O que se esconde por trás do hábito de fumar?

O que se esconde por trás do hábito de fumar?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 25 setembro, 2017

Fumar não é exatamente um prazer para os sentidos. Na primeira vez que uma pessoa se expõe ao cigarro, o mais comum é que não tenha uma experiência agradável. O tabaco tem um cheiro forte que incomoda. Quando se traga, há ardência e sensação de estar sufocando. Ainda assim, muitas pessoas ficam viciadas, desenvolvem o hábito de fumar e, no futuro, têm muita dificuldade para largá-lo.

A nicotina é a substância responsável pelo vício em cigarros. Esse composto é um alcaloide que provoca dependência. Depois de inalada, a nicotina leva aproximadamente 10 segundos para chegar ao cérebro. Lá, ela estimula a produção de dopamina, mas a longo prazo passa a provocar a liberação de uma quantidade cada vez menor, que sacia menos. Portanto, cada vez mais a pessoa sente necessidade de doses maiores para que a nicotina produza os mesmos efeitos de antes.

“Um cigarro define o fumante, como o poema define o poeta.”
-Richard Klein-

Diferentemente de outras drogas, a nicotina não provoca mudanças radicais no comportamento. Mesmo assim, muitos estudos estabeleceram que o vício do cigarro também influencia em poderosos fatores psicológicos. Esse hábito é considerado um “reforço comportamental” mais que uma dependência exclusivamente física.

As razões pelas quais desenvolvemos o hábito de fumar

É muito comum que as pessoas comecem a fumar na adolescência. Esse fato tem suas razões. Tanto o tabaco quanto o álcool são dois psicoativos legais, de fácil aquisição e relativamente baratos. Trata-se de um hábito comumente proibido por pais e professores. São exatamente esses fatores que atraem os jovens.

O que se esconde por trás do hábito de fumar?

Em um estudo realizado pela Scientific Psychic, descobriu-se que estas são as principais razões pelas quais as pessoas começam a fumar:

  • Para desafiar o mundo adulto ou ambientes restritivos.
  • Para se adaptar a um círculo social.
  • Para demonstrar que não é mais criança.
  • Para reafirmar a independência.
  • Para imitar pessoas que fumam e são admiradas.
  • Para perder peso.

Em resumo, há um forte componente psicossocial no ato de fumar. O mais comum é que os adolescentes fumem na presença de outras pessoas e que não mantenham esse hábito quando estão sozinhos. Muitos desses jovens abandonam o cigarro, mas também há outro grupo que fica preso nas redes da nicotina.

Puxar, inspirar e expirar

Também estão envolvidos vários aspectos inconscientes no ato de fumar. Na psicanálise, fala-se sobre o vício do cigarro como a expressão de um sintoma oral. Representaria uma regressão à fase infantil da vida.

Figura feminina com lábios vermelhos fumando

Estudiosos do tema, como Coderch, indicam que é um hábito característico de pessoas com mãe superprotetoras que acalmavam a criança agradando oralmente. Em outras palavras, acalmavam sua ansiedade dando algo para comer, uma ação agradável para os pequenos.

Muitas pessoas dizem que sentem vontade de fumar quando estão angustiadas. Segundo elas, o cigarro as tranquiliza. Alguns autores sugerem que ao puxar a fumaça, literalmente, o que as pessoas fazem é tragar suas aspirações. Nesse sentido, fumar seria uma resposta à frustração. Simbolicamente contribui para inibir desejos.

Nessa mesma linha, afirmou-se que o que se busca com o hábito de fumar, simbolicamente, é inspiração. A falta de ideias, ou de recursos, para solucionar uma situação inconscientemente leva ao ato de fumar. É um ato que representa o desejo de se inspirar, sem, entretanto, obter sucesso.

O que queima e logo se transforma em cinzas

Para muitas culturas ancestrais, o tabaco é uma planta sagrada. Intuitivamente, essas culturas sabiam que o tabaco é um elemento que exerce efeitos positivos no cérebro. Foi comprovado que estimula a memória, aumenta a velocidade do pensamento e estabiliza o estado de espírito.

O que se esconde por trás do hábito de fumar?

A diferença dessas culturas em relação à nossa é que nelas nenhuma substância psicoativa estava inserida na lógica consumista. Há momentos e lugares para o tabaco, assim como há para a folha de coca e para outras plantas semelhantes. É comum que elas façam parte de rituais coletivos e bem definidos. Nessas culturas, o usos dessas plantas tem como objetivo tornar as pessoas mais sábias. Por outro lado, nas sociedades ocidentais atuais, as pessoas se tornam mais burras quando as consomem.

Uma antiga máxima diz que “onde há fumaça, há fogo”. Isso pode ser aplicado às pessoas que têm o hábito de fumar. Elas vivem incorporando e se desfazendo da fumaça, ao passo em que o tabaco queima e se torna cinzas.

As pessoas viciadas no ato de fumar carregam algo que queima dentro de si. A resposta é colocar para fora, na figura de um cigarro, e deixar que se consuma. Uma coisa é certa: está comprovado que quando as motivações psicológicas para fumar desaparecem, o vício de nicotina é vencido com relativa facilidade. Precisamos pensar nisso.

Imagens cortesia de Eloïse Heritier

 


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