A verdadeira história de John Nash, o gênio atormentado

A verdadeira história de John Nash, o gênio atormentado
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 01 dezembro, 2017

Qual é a verdadeira história de John Nash? Nós o conhecemos, em primeiro lugar, porque ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1994. Depois o conhecemos um pouco mais no filme “Uma mente brilhante”, que se baseou em um livro do mesmo nome e revelou a extraordinária trajetória desse gênio da matemática.

John Forbes Nash nasceu em 13 de junho de 1928 em uma pequena cidade do estado de Virgínia, nos Estados Unidos. Desde criança ele mostrou ter um caráter introvertido e não possuir muitas habilidades sociais. Por isso, teve uma infância e uma adolescência solitárias. Ele não  brincava muito com as outras crianças, mas sentia grande curiosidade pelos livros. A mãe de John Nash, longe de desmotivá-lo, o incentivava a cultivar o intelecto.

Contrariamente ao que se poderia pensar e assim como aconteceu com muitos outros gênios, John Nash não se destacou pelas notas na escola. Sua falta de aptidão na escola era tanta que vários professores chegaram a duvidar da sua capacidade intelectual. Houve até alguns que sugeriram um leve atraso. Apesar de tudo isso, Nash adorava fazer experiências científicas na privacidade do seu quarto.

“As pessoas sempre estão vendendo a ideia de que pessoas com doenças mentais sofrem. Acho que a loucura pode ser uma via de escape. Se as coisas não estão bem, talvez se queira imaginar algo melhor.”
-John Nash-

A verdadeira história de John Nash: um menino “raro”

Quando era adolescente, John Nash começou a demonstrar interesse pela matemática, mas especialmente pela química. Dizem que ele esteve envolvido na fabricação de alguns explosivos que explodiram por engano e provocaram uma morte na escola que frequentava.

Em 1945, Nash ganhou uma bolsa de estudos para entrar no Institute of Technology. Ele ia estudar engenharia química. Mas o diretor do departamento de matemática, John Synge, o convenceu a se especializar nos números. Em 1948 ele se formou como matemático e recebeu uma bolsa de estudos em Princeton para fazer uma pós-graduação.

Em 1949, enquanto preparava seu doutorado, Nash escreveu o artigo com o qual ganhou o Prêmio Nobel quase 50 anos depois. O título da sua tese foi “Jogos não-cooperativos”. Depois, começou a trabalhar na RAND Corporation, uma instituição que fazia estudos científicos relevantes para a Guerra Fria. Dois anos depois, ele começou a trabalhar como professor no Massachusetts Institute of Technology.

John Nash com sua esposa

A sombra da esquizofrenia

Até então, tudo é parecido com o que foi contado no filme. Mas, a partir desse ponto, a verdadeira história de John Nash é diferente do que foi apresentado nas telas. John Nash teve um filho ilegítimo com Eleanor Stier. Isso provocou um grande escândalo na sua família. Pouco depois, seu pai morreu. Além disso, em 1954 Nash foi preso em uma operação destinada a caçar homossexuais. Por isso foi despedido do seu trabalho.

Em 1957 Nash se casou com Alicia Larde, uma aluna sua de origem salvadorenha. Eles tiveram um filho, mas pouco antes de a criança nascer, se divorciaram. Nash tinha esquizofrenia e Alicia não conseguiu aguentar. Desde então, Nash iniciou uma jornada por toda a Europa, onde tentou conseguir o status de refugiado político.

Ele nunca teve alucinações visuais, mas tinha alucinações auditivas. Achava que era um escolhido, uma figura religiosa. Ao mesmo tempo, sentia que havia um complô orquestrado pela União Soviética e pelo Vaticano contra ele. “Eu comecei a ouvir alguma coisa como chamadas telefônicas que tocavam no meu cérebro, de pessoas contrárias às minhas ideias”, declarou.

Nash, um exemplo de cura da esquizofrenia

John Nash recuperou a razão de uma maneira que muitas pessoas consideraram um milagre. Isso aconteceu depois de oito internações em vários centros de saúde mental e após ter sido submetido a uma alta dose de medicação, além de tratamentos agressivos que incluíram eletrochoques. Segundo seu próprio testemunho, em determinado ponto da vida ele parou de prestar atenção às vozes que escutava.

Esse gênio da matemática, um dia, parou de tomar os medicamentos que tinham sido receitados. Em uma entrevista realizada com Xavi Ayén, ele declarou que chega um momento em que os medicamentos fazem mais mal do que bem. Mas que para conseguir parar de tomar é preciso ter muito cuidado, pois é uma coisa perigosa. No entanto, ele abandonou o tratamento e, poucos anos depois, estava curado.

John Nash interpretado no filme 'Uma Mente Brilhante'

Alicia, sua ex-esposa, com a qual voltou a viver um tempo depois de ter ficado doente, garante que no caso de Nash não houve milagre. Ela declarou que “Tudo é uma questão de levar uma vida tranquila”.

Em 1996, a presidente da Associação Mundial de Psiquiatria, Felice Lieh Mak, apresentou Nash como “um símbolo de esperança, um explorador de um universo sem limites, o universo da mente humana”. O que é mais reconfortante, e ao mesmo tempo intrigante, é que a verdadeira história de John Nash é uma prova de que a esquizofrenia não é motivo para marcar necessariamente o final de uma vida. Ao mesmo tempo em que representa um estímulo para as pessoas que buscam terapias mais eficazes.


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