Você conhece alguém com transtorno de personalidade paranoide?
A característica essencial do transtorno de personalidade paranoide é um padrão de suspeita generalizada e de desconfiança em relação aos outros. Os motivos das outras pessoas são interpretados como malévolos. Este padrão costuma ser identificado na idade adulta, embora possa haver indícios antes, e está presente em uma diversidade de contextos. Os indivíduos com este transtorno supõem que outras pessoas os exploram, machucam ou enganam, mesmo que não exista nada sólido que apoie estas hipóteses.
Aqueles com transtorno de personalidade paranoide suspeitam, sem ter evidências a favor da sua ideia, que outras pessoas estão conspirando contra elas. Também podem chegar a pensar que outras pessoas podem atacá-las de repente, a qualquer momento e sem razão, por isso sempre mostram uma atitude defensiva.
O mundo é um lugar hostil e preciso me proteger
Com frequência sentem que foram profunda e irremediavelmente prejudicados por outra ou outras pessoas, mesmo quando não existem provas deste dano ou de que este dano tenha sido intencional. Estão preocupados com dúvidas não justificadas sobre a lealdade ou fidelidade de seus amigos ou conhecidos. Para eles o mundo é um lugar inseguro e muito ameaçador.
As pessoas com transtorno de personalidade paranoide examinam minuciosamente as ações das pessoas próximas para descobrir intenções hostis. Qualquer transgressão da honra ou lealdade que perceberem serve para apoiar suas suposições ocultas. Se a maioria de nós tem um viés confirmatório na hora de destacar alguns aspectos da realidade em vez de outros, eles têm esse viés muito mais pronunciado.
Estas pessoas se surpreendem quando um amigo mostra lealdade e não podem confiar ou acreditar que seja verdade. Quando se metem em problemas, esperam que os amigos e familiares os ataquem ou os ignorem. Se recebem ajuda, não vão deixar de pensar que existe um interesse oculto e egoísta por parte da pessoa que lhes presta essa ajuda.
“A característica essencial do transtorno de personalidade paranoide é um padrão de suspeita generalizada e de desconfiança em relação aos outros.”
Os indivíduos com transtorno de personalidade paranoide são relutantes a confiar ou a manter um relacionamento próximo com os outros porque temem que a informação que compartilham seja usada contra eles. Podem se negar a responder perguntas pessoais, dizendo que a informação não é assunto de ninguém. Eles enxergam significados ocultos que são degradantes e ameaçadores em comentários ou acontecimentos sem maldade.
Por exemplo, uma pessoa com esse transtorno pode interpretar de forma incorreta um erro de um funcionário de uma loja como uma tentativa deliberada de enganá-la. Também podem receber um comentário engraçado informal de um colega de trabalho como um ataque direcionado e premeditado. Além disso, os elogios, com frequência, são interpretados de forma incorreta, podem sentir uma oferta de ajuda como uma crítica ao seu jeito de agir, ou podem sentir que o outro lhes dá sua ajuda porque o acha incapaz.
É melhor você me tratar direito ou irá sofrer as consequências
As pessoas com transtorno de personalidade paranoide são cheias de ressentimento e não estão dispostas a perdoar os insultos ou os desprezos que acreditam ter recebido. Inclusive os pequenos desprezos despertam neles grande hostilidade. Além disso, os sentimentos de hostilidade duram muito tempo.
Como sempre estão alertas às más intenções dos outros, sentem com frequência que a sua personalidade ou a sua reputação são atacadas, ou que estão sendo menosprezados de alguma forma. São rápidos para contra-atacar e reagir com ira aos insultos que recebem. Estas pessoas podem ser ciumentas de forma patológica e costumam suspeitar que seu companheiro não é fiel sem nenhum indício real para esta suspeita.
Os 7 sintomas principais do transtorno de personalidade paranoide
Como você pode imaginar, os indivíduos com transtorno de personalidade paranoide são geralmente difíceis de lidar e costumam ter problemas nos seus relacionamentos mais próximos. Mas isso não é tudo… Neste ponto cabe se perguntar o seguinte: quais são os principais sintomas deste transtorno? São os seguintes:
- Suspeita, sem base suficiente, de que os outros exploram, causam dano ou decepcionam a pessoa.
- Preocupação com dúvidas não justificadas sobre a lealdade ou confiança de seus amigos ou colegas.
- Pouca disposição em confiar nos outros por causa do medo injustificado de que a informação seja utilizada maliciosamente.
- Leitura encoberta de significados degradantes ou ameaçadores em comentários ou atos sem malícia.
- Rancor persistente (isto é, não esquece os insultos, injúrias ou desprezos).
- Percepção de ataque à sua personalidade ou reputação que não é apreciado pelos outros e disposição em reagir rapidamente com raiva ou a contra-atacar.
- Suspeita recorrente, sem justificativa, a respeito da fidelidade do cônjuge ou companheiro.
A suspeita e a hostilidade como bandeira
A suspeita e a hostilidade excessivas das pessoas com transtorno de personalidade paranoide podem ser expressas discutindo tudo abertamente, mediante queixas recorrentes ou com uma atitude distante e aparentemente hostil.
Pelo fato de serem hipervigilantes em busca de ameaças potenciais, podem agir de forma cautelosa, secreta ou maliciosa. Então, parece que são frios e sem sentimentos de ternura. A sua personalidade combatente e sempre a suspeitar pode provocar uma resposta hostil das pessoas, que por sua vez servirá para confirmar suas expectativas iniciais (profecia autorrealizável).
As pessoas com transtorno de personalidade paranoide costumam ter pensamentos do tipo: “querem me roubar”, “vão me enganar”, “querem zombar de mim…”
Quando controlar tudo o que as rodeia não é suficiente
Como as pessoas com transtorno de personalidade paranoide não confiam nos outros, elas têm uma necessidade excessiva de poder enfrentar tudo sozinhas. Isto lhes dá um forte sentido de autonomia.
Também precisam ter um alto grau de controle sobre o seu entorno. Costumam ser rígidos, não são capazes de colaborar e se mostram hipercríticos com os outros. Isto é paradoxal, pois eles mesmos têm muita dificuldade de aceitar as críticas.
Todos têm culpa, menos eu
As pessoas com transtorno de personalidade paranoide costumam culpar os outros pelos seus próprios defeitos. Por causa da sua rapidez no contra-ataque respondendo às ameaças que percebem ao seu redor, podem se envolver em disputas legais.
Procuram confirmar que os outros são culpados lhes atribuindo motivações malévolas. Esta atribuição de maldade é uma projeção de seus próprios medos.
Fantasias de poder
As pessoas com transtorno de personalidade paranoide costumam ter fantasias ocultas grandiosas e pouco realistas. Com frequência estão em sintonia com aspectos de poder e de classificação. Costumam desenvolver estereótipos negativos dos outros, principalmente dos grupos de população diferentes do seu próprio.
Atraídos pelas formulações simplistas do mundo, com frequência se mostram mais cautelosos diante de situações ambíguas e dificilmente correm riscos. Podem ser vistos como fanáticos e podem se vincular firmemente a cultos ou grupos de outras pessoas que compartilham o seu sistema de crenças paranoides.
Em resumo, as pessoas com transtorno de personalidade paranoide sentem grande desconfiança e suspeita intensa com relação aos outros. Seus motivos são interpretados como malévolos e são culpados de todos os seus males. Estas pessoas exercitam muito sua atenção sustentada porque sentem a necessidade de vigiar com muita frequência o seu entorno para detectar possíveis ataques ou ameaças.
Nesse sentido, eles também não se sentem bem e precisam de ajuda. Pense por um instante em como você se sentiria se percebesse motivos para suspeitar que as pessoas que o rodeiam querem prejudicá-lo.
Bibliografia:
Grossman, Seth & Millon, Carrie & Meagher, Sarah & Ramnath, Rowena (2001). Trastornos de la personalidad en la vida moderna. Primera edición, segunda edición 2006. Barcelona: Ed. Masson & Elsevier.
American Psychiatry Association (2014). Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales (DSM-5), 5ª Ed. Madrid: Editorial Médica Panamericana.