A sesta hipnagógica de Dalí, funciona?
Existe um tipo de descanso que é conhecido como o cochilo hipnagógico de Dalí, o cochilo criativo. Na verdade, Salvador Dalí não foi o único a usá-lo, mas foi um dos mais famosos. O objetivo: ser mais criativo.
Embora Thomas Alva Edison pareça ter praticado também o cochilo hipnagógico, Dalí refinou o método e o difundiu mais amplamente. Eles, como tantos outros, estavam convencidos de que dormir um pouco, na hora certa, era a chave para que as ideias voltassem a fluir e com mais força. Já existem evidências científicas de que eles estavam certos.
Sabe-se que personagens como Albert Einstein e Lewis Carroll também eram praticantes regulares do cochilo hipnagógico. Quem usa esse recurso diz que é uma ótima opção quando tem um problema que não consegue resolver, quando tem um bloqueio intelectual de qualquer tipo, ou simplesmente quando quer ser mais criativo. Vamos ver do que se trata.
“Dê-me duas horas por dia de atividade e continuarei as outras vinte e duas em sonhos”.
-Salvador Dalí-
Sonhos e alucinações hipnagógicas
Para entender o que é o cochilo hipnagógico, devemos primeiro falar sobre o sono. Este tem basicamente duas fases: REM e não REM. REM é um acrônimo para movimento rápido dos olhos. Assim, no sono REM , tais movimentos ocorrem, enquanto no sono não REM, obviamente, não há nenhum.
Por sua vez, a fase não REM, quando os olhos estão quietos, é dividida em quatro fases, dependendo da profundidade do sono:
- Adormecimento.
- Sono leve.
- Sono leve/profundo.
- Sono profundo em estágio não REM.
Após essas fases, inicia-se a fase REM, que corresponde a um sono muito profundo. Já o termo “hipnagógico” foi introduzido por L. Maury e refere-se ao momento de “sono acordado”. Isso corresponderia aos estágios dois e três do sono não REM: sono leve ou sono leve/profundo.
Se uma pessoa acorda nesses estágios, é provável que algumas imagens de sonho persistam no estado consciente. Na verdade, é relativamente comum que ocorram alucinações auditivas, visuais ou táteis neste momento. A questão é que vários gênios descobriram que essa etapa também poderia ser muito produtiva.
A sesta hipnagógica de Dalí
Salvador Dalí escreveu um livro chamado 50 segredos mágicos para pintar. Lá ele propôs seu famoso cochilo hipnagógico. Sua aplicação é dividida em cinco etapas:
- Sente-se em uma poltrona com braços.
- Carregue uma colher de metal pesado na mão.
- Coloque uma placa de metal de cabeça para baixo e sob a mão que segurava a colher.
- Ao atingir o estado de “dormir”, a colher cairá da mão e se chocará contra a placa de metal, produzindo um grande ruído. É hora de acordar.
Como você pode ver, quase não é um método para tirar uma boa soneca, mas sim para evitá-la. De qualquer forma, de Aristóteles a Edison, eles concordaram com Dalí que essa interrupção repentina do sono era muito benéfica em termos de criatividade. Mas é mesmo?
Um experimento revelador
Um grupo de cientistas do Paris Brain Institute decidiu testar o famoso cochilo hipnagógico de Dalí. Os resultados da pesquisa foram publicados na famosa revista Science Advances.
Os cientistas recrutaram 103 pessoas saudáveis, que dormiam normalmente. Todas elas receberam 10 problemas matemáticos. Elas também receberam duas regras para resolvê-los e uma terceira regra foi ocultada deles. Após certo tempo de trabalho, devem fazer uma pausa e, se possível, dormir. Quem dormia tinha que segurar um copo na mão, e acordar se caísse. Ao mesmo tempo, os participantes foram monitorados por meio de um scanner cerebral.
Analisando os resultados, viu-se que quem teve um cochilo hipnagógico de pelo menos 15 segundos triplicou a possibilidade de encontrar a regra oculta dos problemas matemáticos. Esse fenômeno não foi observado nem naqueles que não dormiram, nem naqueles que atingiram a fase REM do sono. Aparentemente, Dalí sabia exatamente do que estava falando.
A ciência ainda não sabe por que esse efeito ocorre durante uma fase do sono. No entanto, é claro que acende a centelha da criatividade e que qualquer pessoa pode se beneficiar dela.
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