5 tendências cognitivas que favorecem os poderosos
A mente humana é realmente surpreendente. Não apenas pelo que é capaz de criar e aprender, mas pelas muitas maneiras como pode enganar a si mesma. Em parte, é isso que nos faz incorporar diferentes tendências cognitivas em nossos processos de pensamento. Tendências que, por outro lado, são frequentemente condicionadas por aqueles que têm ou querem ter o poder em seu benefício.
Pensar de maneira racional requer esforço, preparação e fontes de informação confiáveis. Além disso, as pessoas tendem a se deixar guiar por simpatias, gostos, medos, etc. Muitas vezes não questionamos uma ideia – especialmente se ela casa com o que já pensamos – mas a aprovamos ou desaprovamos porque “sentimos” que é melhor assim. Este é um exemplo claro de como as tendências cognitivas operam.
Durante as eleições políticas e também no exercício do poder, muitos usam essas tendências cognitivas para manipular as opiniões das pessoas. Eles chegam a fazer as pessoas acreditarem que o que é vantajoso só para uma minoria é bom para todos. Ou vice-versa. Vamos ver 5 desses mecanismos de controle a seguir.
Tendências cognitivas que favorecem os poderosos
1. Viés do Karma
Essa é uma das tendências cognitivas mais destrutivas, porque leva a grandes injustiças. Consiste numa interpretação equivocada e simplista do princípio da ação e reação. Supõe-se que alguém não pode passar por algo sem ter feito algo para que isso acontecesse.
Desta forma, chega-se a pensar que quem está em uma situação ruim, é porque a merece. Os pobres são culpados de sua pobreza, a vítima da agressão, o doentes de suas dores, etc. Embora não haja nenhum dado que confirme isso, de maneira preconceituosa tendemos a considerar que há “alguma coisa” por trás de cada pessoa em uma situação ruim. Além disso, essa tendência se favorece porque nos dá a sensação de estar em um mundo mais controlável, para que possamos sempre fazer algo para não acabar como as outras pessoas. Ou seja, esse viés tem um reforçador intrínseco incorporado a ele que tende a perpetuá-lo.
2. Viés de confirmação
O viés de confirmação consiste em dar crédito apenas aos dados que confirmam nossas crenças já estabelecidas. Nesse caso não se avalia a fonte desses dados nem se contrasta com outras ideias que sejam diferentes. Simplesmente se adere à ideia, de maneira mais ou menos cega. Esse viés também carrega um reforçador intrínseco: favorece, ao menos em primeira instância, a economia cognitiva.
Isso se aplica particularmente em situações de eleição de um partido político ou de uma religião. Em geral, essas crenças são herdadas e nunca colocadas em questão. Não se tem noção de nenhuma outra postura, e assim assume-se automaticamente que a própria crença é a verdadeira. Portanto, só se consideram válidos os dados que a ratificam.
3. Efeito de enquadramento
Esse é um dos vieses cognitivos que estão diretamente relacionados com a mídia. Tem a ver com a tendência de tirar conclusões diferentes, dependendo de como acessamos a informação ou como ela é apresentada a nós.
Um exemplo clássico é o seguinte: “Mais de 30% não concordam com Paco”. Então, ao invés de dizer que cerca de 70% das pessoas compartilham das ideias de Paco, enfatiza-se o contrário. Desta forma, é dada uma conotação mais negativa do que positiva.
4. Correlação ilusória
A correlação ilusória é a tendência de estabelecer ligações entre duas variáveis, embora objetivamente essa associação não exista. Desta forma, duas realidades são associadas a partir de elementos pouco válidos. Geralmente pretende-se encobrir alguma situação ou construir uma ilusão de verdade.
Um exemplo muito comum disso é quando se associam fatos estruturais com situações pontuais que não têm relação. Por exemplo, digamos que a prosperidade começou quando “x” governante chegou ao poder, sem levar em conta que naquele tempo um campo de petróleo foi descoberto no país. A fonte do progresso não é o governante, mas a descoberta do minério. O contrário também pode acontecer.
5. Custo irrecuperável
Esse também é um dos vieses cognitivos mais prejudiciais, porque é a base da intolerância. Consiste em nos apegarmos a ideias como se fossem parte de nós mesmos.
É por isso que assumimos que o custo de mudar de opinião é muito alto. Por um lado, implica nos desfazermos de algo que consideramos “nosso”, o que nos faz enxergar a situação como uma perda. Por outro lado, implica um grande esforço. Desfazer ideias e compreender novas formas de ver as coisas supõe um exercício fascinante, mas muitas vezes também é difícil.
É muito importante conhecermos essas tendências cognitivas para detectá-las e modular sua influência em nossa linha de pensamento. Por outro lado, a melhor maneira de fazer isso é nos informando bem. Isso significa buscar fontes confiáveis e neutras. Também analise e digira corretamente tudo aquilo que vem de fontes que têm interesse na sua opinião, principalmente das figuras de poder.