3 transtornos neurológicos curiosos e interessantes

3 transtornos neurológicos curiosos e interessantes
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

O cérebro é uma estrutura orgânica complexa que dirige fortemente nosso comportamento, mas também é o lugar onde habitam nossos pensamentos e nossas emoções. Pesquisar o substrato biológico do mesmo é essencial para entender o funcionamento da cognição. No entanto, a complexidade do mesmo, junto com as dificuldades metodológicas, dificulta muito a exploração do sistema nervoso. Uma maneira de conhecer melhor seu funcionamento é através do estudo dos transtornos neurológicos.

Normalmente um dano nas estruturas do sistema nervoso tem uma consequência, mais ou menos notória, em nosso comportamento. Se associarmos estas consequência com as zonas danificadas, podemos localizar uma variedade de funções e processos, ainda que seja necessária uma certa precaução, já que as pessoas com transtornos neurológicos têm condições especiais que podem entortar ou contaminar as conclusões neste sentido. Exemplos deste ruído podem ser vistos em sujeitos que têm várias áreas afetadas ou que tomam medicação com muitos efeitos colaterais.

No presente artigo, vamos falar de três transtornos neurológicos que, de certa maneira, parecem incríveis. Eles vão nos ajudar a compreender até que ponto cada um dos processos cognitivos está mediado por um substrato biológico. A seguir explicaremos a visão cega, a heminegligência visual e os hemisférios divididos.

Transtornos neurológicos curiosos e interessantes

Mitos sobre o cérebro humano

Visão cega

Imagine que temos diante de nós uma pessoa que recentemente sofreu um acidente. Além disso, sabemos que como consequência desse acidente, ela sofreu um dano cerebral. Então, ela nos informa que não vê absolutamente nada, que perdeu a visão.

Mas nós vemos algo diferente. Seus olhos nos seguem, e por isso seguimos investigando. Quando pedimos que pegue um objeto, a pessoa estende a mão e alcança o objeto como se o visse. E não é só isso, se insistimos para que tente adivinhar números expostos em uma tela, a pessoa acerta com uma precisão muito mais alta do que seria esperado caso tentasse adivinhar na sorte. Como isso é possível?

Depois de observar o comportamento do paciente, os dados apontam que este está vendo o que acontece ao seu redor, mas seu discurso diz que está cego. Isso significa que está mentindo? A resposta é não, o problema está no fato do sujeito não ser capaz de entender o que está vendo. De maneira consciente, está processando todos os estímulos visuais, mas devido a uma falha atencional, estes dados não passam para a consciência.

É um dos transtornos neurológicos mais incríveis, já que as pessoas que o sofrem constituem uma prova vivente de que existe processamento sem que seja necessária a intervenção da consciência. 

Heminegligência visual

A heminegligência visual é outro dos transtornos neurológicos de caráter atencional, assim como acontece com a visão cega. Está associado com um dano no córtex pré-frontal direito. Um aspecto chave para entendê-lo é saber que o córtex pré-frontal esquerdo se encarrega de processos atencionais do lado direito do campo visual, e, por outro lado, o córtex pré-frontal direito se encarrega da atenção do campo visual esquerdo. Assim, um dano no córtex direito deixará o sujeito sem processos atencionais no campo visual esquerdo.

Qual é a consciência disso? Estes pacientes só serão conscientes do lado direito da sua visão. Neles, vemos comportamentos como: comer somente com a metade direita do prato, maquiar somente metade do rosto, e na hora de desenhar objetos, desenhar somente o lado direito. O mais incrível deste transtorno é que os pacientes não são conscientes de ter nenhum problema. Sua subjeção lhes mostra uma vida normal e coerente.

Além disso, outro aspecto interessante é que não só afeta o campo visual recebido pelos olhos, mas também a imaginação. Se pedirmos que a pessoa se coloque mentalmente na praça da catedral de Milão e descreva a cena, só irá mencionar os elementos da direita. Por outro lado, se em seguida pedirmos para que dê a volta, ao ter à esquerda os elementos anteriormente enumerados, não será capaz de nomeá-los novamente. Agora, nomearia os elementos que anteriormente não nomeou.

Hemisférios divididos

Por último, vamos falar sobre um dos transtornos neurológicos mais curiosos e impressionantes, os hemisférios divididos. Nos casos graves, é necessário realizar uma operação. Esta operação supõe extrair o corpo caloso, o qual é a maior conexão do cérebro entre os dois hemisférios. Portanto, implica uma desconexão da cooperação entre o hemisfério esquerdo e o direito.

Hemisférios cerebrais

Um dos sintomas mais curiosos é a síndrome da mão esquerda. Com ela, parece que a mão esquerda do paciente tem vida própria e o sujeito não é capaz de informar o comportamento motor dela. Isso ocorre devido à área encarregada do movimento voluntário da mão esquerda estar no hemisfério direito, enquanto a linguagem se encontra no esquerdo.

Neste transtorno observamos como cada um dos hemisférios tem um comportamento independente do sujeito. Existe uma variedade de relatos de pacientes que nos asseguram isso. Por exemplo, um paciente enquanto está lendo um livro, sua mão esquerda se move para fechá-lo, pois o hemisfério direito não sabe ler e se aborrece. Em outro caso, um paciente tentava encostar em seu cônjuge com a mão esquerda, enquanto tentava evitá-lo com a direita.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.