Wagner: a biografia de um músico atormentado

A obra de Wagner acelerou intensamente uma mudança no movimento musical, influenciando compositores do século XX. Descubra o que faz desse músico um gênio sem igual.
Wagner: a biografia de um músico atormentado
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Camila Thomas

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Wagner é um dos compositores que marcou uma época, influenciando muitas das grandes correntes musicais. A influência do célebre Wilhelm Richard Wagner e de sua composição é perceptível tanto na melodia e na harmonia quanto na orquestração.

Suas ideias, suas propostas e seu modo de vida tiveram tanto admiradores quanto críticos. Ele foi, em todo caso, um homem polêmico. Musicalmente, as óperas de Wagner se caracterizaram pela diluição acentuada das tonalidades, deixando mais tênue a linha entre cantar e recitar.

A música de Wagner transporta seu público a universos repletos de heroísmo e volúpia. A força de sua composição conquista o ouvinte, convidando-o a simpatizar com a história que se desenvolve no palco.

Primeiros anos

Richard Wagner nasceu em 22 de maio de 1813, na cidade de Leipzig, na Alemanha. Ele nasceu em um lar humilde: sua mãe, Rosima Patz, era filha de um padeiro; seu pai, Karl Friedrich Wagner, foi escrivão de polícia. Alguns meses depois do nascimento do pequeno Richard, seu pai faleceu em consequência de uma epidemia de tifo.

Pouco tempo depois, sua mãe se casou com Ludwig Geyer, que se tornaria seu padrasto. Geyer era ator, cantor e pintor. Por isso, costuma ser apontado como uma influência para as inclinações artísticas do jovem Wagner. Como consequência do trabalho de Geyer em uma companhia de teatro, a família se mudou para Dresden.

Richard Wagner

Wagner começou a frequentar a escola de Vizehofkantor Carl Friedrich Schmidt em Dresden no ano de 1817. No ano de 1822, ele se matriculou na Kreuzschule (escola da cruz) de Dresden. Richard estudou lá até os 14 anos e, nessa escola, fez algumas aulas de piano.

Richard Wagner usou o nome Richard Geyer quase até completar quinze anos, e mudou de sobrenome ao formalizar sua entrada na Nicolaischule (escola nicolaíta) de Leipzig, em 21 de janeiro de 1828.

A desolação de sua juventude

A quantidade e variedade de suas primeiras composições provam que Richard se iniciou como compositor com obras de uma ampla diversidade genérica. Entre elas, existia um certo predomínio de peças instrumentais que seguiam protótipos clássicos.

Em 1833, quando o artista tinha apenas vinte anos, iniciou sua carreira profissional, aceitando o cargo de diretor do coro Würzburg. Seus trabalhos, nessa fase inicial, foram todos de baixo orçamento e eram destinados a um público provinciano. Sendo diretor de orquestra, terminou sua primeira ópera: Die Feen (As Fadas). No entanto, ela só seria estreada cinco anos depois de sua morte.

Três anos depois, Wagner estava casado com Minna Planer e, nessa época, já havia composto várias óperas. Nesse período, Wagner começou a desenvolver suas ideias de índole revolucionária. Há quem afirme que as ideias de Wagner, de algum modo, influenciaram as ideias do nazismo de Hitler. De fato, atualmente, suas composições continuam sendo vetadas em Israel.

Essa fase foi bastante obscura para Wagner; o casamento com Minna Planer não ajudava muito e ele estava passando por uma série de problemas econômicos. Além disso, teve problemas de vício em jogos e álcool. Desse modo, sua recuperação econômica se tornou ainda mais difícil.

Em 1839, a enorme quantia de dívidas acumuladas por Richard Wagner o obrigou a fugir do país, mudando-se para Paris. O compositor só pisaria novamente na Alemanha em 1842, mas sua estadia em Paris foi um fracasso e ele não conseguiu lançar nenhuma de suas obras na cidade. Trabalhou assiduamente como arranjador de outros compositores, mas sem muita fama.

Wagner como escritor

Wagner não foi apenas um importante compositor. Ele também se atreveu a experimentar outras formas artísticas, como a escrita. Entre os anos de 1840 e 1842, foram publicados alguns dos ensaios mais importantes de Wagner.

Esses ensaios tratavam de questões históricas e teóricas que tinham se mostrado de grande interesse para o artista ao longo de sua vida. Wagner também foi um jornalista muito prolífico, chegou a publicar na imprensa alemã várias resenhas de eventos musicais parisienses, e também escreveu algumas peças de caráter documental.

“Somente os homens fortes conhecem o amor, somente o amor inclui a beleza, somente a beleza produz a arte. O amor dos fracos entre si não pode produzir senão a satisfação de suas ambições luxuriosas”.
-Richard Wagner-

Vale destacar que existem ambiguidades em alguns de seus dados biográficos. Isso se deve, principalmente, ao fato de que existem várias inconsistências incorporadas pelo próprio Wagner em sua autobiografia Mein Leben (Minha Vida).

Essa autobiografia engloba desde o seu nascimento até os 51 anos. O texto é extremamente subjetivo e seu ego se manifesta. Dessa maneira, fica difícil saber com exatidão o que é real na vida de Wagner. Essa autobiografia foi escrita em 1865 a pedido de seu benfeitor, o Rei Luís II da Baviera.

Retorno à pátria

Após a ópera Meyerbeer, Wagner se tornou o compositor mais reconhecido da Alemanha. Quis a sorte que, poucos dias depois da estreia, ocorresse o falecimento do Kapellmeister real (Diretor de câmara real) Francesco Morlacchi.  Em 2 de fevereiro de 1843, Wagner passou a ocupar o cargo vitalício de Kapellmeister real. Esse cargo lhe outorgou proeminência política, que o tornou um especialista em combinar criatividade com gestão.

Os interesses artísticos de Wagner se fundiram rapidamente com sua atividade política. O compositor concebia o teatro como o espelho de uma sociedade reacionária. Assim, ao realizar a transformação do primeiro, mudaria a segunda. Por isso Wagner se viu envolvido na política subversiva.

Warner tinha afinidades com o nacionalismo alemão. O reflexo desse pensamento pode ser claramente observado tanto em seus personagens mitológicos quanto nos argumentos de suas obras. Uma ideia que se reitera em sua obra é a das colônias alemãs.

“Sempre que ouço Wagner sinto uma vontade irresistível de invadir a Polônia”.
-Woody Allen-

Mudanças políticas e o patrocínio do rei Luís II da Baviera

Em 1849, a delicada situação política desembocou em uma revolução em Dresden. Isso significou o fim da carreira de Wagner como Kapellmeister real. A emissão de uma ordem de prisão contra Wagner provocou sua fuga para a Suíça, onde permaneceu exilado durante onze anos.

Durante esse período, Wagner viveu em uma situação muito precária. Foi excluído do mundo musical alemão e sua renda era tão reduzida quanto suas esperanças de poder representar suas obras.

Em 1864, Wagner estava em Mariafeld, nas proximidades de Zurique, fugindo de seus credores. O rei Luís II, seu admirador confesso, lhe ofereceu sua hospitalidade e ajuda financeira. Desse modo, “o mestre” compôs Huldigungsmarsch (Marcha de Tributo) para seu benfeitor.

Em 1865, lançou sua famosa obra Tristão e Isolda na cidade de Munique. Um ano depois, sua esposa Minna faleceu em Dresden, e o compositor se instalou em Genebra. Sob o mecenato do Rei, Wagner trabalhou em suas óperas sem se preocupar com os gastos.

O perfil de Wagner

Bayreuth

Anos mais tarde, Wagner concebeu o plano de fundar a Sociedade Wagner, um teatro que daria origem ao famoso festival homônimo que existe ainda hoje em dia. A pedra angular do Teatro de Bayreuth foi colocada no dia de seu aniversário de 59 anos. Para alcançar esta conquista, realizou uma série de concertos pela Alemanha com o objetivo de levantar fundos. A obra terminou em 1874 graças à ajuda de Luís II.

O compositor construiu sua casa Wahnfried também em Bayreuth. No entanto, apenas dois anos depois de terminar as obras, os números do teatro revelavam enormes prejuízos. Wagner fez uma série de concertos para obter fundos a fim de diminuir os prejuízos, mas pouco tempo depois teve problemas no coração.

Morte e legado

Entre os anos 1881 e 1882, Wagner teve vários ataques cardíacos. Em 13 de fevereiro de 1883, o célebre compositor faleceu em Veneza, na Itália. Seu corpo foi enterrado no jardim de sua casa Wahnfried.

Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo) é, sem dúvidas, sua obra mais importante. É composta por quatro óperas: Die Walküre (A Valquíria), Das Rheingold (O Ouro do Reno), Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses) e Siegfried. O Anel do Nibelungo, Parsifal, Tristão e Isolda, Die Meistersinger von Nürnberg (Os Mestres Cantores de Nüremberg), Lohengrin, Tannhäuser  e Der Fliegende Holländer (O Holandês Errante) integram o chamado Cânon de Bayreuth.

O ciclo completo só foi apresentado em 1876 e, a partir desse momento, o cânon seria representado no festival anual que ainda é realizado em Bayreuth, na Alemanha.

As ideias de Wagner tiveram tanto partidários quanto críticos. O legado do Teatro de Baviera, de complexidade nunca antes vista, foi possível graças ao seu fervoroso admirador, o rei Luís II da Baviera. Esse teatro é destinado exclusivamente à representação de sua obra, demonstrando, assim, que a genialidade de Wagner continua viva apesar do passar do tempo.


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