Por que a substância branca do nosso sistema nervoso é tão importante?

Por que a substância branca do nosso sistema nervoso é tão importante?
Carolina López De Luis

Escrito e verificado por a psicóloga Carolina López De Luis.

Última atualização: 20 fevereiro, 2024

A substância branca é responsável por transmitir a informação por todo o sistema nervoso central. O nome que recebe deriva da cor que as bainhas de mielina, de cor branca, conferem a essa substância. A mielina faz a informação elétrica viajar rapidamente de um neurônio a outro, revestindo seus axônios.

No cérebro, a substância branca está localizada embaixo da massa cinzenta, que é o córtex cerebral. Na medula espinhal, ela se encontra na parte exterior, cobrindo a massa cinzenta. Ela é constituída por axônios que enviam a informação sensorial e motora ao lugar correspondente. Embora, inicialmente, lhe fosse atribuída a função de difusão da informação, ela também parece estar envolvida em outros processos.

Localização da substância branca no sistema nervoso central

Em termos concretos, a substância branca dos hemisférios cerebrais é formada por três tipos de fibras diferentes:

  • Comissuras inter-hemisféricas: são as fibras que conectam os hemisférios cerebrais. Dentro dessa categoria está a comissura anterior, que conecta os bulbos olfatórios com o lobo temporal. E também o corpo caloso que une os hemisférios direito e esquerdo. Assim, quando se secciona o corpo caloso, interrompe-se a maior parte da comunicação que existe entre os hemisférios.
  • Fibras de projeção: trata-se dos axônios que vão até o córtex cerebral e se organizam em um grande trato que permeia os hemisférios cerebrais.
  • Fibras de associação: são os axônios que conectam diferentes regiões do córtex cerebral do mesmo hemisfério.

A medula espinhal é a seção mais rica do sistema nervoso central. Ela está em constante interação com o sistema nervoso periférico e possui grande importância nas funções sensoriais e motoras. A medula espinhal está protegida pela coluna vertebral, encarregada de amortecer os choques para evitar uma lesão medular. A substância branca se encontra na parte exterior, recobrindo a massa cinzenta. A substância branca na medula espinhal está organizada em três colunas: dorsal, lateral e ventral.

  • A coluna branca dorsal é formada pelas fibras aferentes somáticas dos nervos espinhais que sobem pela medula sem realizar sinapses no trajeto. Ela se agrupa em dois fascículos, o cuneiforme e o grácil. O primeiro é formado pelos tractos que entram pelos segmentos da parte superior (torácicos e cervicais). O segundo, o grácil, entra pela parte inferior (sacros, lombares e torácicos inferiores).
  • A coluna branca ventral e lateral, formada por vias ascendentes que levam informação tanto somática quanto visceral e por vias descentes que enviam informação somática e de modulação sensorial.

Sua relação com as funções cognitivas

Tradicionalmente, a substância branca sempre foi associada com a velocidade de processamento. Mas, nos últimos anos, tem-se tentado relacioná-la com várias funções, visto o impacto da sua degeneração em tais funções. São muitos os estudos que têm tentado esclarecer o papel da substância branca na linguagem, na memória ou na atenção.

Por exemplo, em crianças com déficit de atenção, observou-se que um menor volume na substância branca frontal direita corresponderia ao grau de alteração da atenção mantida. Em pacientes com Alzheimer e déficit cognitivo leve também foram encontradas correlações significativas entre o volume da substância branca e a memória, embora seja possível que essa degeneração seja secundária à da substância cinzenta.

A desconexão das fibras que unem o tálamo com o córtex frontal pode interferir na memória verbal e deteriorar a memória de trabalho. Por outro lado, o aprendizado e a memória visual foram relacionados com a substância branca parietal e temporal. A correlação entre memória de trabalho e áreas de substância branca temporais, parietais e frontais foi documentada por vários estudos.

Lesão axonal difusa

A lesão axonal difusa é frequentemente o resultado de uma lesão traumática com mecanismos de aceleração-desaceleração ou rotação. É uma das causas mais comuns de morbidez em pacientes com traumatismo cranioencefálico, normalmente causados por acidentes de trânsito. Consiste em várias lesões focais na substância branca de 1-15 mm caracteristicamente distribuídas.

Provoca uma perda instantânea da consciência, mais de 90% dos pacientes que sofrem essa lesão ficam em estado vegetativo. Ela não provoca a morte, já que o tronco cerebral continua funcionando e é o responsável pelas funções vitais do organismo. É a lesão responsável pela maioria das alterações de atenção, memória, velocidade de processamento e alterações executivas nos traumatismos cranioencefálicos moderados e graves.

Exames médicos

O componente mecânico do traumatismo produz estiramento, torção e ruptura dos axônios e de capilares cerebrais provocando micro-hemorragias. Do ponto de vista clínico, provoca confusão, perda de consciência ou coma, dependendo da gravidade, devido à interrupção das fibras ascendentes. O grau de desconexão marca a gravidade e a duração do coma, além da presença e da duração da amnésia pós-traumática.

Neuropsicologicamente, a lesão axonal difusa prejudica a capacidade de realizar novos aprendizados e provoca alterações na atenção, na velocidade de processamento da informação e nas funções executivas. A alteração das funções frontais é uma constante e se explica pelo fato de que essas funções exigem a integridade de todos os circuitos córtico-corticais e córtico-subcorticais, circuitos que são atingidos.

Patologias que provocam a degeneração da substância branca

Existem diferentes patologias que envolvem a degeneração da substância branca e que podem acarretar graves consequências em nível cognitivo, motor e sensorial. Uma dessas patologias é a denominada doença de Binswanger. Nessa doença, o aspecto cerebral externo costuma ser normal, mas a relação substância cinzenta/substância branca costuma ser baixa.

Os axônios são atingidos até ocorrer a desmielinização dos mesmos. Os sintomas mais comuns são a desaceleração do pensamento, alterações na memória, confusão, apatia e perda de interesse pelo meio. Caminhar com passos curtos ou instavelmente e com quedas são sinais precoces da doença.

Homem conseguindo caminhar

As leucodistrofias também fazem parte das doenças que afetam a substância branca. São um grupo de doenças geneticamente determinadas que provocam alterações no metabolismo da mielina. As manifestações clínicas mais comuns são a tetraplegia, a ataxia, a cegueira, a surdez e o déficit cognitivo. São de evolução progressiva e começam na infância.

Como pudemos compreender neste artigo, a substância branca é uma parte fundamental do nosso sistema nervoso. Ela é um meio condutor para a informação que nosso cérebro recebe, mas também é um canal de comunicação através do qual o cérebro dá ordens aos outros órgãos. Uma boa quantidade de substância branca em bom estado contribui principalmente à nossa atenção e à velocidade com que executamos diferentes processos cognitivos, como a tomada de decisões ou a aquisição de novos aprendizados.


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