Ser pessimista também tem suas vantagens

Ser pessimista também tem suas vantagens
María Vélez

Escrito e verificado por a psicóloga María Vélez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

“Se você realmente acredita que algo bom vai acontecer com você, isso vai acabar acontecendo”. Quantas vezes você já ouviu algo semelhante? Em nosso dia a dia, nunca faltam vozes que saiam em defesa do pensamento positivo e do (inegável) vínculo entre otimismo e bem-estar. Mas, e se também fosse saudável e útil deixar uma margem para ser pessimista? E se ser capaz de ver o lado ruim das coisas também tivesse, por mais contraditório que possa parecer, seu lado bom?

Devemos esclarecer, antes de nos aprofundarmos no assunto, que ser pessimista não é o mesmo que estar deprimido ou ser uma pessoa tóxica. O pessimismo, estritamente falando, relaciona-se apenas com a nossa maneira de calcular e gerenciar nossas expectativas em relação ao sucesso.

Chamamos de “pessimismo defensivo” a estratégia adotada por algumas pessoas propensas à ansiedade com o objetivo de serem mais produtivas em sua vida pessoal e profissional. Consiste, essencialmente, em reduzir suas expectativas futuras, a fim de ter em mente todas as coisas que poderiam dar errado e, assim, se preparar para o pior, em alguns casos, permitindo se antecipar.

Assim, “colocar-se no pior” não apenas evita que fiquemos paralisados ​​pela possibilidade de fracassar, mas também nos permite usar o pessimismo como uma forma de alcançar nossos objetivos. Podemos ver dessa forma: somente o rei que admitir a possibilidade de ser atacado poderá utilizar o tempo de paz para planejar defesas que protejam seu reino de possíveis ataques futuros.

Em suma, ser um pessimista defensivo sustenta nossa resiliência: “ser otimista” favorece uma atitude despreocupada em relação aos perigos, o que nos deixa indefesos em situações de risco e estresse, quando as mesmas surgem.

Ser pessimista, bom para a autoestima e a saúde?

Ser pessimista, bom para a autoestima e a saúde?

Um estudo de 2008 que seguiu a trajetória de um grupo de estudantes durante seus anos de faculdade concluiu que aqueles que se encaixavam no perfil de “pessimistas defensivos” experimentaram níveis significativamente mais altos de autoestima em comparação aos outros estudantes propensos à ansiedade.

De fato, sua autoestima aumentou quase no mesmo nível que a dos otimistas durante os quatros anos de estudos, graças à sua capacidade de antecipar (e assim evitar) os piores cenários que eles poderiam imaginar.

Frieder R. Lang, PhD da Universidade de Erlangen-Nuremberg, realizou uma pesquisa com pessoas mais velhas, avaliando a associação entre otimismo/pessimismo e o risco de invalidez ou morte ao longo de uma década, entre os participantes de um relevante estudo sobre a situação das famílias alemãs: “Nossos resultados revelaram que ser excessivamente otimista na previsão de um futuro melhor se associou a um maior risco de invalidez e morte”.

Como afirma Fuschia Sioris, psicóloga da saúde da Universidade de Sheffield, “quando os pessimistas ficam doentes cronicamente, sua visão negativa do futuro pode ser mais realista e incentivar o tipo de comportamento que os profissionais da saúde recomendam para controlar sua doença”.

Além disso, ela acrescenta, “os pessimistas preveem que sua saúde piorará no futuro; adotar esse ponto de vista pode levar os pessimistas a adotarem estratégias que lhes permitam lidar mais eficazmente com a dor”. Mas, obviamente, nem tudo pode ser obscuro: “Dito isso, os benefícios [dessa atitude] aparecem quando há pelo menos algum grau de otimismo quanto à possibilidade de sucesso de tais estratégias”.

Ser pessimista, uma fonte de serenidade e satisfação?

Ser pessimista, uma fonte de serenidade e satisfação?

Alguns pensadores de destaque não só defendem o pessimismo defensivo, mas se atrevem a defender o pessimismo generalizado, ou seja, a suposição de que “desde o início e justificadamente as coisas tendem a ir mal em quase todas as áreas da existência“, como expressa o filósofo Alain de Botton (A arquitetura da felicidade).

Mas ele não acredita que isso repercuta negativamente sobre o caráter ou a vida do pessimista. De fato, ele afirma que, muitas vezes, não é ser pessimista o que nos leva à amargura e à raiva, e sim a esperança insatisfeita sobre o nosso trabalho, nossa família ou a política.

“Nossa satisfação nesta vida depende em grande parte das nossas expectativas. Quanto maiores nossas esperanças, maiores serão os riscos de raiva, amargura, decepção e perseguição. […] Assim, e por mais estranho que pareça, o pessimismo é uma das maiores fontes de serenidade e satisfação humana”.


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