Violência nos casais jovens: o que está acontecendo?

Violência nos casais jovens: o que está acontecendo?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

A violência nos casais jovens é um assunto pouco abordado. Apesar de termos milhares de estudos sobre a violência machista no casamento, o setor mais jovem desses relacionamentos quase não foi alvo de análise. É um fato que chama bastante a atenção, já que se identificássemos esse problema desde as suas origens, poderíamos evitar situações dramáticas.

Todos nós conhecemos um caso de alguém que agride ou agrediu seu companheiro amoroso. Nós não estamos falando somente do âmbito físico, mas também do verbal, emocional ou, inclusive, sexual. Infelizmente, essas situações são mais comuns do que se possa imaginar.

Apesar de estarmos em um momento em que as pessoas são incentivadas a pedir ajuda e a denunciar quando alguém é vítima de uma situação de maus-tratos, o número de casos de violência nos casais jovens vem aumentando. O que está acontecendo?

A violência nos casais jovens, consequência de um ambiente impróprio?

Segundo um estudo realizado pela Universidade de La Laguna (Tenerife, Espanha), existe uma estreita relação entre as pessoas que se maltratam (sejam homens ou mulheres) e o que elas observam nas suas famílias. É curioso que, diante de uma situação de raiva, as reações de homens e mulheres adultos sejam significativamente diferentes, algo que não acontece com os mais jovens.

Casal brigando na frente da filha

Na pesquisa, com a participação de 1.146 estudantes entre 16 e 18 anos, ambos os sexos costumavam controlar a ira contra seus companheiros sentimentais de forma bem parecida. Embora no caso dos adultos os homens fossem mais agressivos e as mulheres mais passivas, com os adolescentes os resultados foram quase idênticos.

A maioria dos entrevistados afirmou que, diante de uma briga em casa, o mais comum era que suas mães chorassem e os pais jogassem objetos no chão ou batessem neles. 12% dos jovens confessaram ter visto seu progenitor agredir fisicamente a mãe, e 6% se encaixaram no caso contrário.

Nas suas próprias brigas, cabe destacar que ambos os sexos acabavam sendo muito mais violentos que seus pais. As garotas entrevistadas reagiram com choro e gritos em uma porcentagem maior do que as mulheres adultas, algo que também aumentou no caso dos garotos.

Qual é a causa do aumento da violência nos casais jovens?

O estudo concluiu que a violência não se perpetua necessariamente por culpa do contexto familiar violento. Existem muitos filhos que, diante dos acontecimentos vividos em casa, aprendem a não repetir tais comportamentos. O que acontece é que, na amostra de garotos mais agressivos, existem dois tipos de sujeitos determinantes:

  • Indivíduos com alta autoestima, que usam a violência como arma de controle com sua companheira amorosa.
  • Indivíduos com baixa autoestima, que aliviam a sua frustração ferindo sua companheira amorosa.

Como resposta a isso, cabe destacar que a educação para que certos limites não sejam ultrapassados é fundamental. As instituições educacionais devem ser responsáveis, nestes casos, por explicar aos adolescentes que as agressões nunca devem ser toleradas.

Alguns fatores a serem considerados no estudo deste aumento da violência nos casais jovens são o romantismo exagerado e a idealização. As novas gerações cresceram com expectativas irreais com respeito ao amor e aos relacionamentos. Acreditam que o controle, os ciúmes e a dependência exagerada são sintomas da paixão, e não de obsessão.

“Nunca seja maltratado em silêncio. Nunca se permita ser uma vítima. Não permita que ninguém defina a sua vida, defina a si mesmo”.
– Tim Fields –

Além dessas formas insanas de manifestação sentimental, existem diversas teorias que tentam explicar estes comportamentos. As mais interessantes neste caso são a teoria do apego e a perspectiva feminista.

Homem gritando com a namorada

A teoria do apego e a sua relação com a violência machista

A teoria do apego, formulada pelo psiquiatra e psicanalista John Bowlby, se concentra na construção do vínculo emocional entre as crianças e as pessoas que cuidam delas e lhes dão segurança.

O apego se forma de maneira natural e influi tanto no comportamento das crianças quanto no estabelecimento das suas relações, chegando inclusive a marcar a vida adulta.

Assim, a forma como esses vínculos se fortalecem influi a maneira como o indivíduo se relaciona com os outros. Por isso, é importante conhecer os tipos de apego e de que forma eles podem estar relacionados com o desenvolvimento da violência nos casais jovens.

Padrão de apego seguro

As crianças que desenvolveram um padrão de apego seguro são aquelas que têm uma relação saudável com o seu principal cuidador que, geralmente, costuma ser a mãe. Quando ela não está, elas podem interagir com outras pessoas, mas na sua presença sempre a exigem como prioridade, já que a admiram e a consideram como uma fonte de consolo. Elas se sentem protegidas e à vontade, porque sabem que ela não vai permitir que nada de ruim aconteça com elas.

Na vida adulta, as pessoas com apego seguro não têm problemas na hora de estabelecer relacionamentos com os outros. Elas sabem identificar quando a pessoa é tóxica para elas e quando não, e se negam a estabelecer relacionamentos só pelo medo de estarem sozinhas. Além disso, elas não têm medo de pedir ajuda quando precisam dela. São pessoas com as quais é possível ter uma relação honesta, madura e responsável.

Assim, a violência nos casais jovens se alimenta de indivíduos que, ao contrário destes, não tiveram figuras de cuidado que lhes dessem essas sensações de segurança e proteção.

Padrão de apego evitativo

O padrão de apego evitativo acontece naqueles casos em que a ausência da sua mãe, ou do principal cuidador, gera indiferença nos bebês. Eles conseguem estar sem ela, e quando ela reaparece, não reagem de forma alguma. Isso acontece devido à falta de atenção reiterada das suas necessidades afetivas.

Neste caso, o progenitor ou progenitora foge do contato com o seu filho, rejeitando qualquer tipo de demonstração de carinho. Assim, as crianças que crescem com esta ausência de afeto se transformam em adultos com problemas para estabelecer relacionamentos íntimos e de confiança. Por exemplo, elas escondem as emoções e suas necessidades por medo de serem rejeitadas.

Em alguns casos, as pessoas que cresceram com um apego evitativo podem chegar a manifestar um comportamento autodestrutivo. Elas inibem seus sentimentos, evitam o compromisso, não costumam ser honestas, e se justificam com a sua suposta independência, que é só uma barreira para estabelecer conexões mais íntimas com os outros.

Por outro lado, elas se sentem incômodas se seu companheiro sentimental pede ajuda, apesar de não terem problemas na hora de expressar o desejo sexual, sempre que for somente isso. Suas relações são superficiais, e o hipotético companheiro amoroso costuma se sentir ignorado e pouco querido. Esse desapego emocional não costuma transformá-las em pessoas propensas à violência.

Casal brigado

Padrão de apego inseguro ansioso ambivalente

Este tipo de apego corresponde aos bebês que são incapazes de prever o comportamento de suas mães ou principais cuidadores. Às vezes se mostram carinhosos e próximos deles, mas outras vezes são completamente hostis. Esta ambivalência gera uma grande angústia e surpresa nessas crianças, que se tornam extremamente hipersensíveis.

Elas tentam buscar a proximidade materna a qualquer preço, algo que irão continuar desenvolvendo como adultos, com seus possíveis companheiros sentimentais e amizades. São pessoas que, diante de qualquer tipo de separação (apesar de serem só algumas horas), se sentem ignoradas e abandonadas. Sua hipersensibilidade favorece as situações de ira e angústia, fazendo com que seus relacionamentos sejam extremamente tóxicos.

As origens da violência nos casais jovens poderiam, então, ter aqui a sua base. Estes adolescentes e adultos são os mais propensos aos maus-tratos. As suas mudanças de comportamento são muito repentinas: enchem seu companheiro de atenção e, de repente, o odeiam. A razão disso pode estar nas experiências vividas na infância, e na necessidade extrema de evitar outro sentimento de abandono traumatizante.

A perspectiva feminista

A partir da perspectiva do feminismo, a violência nos casais jovens se deve à desigualdade nos papéis sociais de gênero. Segundo a maioria dos estudos e das pesquisas, a porcentagem de homens que maltratam as mulheres é muito maior do que a de mulheres que fazem isso com os homens.

Segundo esta perspectiva, enquanto as garotas que agridem seus companheiros sentimentais fazem isso devido aos padrões violentos de comportamento, a grande maioria dos garotos que agridem as namoradas fazem isso orientados por uma perspectiva machista. Eles consideram que a mulher é um objeto de sua posse e, para reafirmar seu status de poder, precisam agredi-la e humilhá-la. O papel feminino é, para eles, um papel inferior que deve ser dominado.

Por outro lado, existem casos nos quais é o homem quem sofre os maus-tratos. Nestas situações, observa-se um comportamento muito comum, no qual eles não se atrevem a denunciar porque temem que a sociedade os humilhe. A razão disso pode estar na forte convicção de que os homens devem esconder as suas emoções porque, se eles as expressarem, irão transmitir uma imagem de fraqueza, fruto da educação machista recebida.

Casal brigando em casa

A educação precoce, uma arma contra a violência nos casais jovens

Estas teorias demonstram que os pais têm uma grande responsabilidade com respeito à criação de seus filhos. Suas ações irão repercutir nas crianças, que mais tarde serão adultos. Devemos considerar que não é apenas a violência entre os pais que desencadeia a agressividade nos jovens, já que existem muitos deles que não foram testemunhas disso em casa. A reunião de variáveis como o contexto, a personalidade, os relacionamentos e a educação geram este tipo de comportamentos.

Educar com igualdade, ensinando o respeito pelos outros é necessário na sociedade atual. É importante criar a consciência de que todos temos os mesmos direitos, apesar de nossas diferenças físicas, psicológicas e sociais, independentemente do sexo.

Estar em contato com as crianças, dar a elas atenção e afeto e, obviamente, favorecer que elas se sintam seguras e protegidas são fatores que devem ser considerados. Uma criança que tenha se sentido amada, protegida e acolhida tem muito mais chances de estabelecer relacionamentos frutíferos no futuro.

Por outro lado, as crianças que pertencem ao grupo evitativo ou ao ambivalente segundo a teoria do apego terão problemas na hora de construir e manter relacionamentos saudáveis. A indiferença, o medo do abandono e a obsessão são comportamentos tóxicos que devem ser tratados se elas realmente quiserem construir relacionamentos prósperos.


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