A tristeza nas crianças

A tristeza nas crianças
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Ninguém está imune a ficar triste, nem sequer os nossos pequenos. A perda de alguém, uma circunstância imprevista, uma oportunidade mal aproveitada… A tristeza nas crianças não é uma exceção. Por isso, devemos estar presentes quando elas precisam de nós. Educá-las para ter consciência e controle emocional é a chave para que, então, sejam capazes de expressar o que sentem.

O filme “Inside Out”, traduzido como “Divertida Mente”, deixa clara a importância das emoções básicas na nossa vida. Especificamente, a importância de reconhecer e manifestar a tristeza. Porque, assim como o medo, a alegria ou a raiva, saber canalizar o desânimo é algo que deveria ser ensinado a nós desde pequenos.

Ajudar as crianças a entender o que é a tristeza

Quando encontramos alguém que parece estar triste, com frequência tendemos a fugir na direção oposta. Parece que temos medo de nos contagiar e, por isso, preferimos estar próximos de quem sempre tem um sorriso no rosto. No entanto, a tristeza nas crianças, assim como nos adultos, é uma emoção essencial e necessária. Sem ela, não poderíamos ter ideia do que é a alegria.

Apesar de durante a vida adulta ser mais comum sentir essa emoção devido às dificuldades que enfrentamos, nas crianças isso não acontece com tanta frequência. É raro encontrar um pequeno de 5 anos sentado em um banco sozinho, com o olhar perdido ou imerso em sua vida interior. Supõe-se que a sua inocência, a sua precária maturidade intelectual e as suas preocupações, unicamente lúdicas, deveriam garantir-lhe uma alegria inquebrável. Mas pode não ser assim.

Menino abraçado com seu pai

Isso não quer dizer que as crianças não tenham o direito de sentir-se mal. Sim, elas o têm, e de fato, isso é mais comum do que imaginamos; conveniente em certos momentos e inevitável em muitos outros casos. Por exemplo, elas podem se sentir melancólicas pela perda de um familiar ou de seu animal, pela mudança de colégio, por um pequeno desentendimento com algum colega…

Por isso, a melhor maneira de ajudá-las é conversando com elas sobre a tristeza, ensinando a identificá-la e a entendê-la. É necessário de fazê-las ver que é preferível reconhecer que esconderQue todos nos sentimos assim alguma vez e que é bom abraçar essa emoção para acalmá-la e deixá-la ir embora.

Formas de manifestação da tristeza nas crianças

Assim como as pessoas adultas, os pequenos também podem expressar seu estado emocional de diferentes maneiras. Quando se divertem e estão felizes é normal que riam, brinquem e pareçam muito alegres. Quando têm medo, costumam permanecer imóveis e calados até passar o susto. Mas quando estão tristes, a maneira que têm de manifestar essa emoção não é tão clara.

Às vezes, podem chegar a ter comportamentos opostos em um mesmo dia que mascaram seu verdadeiro estado de ânimo. Vejamos exemplos de como a tristeza se manifesta nas crianças:

  • Hipoatividade: ficam para baixo, apáticos, indiferentes, falam pouco, sem apetite, dormem muito… Costumam chorar frequentemente, inclusive quando não existe uma causa clara.
  • Hiperatividade: comem em excesso, ficam ansiosos, não querem dormir, ficam muito falantes…

Assim, para poder detectar quando a tristeza os domina, os pais e professores devem estar especialmente atentos às mudanças em seu comportamento e em seu estado emocional.

Como ajudar a criança a administrar a tristeza

Uma vez que detectamos uma conduta não usual ou excessiva no pequeno, é bom perguntar-lhe por que ele está assim. Seguramente ele não saberá dizer ou, simplesmente, não vai querer e vai preferir se fechar. Mas já sabemos que as crianças, durante as suas primeiras etapas de desenvolvimento, são como esponjas.

Os filhos aprendem com as expressões emocionais dos pais, pois estes são a sua referência também na área emocional. Por isso, é conveniente que os adultos expliquem que todo mundo se sente triste em algum momento na vida. Que é normal e que o papai, a mamãe, a avó ou o tio se sentem assim algumas vezes. Também devem explicar que é uma emoção que passa quando conseguimos entendê-la, enfrentá-la e aceitá-la.

Através das fotografias de rostos, desenhos ou simplesmente conversando com eles sobre a tristeza, pode-se fortalecer a sua capacidade de reconhecê-la. Uma vez que saibam identificá-la, podemos ensinar-lhes a enfrentá-la através de exemplos que nós mesmos podemos encenar.

Criança chorosa

O que não as beneficia

Infelizmente, a dissimulação está mais na moda do que o enfrentamento. Desde pequenos, somos ensinados a trocar uma lágrima por um sorriso e a reprimir a tristeza. Porém, isso não faz essa emoção desaparecer, mas somente a enterra de tal maneira que, quando renasce, o faz com mais força.

  • A chacota: a frase “Você é um chorão” é extremamente negativa quando uma criança está derramando lágrimas. A única coisa que ela faz é frear a sua expressividade emocional, retraí-la e obrigá-la a escondê-la. É uma maneira muito negativa de ridicularizar os seus sentimentos.
  • Apressá-la: se lhe perguntamos como ela se sente e ela não nos responde, é muito comum que tenhamos a tendência de apressá-la. Pois bem, ela só vai falar quando souber que conta com o nosso apoio, passe o tempo que passar. É importante que a façamos sentir ouvida e apoiada em todos os momentos.
  • Dar-lhe importância: “Isso não é nada, é uma bobeira. Não fique assim”. Isso também não ajuda porque para ela o acontecimento tem muita relevância. O que se deve fazer é reduzir a possível dor e tristeza, e não minimizar o seu impacto.
  • Reprová-la ou castigá-la: “Se você continuar chorando, eu vou te castigar”. Com essa frase, só lhe estamos dando uma saída: a de chorar e aguentar a sua tristeza. Voltamos ao primeiro ponto. Ao contrário, um abraço irá ajudá-la a se sentir muito bem e cheia de força e energia.

Como vemos, o papel das pessoas ao seu redor é fundamental para que ela compreenda que não deve ter medo de ficar triste, nem de reconhecer que se sente assim. A tristeza nas crianças não deve ser ignorada.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.