Síndrome de abuso infantil e impulsividade, como estão relacionados?

Aqueles que abusam de menores tendem a ter altos níveis de impulsividade. E descobriu-se que tal impulsividade está especialmente ligada ao abuso infantil mais violento.
Síndrome de abuso infantil e impulsividade, como estão relacionados?
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 10 abril, 2023

A síndrome do abuso infantil engloba uma série de sintomas que surgem na criança quando ela é vítima de comportamento violento; via de regra, perpetrado por pessoas importantes para ela. Estamos a falar de um quadro multifatorial e multicultural, sendo um dos grandes desafios que enfrentamos enquanto sociedade, uma vez que a violência ou negligência exercida na infância costuma ser escondida, negada e esquecida.

Por outro lado, os abusadores tendem a ser sujeitos com altos níveis de impulsividade. Dessa forma, diante de pequenas provocações, reagem com as piores e mais violentas respostas possíveis. Em decorrência do abuso, a mente da criança fica deformada, estragada e empobrecida, projetando um futuro sem esperança. Mas antes de nos aprofundarmos na síndrome, vamos rever o que diz respeito à impulsividade.

“A impulsividade é como uma droga: quanto mais você usa, mais precisa dela para obter o mesmo efeito.”

-Roy Baumeister-

O que é impulsividade?

A “impulsividade” foi definida a partir de diferentes perspectivas. Segundo a revisão da psicóloga Cristina Arias (Arias et al., 2021), isso corresponde à ‘reação a um estímulo, realizada sem planejamento’.

Consequentemente, a pessoa não leva em consideração as repercussões ou o impacto de sua forma de responder. Além disso, os comportamentos que gravitam para a impulsividade costumam ter vida curta, com consequências potencialmente desagradáveis.

“A impulsividade é a incapacidade de resistir a um impulso, emoção ou tentação, mesmo quando sabemos que é prejudicial.”

-John Ratey-

Pai com cinto na mão maltrata menina
Pessoas impulsivas não consideram o impacto de suas ações, mesmo aquelas relacionadas ao abuso infantil.

Urgência negativa, o ponto de partida da impulsividade

A percepção de “urgência” é o motor, incombustível e aparentemente indomável, que desencadeia o comportamento impulsivo ou precipitado. A urgência, nesse contexto, reveste-se de emoções negativas (como angústia, irritabilidade ou fúria) e precipita reações comportamentais que no campo do abuso infantil podem ser devastadoras, desesperadoras e até fatais.

A impulsividade poderia ser concebida, portanto, como a ausência da capacidade de inibir uma resposta ou reação decorrente de um impulso. Vamos explicá-lo com o caso de Andrés, de 24 anos, que assinala que, quando caminha por Madrid e vê uma bela peça de roupa, não consegue conter o impulso de comprá-la, apesar de a sua conta bancária estar em negativo.

Andrés não consegue conter o impulso e, sem pensar nas consequências (no caso a dívida), compra. Ele sucumbiu à “percepção de urgência”.

“A urgência negativa pode fazer você sentir que não tem escolha, mas sempre há uma escolha.”

-Judith Orloff-

Síndrome do abuso infantil: entre a vida e a morte

Em decorrência das atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, o termo “síndrome do lactente maltratado” foi cunhado pelos profissionais de saúde da época (especialistas em pediatria e radiologia, principalmente), em decorrência dos casos angustiantes que recebiam.

Durante as décadas após o evento de guerra, foi amplamente utilizado para descrever eventos em que cuidadores abusavam fisicamente de menores.

Ao incluir outras formas de violência (por exemplo, violência psicológica), o nome da síndrome foi alterado, dando origem ao que hoje conhecemos como “síndrome do abuso infantil” (Tsranchev et al., 2022). Embora as características sejam claras, suas manifestações são múltiplas, tanto no nível físico (fraturas, hematomas, mordidas) quanto no nível psicológico (estresse pós-traumático, problemas de linguagem ou distúrbios de personalidade).

“O abuso infantil é uma forma de violência que deixa cicatrizes invisíveis nas mentes e corações das crianças.”

-Alice Miller-

Mão de uma criança pedindo para parar o abuso infantil
As consequências do abuso infantil variam de distúrbios de personalidade a resultados fatais.

Abuso infantil: uma forma potencialmente mortal de violência

Segundo pesquisa publicada na Folia Médica, o pior resultado do abuso infantil é a morte da criança. É nestes casos particulares de violência infantil homicida, em que a impulsividade desempenha um papel ainda mais importante (Tsranchev et al., 2022). Felizmente, eles são menos frequentes do que outras formas de abuso.

As pessoas que vêm a cometer estas atrocidades caracterizam-se por exercer o abuso com uma fúria particularmente explosiva e voraz, em que a impulsividade desempenha um papel preponderante. Existem vários comportamentos que elas realizam. Segundo o Dr. Ivan Tsranchev, do Departamento de Medicina Legal da Universidade Búlgara de Plovdiv, podemos encontrar o seguinte:

  • Jogar o menor contra qualquer superfície compacta.
  • Múltiplos impactos no corpo da criança, em um curto período.
  • Aceleração ou desaceleração rápida, repetida e repentina do seu corpo.

A síndrome do abuso infantil prevalece na arena pública. Suas consequências são perturbadoras, infelizes e dolorosas. Se a criança sobreviver, ela pode enfrentar consequências tão graves quanto transtorno de estresse pós-traumático ou transtorno de personalidade limítrofe.

Como observamos, a impulsividade desempenha um papel fundamental nos comportamentos abusivos. Diante de estímulos triviais ou menores, o adulto reage sem levar em conta as repercussões de seu comportamento. Consequências que têm o potencial de desencadear um inferno ardente que acaba com o futuro da criança.

“O abuso infantil é muitas vezes o resultado de comportamento violento impulsivo com provocação mínima, o que pode ser fatal.”

-Ivan Tsranchev-


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