5 consequências do apego desorganizado

5 consequências do apego desorganizado
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Equipe Editorial

Última atualização: 27 setembro, 2020

O apego é o vínculo afetivo que se desenvolve primeiro, e leva à busca por segurança e bem-estar. Em alguns casos, nos quais a mãe ou o cuidador primário representa para a criança uma fonte de perigo e de proteção, falamos de apego desorganizado.

Para Bowlby (1969), dizer que uma criança tem apego a alguém significa que ela está disposta a procurar a proximidade e o contato em uma figura específica. Isso acontece em determinadas situações, principalmente quando está assustada, cansada ou doente. Dando um passo além, o certo é que todos precisam de vínculos de apego, que vão mudando ou se adaptando a novas regras.

“A história prévia da criança é a que condiciona sua forma de se sentir no mundo e o que esperam dela.”
– Charo Blanco –

Por que as crianças com apego desorganizado podem se transformar em agressores?

O apego tipo D (desorganizado) foi relacionado, em sua origem, com ambientes patológicos e diferentes formas de maus-tratos infantis, físicos ou emocionais, dentro do sistema familiar. Neste sentido, as vítimas de atos violentos e maus-tratos podem ter dificuldades para se relacionar com outras pessoas, simplesmente por desconhecimento ou falta de um modelo relacional de referência.

A probabilidade de que a ira que acompanha estas crianças termine se incorporando de alguma forma a sua personalidade é muito grande. Esta carga emocional negativa dificulta o controle de seu próprio comportamento e a regulação de suas próprias emoções, aumentando assim o risco de que eles também recorram à violência.

Os castigos desproporcionais e os maus-tratos são fontes de mensagens destrutivas para as vítimas, que estas interiorizam a níveis muito profundos por virem de pessoas de referência. Em consequência, provocam um grande impacto em áreas críticas do desenvolvimento infantil, prejudicando seu futuro desenvolvimento social, emocional e cognitivo… enquanto arruínam infâncias.

Criança sofrendo por pai alcoólatra

A seguir, apresentamos a você, leitor, as cinco consequências mais importantes do apego desorganizado:

1. A distorção da imagem de si mesmo e a baixa autoestima

Uma criança com apego desorganizado pode formar uma imagem ruim de si mesmo. Pode inclusive acreditar que ela é a causa do descontrole de seus pais, o que a levará a se representar como uma pessoa ruim, inadequada ou perigosa. Em consequência, o mundo lhe parecerá um lugar inseguro e caótico, onde existem normas e regras que fogem da sua compreensão.

As crianças maltratadas costumam ter sentimentos de inferioridade, manifestados em comportamentos de timidez e medo. Por sua vez, podem se apresentar comportamentos de hiperatividade, tentando chamar a atenção de quem as rodeia em uma tentativa desesperada de obter os reforços que não encontram pelos caminhos naturais.

2. Maior taxa de problemas de comportamento

Os tipos de apego inseguro, e especialmente o desorganizado, estão associados a maiores taxas de conduta antissocial e problemas de comportamento. Não é raro que reproduzam o padrão de relação que veem em casa com seus pais e cuidadores. Sentem confusão e apreensão com respeito à proximidade com os pais, já que não têm claro como e nem quando responderão às suas necessidades. Além disso, desconfiam dos contatos físicos, particularmente dos adultos.

A principal razão pela qual o comportamento destas crianças se desorganiza se deve ao fato de que não podem encontrar solução para os seus problemas, nem se afastando e nem se aproximando de seus cuidadores primários. De fato denomina-se “apego desorganizado” já que elas não não conseguem estabelecer um padrão geral de suas respostas afetivas: tanto nas manifestadas quanto nas internas.

3. Desenvolvimento de transtornos de angústia e depressão

A tristeza, a indiferença e a irritação são emoções mais comuns no rosto destes pequenos. A esta conjugação emocional, além disso, é preciso somar a falta de motivação, podendo levá-los a um estado de humor deprimido ou a comportamentos autodestrutivos nos casos mais graves. Outros sintomas, como o medo, a ansiedade e o estresse pós-traumático, são a consequência natural de viver em um contexto que não conseguem controlar.

Por outro lado, estes menores parecem ter menos capacidade de enfrentar o estresse associado à separação de seus cuidadores primários. O motivo desta “incapacidade” está relacionado com a carência de estratégias consistentes que lhes permitam regular as emoções negativas.

Criança chateada

4. Problemas de atenção e concentração

Graças a diversos estudos, sabe-se que as crianças com TDAH apresentam um déficit importante em habilidades de autorregulação (controle de impulsos, capacidade de se acalmar, regulação dos afetos, perseverança, inibição, etc.). O certo, e sem sairmos do tema que nos ocupa, é que a relação precoce entre a criança e seus cuidadores primários condiciona a base para adquirir tais competências. Portanto, as crianças com apego do tipo D são mais vulneráveis a apresentar problemas na aquisição destas habilidades.

Quando se fala da perda de familiares ou de abuso com este tipo de pessoas, são observados grandes lapsos em seu raciocínio ou seu discurso. As experiências que são muito traumáticas têm o potencial de gerar uma desconexão a nível cerebral; ou seja, é como se os hemisférios cerebrais se separassem.

5. Mostram uma maior alteração do sistema nervoso

Em algumas ocasiões, estas crianças não interagem com seus iguais e nem com seus cuidadores. Por não contarem com as habilidades e reforços necessários, não sabem como responder aos demais diante de certas situações. De fato, foi observado que realizam movimentos inacabados ou desorientados sem uma direção ou intenção clara. Mostram imobilização, batem com as mãos ou a cabeça e têm o desejo de fugir da situação, ainda que estejam na presença de seus cuidadores.

Sua conduta pode oscilar entre uma gama muito ampla, desde a passividade até o nervosismo. Por não serem capazes de prever a conduta do cuidador, o lógico é que tentem captar todos os indicadores disponíveis, adotando uma posição de hipervigilância.

“Não são só as pancadas que doem.”
– Pamela Palenciano –

Criança gritando e tampando os ouvidos

Histórias nas quais os protagonistas são a falta de atenção, os maus-tratos ou os abusos sexuais, são as que dão forma a um estilo de apego desorganizado. Esse banco de experimentos que é a infância resulta em adultos inseguros, tímidos e retraídos na hora de se relacionar com os demais. Estas pessoas se dão conta de que aprenderam uma maneira de envolver e conservar relações que só lhes traz mais dor; um estilo que, ao mesmo tempo, são incapazes de modificar.

Assim, ao não encontrarem em sua infância a oportunidade de adquirir uma representação simbólica de seus estados mentais nas mentes de outras pessoas, seu padrão de apego se torna caótico. Inclusive no caso de serem capazes de mentalizar, é provável que tenham uma falha na hora de integrar sua organização do “eu” e suas representações mentais.

É errado pensar que, quando as crianças são pequenas, elas não entendem o que acontece ao seu redor, ou que não se lembrarão de certos momentos quando crescerem. A verdade é que tudo que acontece em sua criação terá o potencial de afetar o seu futuro próximo, o amanhã. Nesse sentido, temos o dever de ser afetuosos, compreensivos, de lhes oferecer segurança, proteção e apoio se queremos que desenvolvam um apego seguro. As crianças são o futuro, cuidemos delas.

Referências bibliográficas

  • Gayá Ballester, C., & Molero Mañes, R., & Gil Llario, M. (2014). Desorganización del apego y el trastorno traumático del desarrollo (TTD). International Journal of Developmental and Educational Psychology, (1), 375-383.
  • https://www.fundacioncadah.org/web/articulo/tdah-apego-importancia-de-relacion-madre-hijo.html

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