A autoestima no uso de drogas: a teoria do autodesprezo
Desde a psicologia vem sendo estudada a origem e a manutenção do comportamento do uso de drogas. Inúmeras teorias e modelos explicativos foram desenvolvidos em torno desse fenômeno. As mais conhecidas são aquelas que explicam o início e a manutenção do consumo como um processo de condicionamento. Mas o que sabemos sobre o papel que a autoestima desempenha no uso de drogas?
O relatório de 2019 sobre drogas em nosso país informou que cerca de um terço da população adulta admite ter usado uma substância ilícita em algum momento de suas vidas.
O transtorno por uso de drogas é um problema grave, cada vez mais difundido e cujo aparecimento está cada vez mais precoce. Nos jovens, especialmente, o papel da autoestima no uso de drogas é crucial. Vamos ver por quê.
A autoestima e suas dimensões
A autoestima é a avaliação, positiva ou negativa, que fazemos do nosso autoconceito: a descrição que fazemos de nós mesmos. Além disso, é uma ferramenta muito útil para enfrentar situações difíceis da vida. Um nível mais alto ou mais baixo de autoestima pode fazer a diferença entre uma estratégia de enfrentamento adequada e uma estratégia de enfrentamento errada.
Não é um fator unitário, mas multidimensional. Além disso, nem todas as dimensões exercem a mesma influência na iniciação ou manutenção do comportamento de consumo. Não há concordância quanto ao número de dimensões e, portanto, focaremos naquelas que são relevantes para explicar o papel da autoestima no uso de drogas.
- Social: é a percepção de se sentir aceito e pertencente a um grupo social.
- Familiar: é como se percebe como parte de uma família e nas relações que se estabelecem dentro do núcleo familiar.
- Acadêmico: É como se percebe no âmbito acadêmico (se for o caso). Se acredita que é capaz de realizar academicamente o que se espera dele, se se considera um bom ou mau aluno em relação à sua capacidade cognitiva, se é capaz de superar fracassos,…
Os resultados da pesquisa indicam que existe uma correlação negativa entre a autoestima familiar e acadêmica e o uso de substâncias. Ou seja, quanto maior o nível de autoestima familiar e acadêmica, menor a probabilidade de uso de drogas. Enquanto a autoestima social está positivamente relacionada ao uso de drogas: jovens com maior autoestima social são mais propensos ao uso de substâncias, o que é paradoxal.
A autoestima social tem a ver com a capacidade de interagir em novos contextos, como a vida noturna. O uso de substâncias ajuda a regular essas interações, o que pode aumentar a autopercepção como ser social (daí a correlação positiva).
Teorias que dão um papel relevante à autoestima no uso de drogas
São inúmeros os autores que consideram que o papel da autoestima é central quando se trata de explicar a origem ou manutenção do uso de substâncias. Ou seja, consideram que existe uma relação positiva entre autoconceito ruim e baixa autoestima ou autoconfiança e uso de substâncias.
Os autores explicam que, como as drogas são nocivas e prejudiciais, apenas pessoas com baixa autoestima estariam dispostas a tomá-las.
“As drogas são uma perda de tempo. Elas destroem sua memória, respeito e autoestima.”
-Kurt Cobain-
Entre essas teorias encontramos:
- Modelo ecológico social de Kumpfer e Turner. Esse modelo centra-se no papel do estresse na escola e na autoeficácia.
- Modelo de aprendizagem social multidimensional de Simons, Conger e Whitbeck. Concentra-se na autoestima, habilidades de interação, habilidades de enfrentamento e sofrimento emocional.
- Teoria da interação Familiar de Brook, Gordon, Whiteman e Cohen. Essa teoria inclui uma ampla gama de variáveis intrapessoais, considerando a autoestima como a mais significativa.
- Teoria de autodesprezo de Kaplan, Martin e Robins. Focada na autoestima em geral, então vamos nos concentrar nela.
A teoria do autodesprezo: explicando a influência da autoestima no consumo de drogas
A teoria do autodesprezo, também chamada de teoria da automenosprezo ou teoria da auto-rejeição, é um modelo explicativo do comportamento de uso de drogas. Kaplan e seus colaboradores explicam que o comportamento desviante (consumo) responderia a uma necessidade autocompensatória do sujeito diante da baixa autoestima.
A percepção negativa de si mesmo seria determinada por experiências sociais desfavoráveis, responsáveis por desconforto psicológico e baixa autoestima. Consequentemente, o indivíduo se distancia progressivamente das circunstâncias que são fonte de desconforto e busca alternativas que o ajudem a recuperar sua autoestima.
Isso, aliado à acessibilidade de substâncias ilícitas ou pertencer a um grupo social que consome, por exemplo, pode fazer com que esses comportamentos se tornem mais prováveis. De fato, ao realizá-los, obtém o reconhecimento do grupo de iguais, ao mesmo tempo que se afasta dos comportamentos convencionais. Esse raciocínio é consistente com a correlação positiva encontrada entre a autoestima social e o comportamento de consumo.
Prevenção através da melhora da autoestima
Apesar do volume considerável de pesquisas sobre o tema, ainda não há consenso sobre a correlação entre autoestima e uso de drogas. No entanto, considera-se que a autoestima desempenha um papel importante.
Isso fez com que o trabalho de melhoria da autoestima tenha adquirido um papel central, não apenas na prevenção do uso de drogas, mas também, nos programas de tratamento dos transtornos por uso, como primeira etapa do processo.
Como mencionamos, a autoestima é uma ferramenta poderosa para lidar com situações difíceis. Portanto, quanto maior nossa autoestima, maior nossa capacidade de enfrentamento, maior nossa capacidade de estabelecer relacionamentos saudáveis e maior nossa motivação. Isso é benéfico tanto para recusar drogas ou querer parar de usá-las quanto para lidar com uma recaída.
“Na luta contra o vício, nossa verdadeira tarefa não é tanto apontar os efeitos destrutivos dos comportamentos viciantes, mas reacender a consciência da perfeição que sempre nos habita.”
-Deepak Chopra-
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Ochoa, G. M., & Olaizola, J. H. (2003). El rol de la autoestima en el consumo moderado de drogas en la adolescencia. Revista Internacional de Ciencias Sociales y Humanidades, SOCIOTAM, 13(1), 285-306.
- Cava, M.J. & Musitu, G. (2000). La potenciación de la autoestima en la escuela. Barcelona: Paidós.