Síndrome do cuidador: o dano colateral de ajudar

Síndrome do cuidador: o dano colateral de ajudar
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Como seria ter um trabalho que ocupa as 24 horas do nosso dia? Este é o caso de muitos adultos que se veem obrigados a desempenhar o papel de cuidadores de outra pessoa que se encontra em uma situação de dependência. Mas cuidado, porque este novo papel, sob certas circunstâncias, pode dar origem ao que é conhecido como a síndrome do cuidador.

A constante atenção que a pessoa saudável deve prestar à dependente pode gerar episódios de estresse de intensidade diferente. Este é um dos principais pilares desta síndrome, um dano colateral da prestação de ajuda em uma base contínua.

É um transtorno que, embora ainda seja pouco conhecido, apresenta diversos sintomas e consequências muito graves, tanto física quanto psicologicamente. Seu quadro clínico é parecido ao da síndrome do burnout ou do estresse ocupacional. A síndrome análoga em trabalhadores do setor de saúde é chamada de fadiga por compaixão.

Cuidador – Dependente

Essas pessoas tendem a ser responsáveis por outras que precisam de ajuda constante. Acima de tudo, aparece em adultos que precisam cuidar de pessoas com algum grau de alteração neurológica ou psiquiátrica. Pacientes com Alzheimer avançado, por exemplo, exigem essa dedicação e supervisão contínua.

Portanto, uma das principais características da síndrome do cuidador é o esgotamento no âmbito mental e físico dessas pessoas. Seu esgotamento é tão grande que suas capacidades físicas, psicológicas e sociais são fortemente afetadas. Além disso, se o cuidador e o cuidado conviverem debaixo do mesmo teto, o desgaste gerado é mais rápido e maior, já que se torna muito mais complicado não transformar a atividade de cuidar no centro da própria vida.

Cuidar das pessoas idosas

Papel imposto

Em termos gerais, uma pessoa não se transforma em cuidador de forma voluntária. Assim, na grande maioria dos casos, esse papel costuma vir imposto ou designado pelas diferentes circunstâncias de cada pessoa ou família. Por isso, esses adultos de repente se veem com um trabalho extra que surge de forma repentina e totalmente inesperada.

Algumas pessoas estão muito preparadas para enfrentar esta nova situação e assumem esse novo papel com bastante naturalidade. Outras não dispõem de tantos recursos e ficam imersas, desde o início, em um desafio que consideram inacessível, sentindo-se oprimidas. Elas veem seu novo papel como uma dificuldade insuportável e muito onerosa, como uma cruz potencialmente exaustiva. Em ambos os casos, o dependente se torna o centro de sua nova vida e passa a consumir a maior parte de seu tempo e energia.

Cuidar de alguém ser ter descanso, ou sem o descanso necessário, é um processo de desgaste. Mas é ainda mais complicado se envolver o abandono de si mesmo. O normal é que, no processo, o cuidador vá assumindo gradualmente as novas tarefas que lhe foram atribuídas. Assim, é preciso criar uma nova rotina na qual a prioridade se torna a pessoa dependente. Gradualmente, ela deixa de ter tempo para si mesma, relega sua independência e se abandona.

Tempo livre

Em seu tempo livre, a pessoa renuncia aos poucos aos seus hobbies. Ela diminui o tempo que dedica às suas atividades de ócio e a conservar seus relacionamentos familiares. Além disso, ela vai fechando seu círculo de amizades ao passar cada vez menos tempo com os amigos. Assim, pode chegar a se isolar por completo do mundo exterior.

Mulher cuidado de sua avó

Família

Nos relacionamentos familiares costumam surgir novos conflitos devido à adesão de um novo membro na família nuclear. A irascibilidade parece ser generalizada para todos os habitantes da casa, e as discussões aumentam. Também começa uma nova distribuição de tarefas que geralmente não satisfaz a todos por igual.

Trabalho

Em relação ao trabalho, pode haver um aumento do absenteísmo, abandono de funções ou mesmo abandono do emprego. A situação financeira, portanto, pode ficar comprometida. Isso aumenta exponencialmente o nível de sobrecarga física e mental, já acumulado em si pela nova situação do cuidador.

Longe de diminuir, essa pressão e a luta contínuas vão aumentando dia após dia. Por isso, à medida que se prolonga no tempo, é mais difícil para o cuidador lidar com esse papel adquirido com frescor, entusiasmo e prazer. Começa a sentir cansaço crônico, insônia, além de mudanças no humor. Isso dá origem a sentimentos profundos de tristeza, ansiedade e preocupação constantes.

Em geral, essas mudanças que ocorrem na vida do cuidador são variadas e podem afetar tanto a curto, quanto a médio e a longo prazo.

Por se prolongar… aparece a síndrome do cuidador

No momento em que o cuidador some em uma rotina à qual não presta mais atenção, começam a surgir o estresse, a angústia, a fadiga e o esgotamento. Este, portanto, é o terreno fértil para o surgimento da síndrome do cuidador. Além disso, aumenta a sua irritabilidade e impaciência. Também causa desmotivação, angústia, irascibilidade e até mesmo violência.

Como consequência, pode gerar uma série de atitudes e sentimentos negativos dirigidos à pessoa dependente. O cuidador pode sentir-se rejeitado em relação a ele, o que torna essencial que esteja ciente de que deve se proteger. Por tudo isso, vemos como é importante prevenir o aparecimento da síndrome do cuidador. Não só porque afeta negativamente o cuidador, mas também porque pode diminuir a qualidade de vida da pessoa dependente. Portanto, essa alteração tem um duplo efeito que deve ser remediado, desde a consulta com um profissional até a busca de apoio nas tarefas de cuidado.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.