfrentamento positivas e eficazes. Isso inclui prática de atenção plena, meditação, exercícios regulares, escrita terapêutica ou qualquer outra técnica que ajude a reduzir o estresse e promover a saúde mental.
Aprenda a reconhecer seus limites
Reconhece quando é necessário buscar ajuda profissional, como terapia ou aconselhamento, para enfrentar situações difíceis ou superar traumas do passado. Um profissional fornece ferramentas e suporte adicional para lidar melhor com as dificuldades.
A resiliência é diferente para cada pessoa
A resiliência pode se manifestar de maneiras diferentes em pessoas diferentes. E nem todas as pessoas resilientes terão a mesma aparência. Cada indivíduo tem sua própria combinação única de características e comportamentos resilientes.
A resiliência saudável envolve um equilíbrio entre a capacidade de lidar e se adaptar e cuidar do seu bem-estar emocional e mental. Ouça suas necessidades, seja gentil consigo mesmo e encontre o suporte certo quando precisar.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Bonanno, G. A., & Diminich, E. D. (2013). Annual Research Review: Positive adjustment to adversity–trajectories of minimal-impact resilience and emergent resilience. Journal of child psychology and psychiatry, and allied disciplines, 54(4), 378–401. Recuperado de: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23215790/
- Chen, D., Wu, J., Yao, Z., Lei, K., Luo, Y., & Li, Z. (2018). Negative association between resilience and event-related potentials evoked by negative emotion. Scientific reports, 8(1), 7149. Recuperado de: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29740037/
- Gillespie, B. M., Chaboyer, W., & Wallis, M. (2007). Development of a theoretically derived model of resilience through concept analysis. Contemporary nurse, 25(1-2), 124–135. Recuperado de: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17622996/
- Litz B. T. (2005). Has resilience to severe trauma been underestimated?. The American psychologist, 60(3), 262–267. Recuperado de: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15796686/
- Treglow, L., Palaiou, K., Zarola, A., Furnham, A. (2016). The Dark Side of Resilience and Burnout: A Moderation-Mediation Model. PLoS ONE, 11(6):
e0156279. Recuperado de: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0156279