O que é a síndrome cognitiva atencional?

O que é a síndrome cognitiva atencional?
Laura Reguera

Escrito e verificado por a psicóloga Laura Reguera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O que costumamos fazer quando algo nos provoca um mal-estar emocional? Depende da pessoa. Existem algumas que tentam praticar estratégias ativas de regulação emocional, mas também outras que praticam um padrão de pensamento inconveniente. Se algo as preocupa, aborrece ou entristece, permanece nas suas mentes e não deixam de pensar nisso repetidamente.

Isso nos ajuda a fazer com que essas emoções negativas desapareçam? Muito pelo contrário. Desta forma, aquilo que gera mal-estar fica presente e não vai embora da nossa cabeça, o que nos leva a entrar em uma espiral na qual nos sentimos cada vez pior. O problema é que nem sempre somos conscientes de como entramos neste círculo vicioso inútil. E, se somos conscientes, não sabemos como pará-lo.

“Nem o seu pior inimigo pode lhe fazer tanto mal quanto os seus próprios pensamentos”.
– Buda –

No que consiste a síndrome cognitiva atencional?

A psicologia cognitiva defende que a forma como processamos a informação e os pensamentos que temos a respeito das situações são as que determinam a nossa experiência emocional. Ou seja, o tratamento que fazemos de nossos pensamentos “emocionais” influi de forma notável em nosso mal-estar. Existem diversas formas, mais ou menos efetivas, de controlar esta experiência interior.

Mulher desesperada

Assim, uma pessoa que tenta flexibilizar os pensamentos e buscar soluções para aquilo que a preocupa ou entristece não vai se sentir da mesma forma que aquela que fica presa a estas ideias e emoções negativas e pensa nelas repetidamente sem ter, na verdade, nenhum objetivo. Este último exemplo corresponde ao que acontece com as pessoas que têm a síndrome cognitiva atencional.

Na síndrome cognitiva atencional aparece um padrão de pensamento que nos faz manter tanto as emoções quanto as ideias negativas que aparecem na nossa cabeça. Por quê? Porque acontece uma série de processos metacognitivos que fazem com que este círculo vicioso não varie e se transforme em algo crônico.

“Não existe nada bom nem mau; é o pensamento humano o que o faz parecer assim”.
– William Shakespeare –

Como é o processamento cognitivo na síndrome cognitiva atencional?

A síndrome cognitiva atencional se caracteriza por praticarmos um padrão de pensamento que inclui estratégias de ruminação, de preocupação, de atenção fixa e de enfrentamento negativo. Vejamos esse processo com mais detalhes.

Em primeiro lugar, nossos lapsos de atenção estão fixados naqueles estímulos ou situações que nos proporcionam mal-estar. Ao estar a nossa atenção mais “alerta” diante daqueles eventos negativos para nós, ela provoca que a sua distinção seja maior que a dos eventos positivos (apesar deles também acontecerem). Ou seja, um evento tem que ser muito mais positivo em grau do que um negativo, para que nós o consideremos e apreciemos na hora de responder à pergunta “como vai você?”.

Além disso, ficamos pensando diversas vezes a respeito do assunto, sem poder tirar a atenção destes pensamentos negativos e destas preocupações. Por último, o processo se torna perpétuo pela falta de estratégias de controle emocional adaptativas.

“O pior que pode acontecer a um homem é chegar a pensar mal de si mesmo”.
– Goethe –

Quais consequências a síndrome cognitiva atencional pode ter?

Este mastigar inútil dos pensamentos negativos provoca o aparecimento de problemas de depressão e ansiedade. Com respeito à depressão, a síndrome cognitiva atencional prevê a perpetuação do trio cognitivo negativo (os pensamentos negativos sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o futuro), própria deste transtorno. Desta maneira, as pessoas com depressão se questionam com “por que eu me sinto assim?”, ao que respondem fazendo atribuições que as envolvem de forma negativa e não circunstancial (por exemplo, “Existe um defeito em mim” em vez de “Me sinto assim porque estou passando por um momento de muito estresse”).

Mulher triste

Este processo se repete continuamente, de forma a se tornar cada vez mais automático, e isso dificulta que as mudanças positivas que acontecem “apoiem” essa pessoa, que também demora muito para perceber. Por outro lado, nos problemas de ansiedade acontece um lapso de atenção sobre os possíveis perigos que possam ocorrer. Este “monitoramento de ameaças” se manifesta através de pensamentos recorrentes do tipo “e se acontecer isso?”.

O problema é que não podemos pensar tanto para procurar uma solução e colocar isso em prática, caso o perigo realmente aconteça. Ao contrário, a pessoa fica pensando demais nessa possibilidade de que algo ruim vai acontecer. Assim, a ansiedade aumenta e uma possível intervenção se complica. Além de tudo, isso a leva a evitar as situações onde esse perigo pode chegar a acontecer.

Assim, é muito difícil que a pessoa consiga ter experiências realistas que contrariem os pensamentos infundados dessa ameaça. Definitivamente, a síndrome cognitiva atencional atrapalha a difícil tarefa de flexibilizar os pensamentos quando algo nos provoca mal-estar, portanto, é importante sermos conscientes disso para poder controlar este transtorno e recuperar o bem-estar.

As imagens são cortesia de Tiago Bandeira, Alex Iby e Callie Gibson.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.