A mulher do búfalo branco, uma maravilhosa lenda dos índios americanos

A mulher do búfalo branco, uma maravilhosa lenda dos índios americanos
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

Conta uma profecia dos índios Lakota que em algum momento regressará a nós a mulher do búfalo branco. Trata-se de uma wakan, uma mulher sábia portadora de magia que restaurará com seu poder a união entre todos os filhos da Mãe Terra. Sua chegada contribuirá também para devolver nosso equilíbrio com a natureza, para restaurar esse legado tão maltratado.

Há algo verdadeiramente maravilhoso em todas essas lendas dos povos nativos americanos. Não importa o quão antigas sejam, não importam os séculos que passaram nem que nós mesmos não tenhamos tais raízes étnicas ou culturais. Essas tradições sempre nos deixam ensinamentos sobre os quais refletir.

Para os nativos americanos, o nascimento de um búfalo branco é um símbolo de renascimento e harmonia mundial.

A lenda da mulher do búfalo branco já tem mais de 2000 anos de idade. É um relato originário da nação Lakota, um dos povos mais relevantes das chamadas Turtle Islands, na América do Norte. Não nos surpreende saber que nos últimos meses essa profecia tem sido uma fonte de esperança para os lakota, uma oração desesperada.

Faz mais de um ano que ouvimos falar do projeto do Oleoduto Lakota Access. Essa construção tem como objetivo transportar petróleo da Dakota do Norte até Patoka (Illinois). É uma megaestrutura de mais de 1800 quilômetros que passaria por várias reservas indígenas. Uma atrocidade cultural e ambiental que pôs em pé de guerra os próprios nativos e grupos naturalistas, como o Greenpeace.

Após Barak Obama ter paralisado o projeto no final do seu mandato, Donald Trump o reativou. Os indígenas continuam com sua luta incansável, esperando que em algum momento a profecia da mulher do búfalo branco se torne realidade…

A lenda da mulher do búfalo branco

A mulher do búfalo branco, uma figura feminina de poder

Um dos difusores dessa maravilhosa lenda é Joseph Chasing Horse. Embaixador nas Nações Unidas do povo Lakota Sioux, nunca perde a oportunidade de relatar essa profecia que atua como canal de união entre grande parte dos povos indígenas.

Conta essa profecia que a mulher do búfalo branco apareceu no nosso mundo há mais de 2000 anos. Foi durante um período de muita fome, de guerras e desavenças entre vários povos. A história se inicia com dois jovens lakota, dois guerreiros que passeavam com seus cavalos magros buscando algo para caçar, quando de repente vislumbraram no horizonte uma figura feminina envolta em uma luz cálida, em uma bruma de fascinantes clarões de luz.

A mulher estava acompanhada de um búfalo branco. Era alta, esbelta e usava um vestido com bordados sagrados, uma pluma no cabelo e folhas de sálvia na mão. Era muito bonita, tanto que um dos jovens guerreiros não hesitou em aproximar-se dela com o desejo de possuí-la. No entanto, e antes que pudesse sequer tocar sua pele, uma nuvem escura pairou sobre ele disparando um raio de fogo. Ficou carbonizado em poucos segundos.

A lenda da mulher do búfalo branco

O outro jovem guerreiro se ajoelhou imediatamente aterrorizado pensando que também teria a mesma sorte. No entanto, a bela mulher não hesitou em acariciar seu cabelo e falando o seu mesmo idioma. Ela disse que era uma wakan, uma mulher que tinha vindo para ajudá-los.

O início de uma nova era recordando velhas tradições

A mulher santa foi recebida com muita expectativa no povoado lakota. Prepararam-lhe a melhor tenda e, ao acomodá-la no interior, a manhã se transformou em crepúsculo e uma luz de cor âmbar com raios rosados envolveu aquelas terras onde se estendiam a fome e a miséria. Apesar disso, as pessoas tentaram oferecer-lhe o que tinham de melhor: algumas raízes, alguns insetos, ervas secas e água fresca.

Depois disso, a mulher do búfalo branco ensinou ao povo lakota a fumar no cachimbo, lhes ofereceu tabaco de salgueiro vermelho de cortesia e os chamou para dar voltas ao redor das tendas para honrar o sol, para criar um círculo de força com a vida e agradecer. Mais tarde, apresentou uma série de práticas espirituais, formas de reverenciar a natureza, orando com palavras corretas e proferindo ritos ancestrais que o povoado lakota já tinha esquecido completamente.

Mesmo assim, ela os convidou a entoar cânticos para fazer a Terra feliz, melodias, versos e entoações que deviam ser dirigidas às quatro direções do universo. Lembrou também a importância de praticar a cerimônia do cachimbo da paz, onde homens e mulheres deveriam se reunir para honrar suas almas, para honrar o próprio grupo e sua união com o além.

A lenda da mulher do búfalo branco

A mulher do búfalo branco se despediu indicando-lhes que enquanto fizessem todas essas cerimônias sagradas e cuidassem da Terra, elas os protegeria. Antes de partir, trouxe do horizonte uma extensa manada de búfalos pretos. Eram tantos que as montanhas se cobriram de escuridão e o solo tremia debaixo dos pés, o mundo bombeava uma força de novo frente à chegada desses animais que representavam a sobrevivência para os nativos americanos.

No momento em que a mulher wakan desapareceu, manadas de búfalos apareceram. E a partir desse dia, o búfalo passou a fornecer carne para as pessoas, peles para suas roupas e tendas, e ossos para todas as suas ferramentas.

A mulher santa os deixou dizendo: Toksha ake wacinyanktin ktelo (que em português significa “eu os verei de novo”). Uma mensagem de esperança que até hoje muitos lakota repetem, sonhando com um regresso onde essa presença feminina consiga mais uma vez purificar o mundo, trazer harmonia, equilíbrio e espiritualidade para todas as nações.


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