Conheça a técnica da intenção paradoxal
As ferramentas com as quais os psicólogos trabalham são chamadas de técnicas psicológicas. Estas técnicas são utilizadas apenas por especialistas no campo da saúde mental. Um exemplo delas é a técnica da intenção paradoxal.
Normalmente, essas técnicas são usadas no contexto de uma intervenção/tratamento psicológico. Além disso, os tratamentos psicológicos podem pertencer a diferentes escolas psicológicas (cognitivo-comportamental, sistêmica, gestalt, psicanálise, etc.)
Nesse sentido, um tratamento psicológico é uma intervenção profissional. Esta intervenção baseia-se em técnicas psicológicas utilizadas em um contexto clínico (centro de saúde mental, hospital, consultório particular, associações de pessoas afetadas, etc.). Nela, um especialista, geralmente um psicólogo clínico, busca eliminar o sofrimento da pessoa com a colaboração ativa do paciente.
Na aplicação da técnica da intenção paradoxal, pede-se aos pacientes que parem com a tendência de tentar fugir ou controlar os seus sintomas. Além disso, eles são convidados a fazê-los aparecer deliberadamente e exagerando-os.
Alguns exemplos podem ser: ajudar uma pessoa a superar a sua depressão, trabalhar com uma família com conflitos entre seus membros, para que eles possam se comunicar melhor, ou ensinar um adolescente a interagir com os colegas de maneira menos agressiva.
Na aplicação da técnica da intenção paradoxal, pede-se aos pacientes que parem com a tendência de tentar fugir ou controlar os seus sintomas. Além disso, eles são convidados a fazê-los aparecer deliberadamente e exagerando-os.
Um tratamento psicológico envolve, entre outras coisas, ouvir atentamente o que o paciente tem a dizer e procurar aspectos pessoais, sociais, familiares, etc., que geram ou mantêm o problema que motivou a consulta. Envolve também informar o paciente sobre como resolver os problemas colocados usando técnicas psicológicas específicas. Exemplos dessas técnicas são o treinamento em respiração ou relaxamento, a intenção paradoxal, a resolução de problemas interpessoais, o questionamento de crenças errôneas, o treinamento em habilidades sociais, etc.
Em resumo, os tratamentos psicológicos são aplicados por psicólogos que são especialistas em problemas comportamentais. Os psicólogos usam técnicas especializadas de avaliação (uma entrevista, uma história clínica, testes e questionários, etc.), e tratamento, cuja eficácia foi comprovada em várias investigações científicas.
A técnica da intenção paradoxal
O uso da intenção paradoxal está ligado à psicoterapia de orientação humanista, especificamente à logoterapia de Victor Frankl (1999). Por outro lado, a força com a qual a abordagem cognitiva emergiu gerou um campo ideal para seu uso.
Assim, dentro da terapia cognitivo-comportamental, a intenção paradoxal tornou-se uma intervenção cognitiva especialmente útil para superar a resistência à mudança que alguns pacientes apresentam.
Para entendê-la, pensemos que um paradoxo pode ser definido como algo oposto ao que é considerado correto. Um paradoxo, do latim paradoxus (que, por sua vez, tem sua origem na língua grega), é uma figura de retórica que consiste no uso de expressões que envolvem uma contradição.
Isso significa que, além das condições contraditórias, os fatores apresentados são válidos, reais ou confiáveis. A técnica da intenção paradoxal tenta confrontar o senso comum da pessoa a quem ela é aplicada.
Assim, utilizando a intenção paradoxal na terapia, o paciente seria encorajado a fazer ou a desejar aquilo que ele teme (Frankl, 1984). Você acha que é arriscado ou a considera uma técnica útil?
O objetivo geral da intenção paradoxal
O objetivo geral da intenção paradoxal é provocar mudanças nas atitudes e reações das pessoas em situações de estresse ou desconforto. Trata-se de quebrar o círculo vicioso que costuma ser gerado, orientando precisamente os pontos mais temidos pelo paciente. Para entendermos melhor, veremos um exemplo:
Um paciente com insônia coloca todo o seu esforço todas as noites em conseguir adormecer. Com a intenção paradoxal, o profissional solicita ao paciente que faça exatamente o oposto do que está tentando fazer. Agora ele tem que se deitar, mas tentando ficar acordado o maior tempo possível. Esse modo de agir permite que ele deixe de lado o esforço para dormir, já que a indicação é ficar acordado e, assim, dormirá mais rapidamente.
Por que a técnica da intenção paradoxal funciona?
Apesar da sua reconhecida eficácia no cenário clínico, os seus mecanismos de ação não estão claramente estabelecidos (ao contrário do que acontece com outras técnicas psicológicas). Assim, existem vários modelos que tentam explicar seus efeitos.
Para determinadas variantes da técnica, estimulam mecanismos de controle que afetariam a cadeia comportamental. Em outros casos, há um apelo a mudanças de expectativas, de autoeficácia ou atribuição de controle como mecanismos responsáveis pela mudança. Entre os modelos teóricos propostos para explicar a intervenção dos mecanismos apontados estão:
- A teoria do duplo vínculo (Watzlawick, Beavin and Jackson, 1981)
- A teoria da descontextualização do sintoma (Omer, 1981)
- A teoria da ansiedade recorrente (Ascher e Schotte, 1999)
- A teoria do controle mental irônico (Wegner, 1994)
Como a técnica da intenção paradoxal é aplicada?
O procedimento exigirá duas mudanças em relação à maneira atual que o paciente utiliza para enfrentar o problema. Por um lado, o paciente renuncia às tentativas de controlar o problema. Por outro lado, ele deve estar disposto a mostrar e aumentar os sintomas.
Os dois requisitos vão contra a lógica terapêutica à qual o paciente está acostumado. Será necessário explicar de maneira detalhada e convincente ao paciente como a dinâmica do problema pode se beneficiar com essas mudanças.
Sequência de aplicação da técnica da intenção paradoxal
- Avaliação do problema e identificação da lógica que mantém a pessoa em soluções ineficazes.
- Redefinir o sintoma com base nos dados da fase anterior. Fornecer um novo significado do sintoma (por exemplo, vantagens).
- Indicar as mudanças paradoxais de acordo com o padrão da queixa do paciente.
- Conceituar as mudanças a partir da intervenção paradoxal (estabelecer o mecanismo explicativo).
- Prevenção de recaídas.
- Finalização e acompanhamento do paciente.
A técnica da intenção paradoxal é eficaz?
Apesar dos seus benefícios, a intenção paradoxal talvez seja um dos procedimentos mais difíceis de usar na terapia cognitivo-comportamental. Além de conhecer a lógica e o procedimento, o terapeuta deve ter experiência suficiente para detectar quando é o momento adequado para aplicá-la.
Neste caso, as habilidades de comunicação e a experiência clínica do terapeuta serão decisivas para o sucesso da aplicação. A firmeza, a segurança, a convicção e a capacidade de simulação do terapeuta podem ser elementos fundamentais para que o paciente consiga fazer aquilo que contradiz o que a sua intuição sugere.
Vale a pena enfatizar que a intenção paradoxal, como técnica, tem dado bons resultados em diferentes campos de aplicação. Entretanto, talvez tenha sido mais bem-sucedida na cura da insônia. Por fim, vale salientar a importância da aplicação sob o acompanhamento de um terapeuta, porque se for mal aplicada pode aumentar o problema e até mesmo torná-lo mais resistente a futuras intervenções.