Star Wars: a busca pelo equilibrio

Star Wars: a busca pelo equilibrio
Leah Padalino

Escrito e verificado por Crítica de Cinema Leah Padalino.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

Certamente, quando o primeiro filme de Star Wars foi lançado, ninguém imaginou o que ele realmente significaria para a história do cinema, ou que em pleno 2018 essa saga continuaria cativando novos seguidores, conquistando novas gerações de fãs e colhendo sucessos. Star Wars conta hoje com legiões de fãs de todas as idades e de todos os lugares do planeta.

Star Wars marcou um antes e um depois na história do cinema, mudou tudo. Embora classificá-lo como a melhor saga na história do cinema dependa de gostos, o que podemos dizer é que a maneira de compreendê-lo mudou. Por outro lado, se decidirmos fazer uma revisão de toda a saga, perceberemos imediatamente a quantidade de erros de continuidade que são vistos nela. Erros que perdoamos e entendemos como resultado da passagem do tempo e porque a ideia original não era tão longa quanto o resultado final.

Star Wars marcou a ascensão do cinema de massas, da ficção científica, da implementação de efeitos especiais em um momento em que as técnicas eram ainda muito rudimentares. Até mesmo o diretor Brian de Palma o comparou com junk food e o fato é que, em parte, ele poderia ter razão. Mas isso não impede que nos encante, nos fascine e nos arraste ao cinema mais próximo cada vez que aparece um novo episódio. Além disso, Star Wars trouxe verdadeiras lições de marketing, transformando o ato de ir ao cinema em um evento social e de massas; para não mencionar o universo que criou, que vai muito além dos limites da tela: romances, quadrinhos, jogos, séries, etc.

Star Wars é o início do cinema moderno, de uma nova era. Mas, além de toda a contribuição para a história do cinema, ele também nos traz importantes lições de filosofia, e é disso que vamos falar neste artigo. Não falaremos sobre um determinado filme ou sobre uma das trilogias, não focaremos alguns personagens, tramas ou cenários, mas queremos analisar, mesmo que seja um pouco, o contexto da saga, a filosofia sobre a qual foi construída.

Cena de Star Wars

A Força

O que é Força? Esta é a primeira coisa que devemos pensar para entendermos este contexto. A Força é definida como um campo de energia onipresente que liga todos os seres da galáxia. Essa ideia de uma energia que conecta tudo, de uma entidade ou poder onipresente que governa o mundo, pode não parecer muito inovadora e realmente não é. Desde o início da humanidade, o homem tenta dar uma explicação para a criação do mundo e tudo o que acontece nele: por que as plantas crescem, por que chove ou por que existimos são algumas questões que estão sempre em discussão.

Para dar uma explicação para o mundo, as religiões, a filosofia e a ciência criaram muitos mitos. Assim como no mundo real, esta ficção deveria ser plausível e, portanto, tinha que dar uma explicação verdadeira para este mundo que nos apresentava. Mais filosófica e espiritual na sua trilogia original e mais científica na trilogia prequel: a explicação reside na Força.

Essa definição de Força é muito semelhante a algumas das explicações dadas pelos filósofos pré-socráticos, mas também pela filosofia budista, por Platão ou pelo estoicismo. Esses filósofos gregos precisavam buscar um princípio, uma origem ou fonte, algo que pudesse explicar a vida, o universo.

“Minha aliada é a Força, e ela é uma poderosa aliada. Cria a vida e a faz crescer. Ela é a energia que nos cerca e nos conecta. Nós somos seres luminosos e não essa rude matéria”.

Mestre Yoda

Dessa maneira, surge a ideia do arché como o princípio e a fonte de tudo. Para alguns filósofos como Thales de Mileto, esse arché é a água; para outros como Aristóteles, o arché não precisa de nada para existir, é algo que não podemos perceber, mas cria o todo. Neste ponto, poderíamos dizer que a Força é o arché deste universo de ficção científica.

Além disso, há indivíduos mais sensíveis do que outros, indivíduos capazes de perceber essa força e de se conectar com ela de uma maneira muito espiritual. Dessa forma, surge a Ordem Jedi, uma corrente ideológica ou religiosa seguida por indivíduos cuja sensibilidade à Força é muito forte. A vida desses Jedi vai girar em torno da descoberta e do conhecimento da força, da busca pela paz e harmonia de todos os seres. É um caminho totalmente espiritual que, ao mesmo tempo, nos lembra algumas correntes filosóficas, mas também algumas ordens religiosas.

A força é a base desse mundo fictício, o princípio da unificação, o arché. Mas a Força não é só isso, vai mais além: os Jedi devem viver em harmonia com a Força e adquirir o conhecimento. No entanto, esta Força também tem um reverso escuro, um lado sinistro que pode ser muito tentador.

Star Wars

O bem e o mal em Star Wars

Ao longo da história da filosofia, vimos uma infinidade de teorias e argumentos que falam de superar as tentações e de como alcançar o bem. A mesma coisa acontece nas religiões e também em Star Wars. A força tem dois lados: um escuro e o outro luminoso, ambos estão aí. O yin e o yang, o bem e o mal, o céu e o inferno, a razão versus a paixão, luz e escuridão, opostos que não podem existir sem o outro, uma dualidade eterna.

Os Jedi seguirão o caminho do lado luminoso e deverão buscar a tranquilidade, a estabilidade ou, como diriam os gregos, a ataraxia. Em contraposição, os Sith serão levados pelo lado negro da Força. O lado escuro é definido como a parte da força ligada ao medo e ao ódio. Podemos associar a ataraxia Jedi à filosofia estoica, que se afasta do prazer e das paixões em busca do conhecimento, mas aceita tudo como é e como está.

“O medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio, o ódio leva ao sofrimento e o sofrimento para o lado sombrio”.

Darth Vader

A ética estoica nos leva a um estado de aceitação. Nós não temos controle sobre o que acontece e não podemos mudar nada, portanto, aceitamos tudo com tranquilidade. Os Jedi agem de forma semelhante, embora não seja fácil. Como aceitar a morte de um ente querido sem nos perturbarmos? Isso é algo que afetará profundamente alguns personagens, como Anakin Skywalker que, vencido pelo medo, cairá no lado sombrio.

O mal pode ser muito tentador e ainda mais quando há sofrimento; algo que o Mestre Yoda define muito bem. Ele é uma espécie de Platão deste universo que, com a sua forma peculiar de falar, nos faz refletir cada vez que emite uma frase. Superar tentações, buscar o equilíbrio, alcançar o bem… Tudo isso pode parecer muito aristotélico, mas também podemos vinculá-lo a algumas religiões como o cristianismo.

Os Sith se deixam levar pelas paixões, rompem com o platonismo. Mas tudo isso é realmente o mal? Parece que o bem pode ser mais um ponto de vista, como vemos no personagem de Anakin/Darth Vader e a sua conversão para o lado sombrio: um personagem que, como diria Nietzsche, vai além do bem e do mal.

Star Wars se tornou uma saga imperdível que identificamos rapidamente pela sua trilha sonora, seus sabres de luz e suas trilogias inesquecíveis (especialmente a original). No entanto, também é um exemplo de como unir cinema e filosofia, de nos fazer pensar em um mundo de ficção científica.

“Que a Força esteja com você!”


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