A música torna as crianças mais inteligentes?

A música torna as crianças mais inteligentes?
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Você já ouviu falar do “efeito Mozart”? Alguma vez já ouviu aquela história de que a música torna as crianças mais inteligentes? Você sabe de onde vêm todas essas crenças que relacionam música e inteligência? Você já parou para pensar se essa afirmação tem alguma base científica?

São muitas as circunstâncias ou as atividades que podem ajudar a potencializar a inteligência nas crianças. A música é uma delas, mas não é a única. Muitos estudos têm tentado estabelecer um vínculo entre o aprendizado de um instrumento musical e a inteligência. E então? Quem não aprende a tocar um instrumento vai ser menos inteligente?

O projeto Baby Mozart, a série de desenhos animados Mini Einsteins e dezenas de programas e projetos de estimulação precoce nos fizeram acreditar que a música deixa as crianças mais inteligentes. Para atingir esse objetivo, a música clássica foi identificada como especialmente benéfica, salientando as obras de Mozart.

Pai tocando piano com seu bebê

Então você podia ver – e vê – pais e professores, e até mesmo mães grávidas, colocando música clássica para os bebês ouvirem, levando seus filhos a aulas de música o mais cedo possível, como se tivessem descoberto o ingrediente mágico da inteligência. A grande pergunta então é: tudo isso funcionou mesmo? A música realmente torna as crianças mais inteligentes?

Bem, não. Ou pelo menos não o suficiente para falar de um notável benefício. A ideia de que tocar música clássica tornaria as crianças mais inteligentes não deixa de ser controversa à luz de uma literatura na qual encontramos estudos que apresentam resultados contraditórios.

O estudo que em 1993 descobriu que a música torna as crianças mais inteligentes não pode ser reproduzido nem permitiu uma ampliação do experimento. Ou seja, o que seria um estudo científico na verdade não era. Na verdade, a ideia foi um instrumento de marketing espetacular, disso não há dúvidas.

A música traz muitos benefícios para o cérebro infantil

Com tudo isso, não quero dizer que a música não serve para nada. Na verdade, a música traz muitos benefícios para o cérebro infantil e também para o cérebro dos adultos. Muitas pesquisas se focaram exatamente em comprovar o efeito que a música exerce no cérebro.

Parece que a música prepara nossos cérebros para certos tipos de pensamento. Por exemplo, várias pesquisas descobriram que depois de escutar música clássica, os adultos podem fazer determinadas tarefas espaciais mais rapidamente.

Mas por que isso acontece? Aparentemente as “vias musicais clássicas” no nosso cérebro são parecidas com as vias que usamos para o raciocínio espacial. Assim, quando escutamos música clássica, as vias espaciais já estariam “acesas” e prontas para serem usadas.

Essa preparação prévia facilita a realização de tarefas espaciais. Mas o efeito dura apenas por um curto espaço de tempo. Nossas habilidades espaciais melhoradas desaparecem aproximadamente uma hora após pararmos de escutar música clássica.

Pai tocando violão com a filha

No entanto, aprender a tocar um instrumento pode ter efeitos mais duradouros no raciocínio espacial. Em vários estudos, as crianças que fizeram aulas de piano durante seis meses melhoraram suas habilidades de resolver quebra-cabeças e outras tarefas espaciais em até 30%. Nesse sentido, os pesquisadores acreditam que o treinamento musical cria novas vias no cérebro.

Também foi descoberto que as crianças que estudam música melhoram o processamento auditivo, de acordo com o que foi observado em exames cerebrais. Isso é importante porque as habilidades de processamento auditivo são fundamentais para o desenvolvimento da linguagem, bem como para o aprendizado de um segundo idioma ou para se concentrar melhor em ambientes com barulho.

Outras pesquisas também descobriram que a música pode trazer benefícios para o funcionamento cognitivo e também pode ajudar a reduzir a agressividade, aumentar a tranquilidade, reduzir o estresse e melhorar o humor. No entanto, isso não significa exatamente que a música torna as crianças mais inteligentes.

Afinal, podemos dizer que a música torna as crianças mais inteligentes?

Tudo que foi dito anteriormente não deixa dúvidas de que a música beneficia crianças e adultos de muitas maneiras, mas deixar mais “inteligente” ou melhorar na escola provavelmente não é um dos seus benefícios. Sim, a música ajuda. Mas não tanto quanto parece ou, pelo menos, quanto nos fizeram acreditar.

Vários estudos mostram que as crianças que fazem aulas de música ou que recebem educação musical nas escolas também funcionam melhor em atividades intelectuais. Mas é provável que as famílias e as escolas que investem na educação musical dos seus filhos e em outras artes sejam diferentes em muitos aspectos das famílias ou das escolas que não fazem isso. Provavelmente essa é a verdadeira causa das diferenças observadas.

Vários pesquisadores tentaram reproduzir as descobertas de modestos ganhos em inteligência, habilidades intelectuais e desempenho acadêmico. No entanto, os resultados dos seus estudos de educação musical em crianças não demonstraram que a música torna os pequenos mais inteligentes, inclusive alguns dos estudos revelaram perdas.

Mulher segurando seu filho no colo

Na verdade, o que precisamos fazer é brincar e conversar com nossos filhos. Abraçar, beijar, dar carinho… Cantar, dançar, ler, descobrir com eles…  Estimular a criatividade, alimentar a curiosidade…

É o amor o que realmente torna as crianças mais inteligentes. É o amor que vai transformar seus filhos na melhor versão de si mesmos.

A música torna as crianças mais inteligentes? O que importa? Se o que você deseja de verdade é que seus filhos sejam mais espertos, passe mais tempo de qualidade com eles, muito tempo. Esse sem dúvidas é um fator muito mais decisivo que a música. Não se engane!


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.