Adversidade, uma professora que poucos escutam

Adversidade, uma professora que poucos escutam
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 23 abril, 2020

Existem linhas de pensamento que pregam mensagens contra a adversidade. A sseguram que deve ser evitada a todo custo e apontam que uma vida feliz é aquela desprovida de dificuldades e obstáculos. Também promovem a ideia de que qualquer dificuldade é fonte de desconforto e que, portanto, deve ser erradicada.

Fazer generalizações sobre o lado obscuro da adversidade é um erro. Quer queiramos ou não, a adversidade faz parte da vida. O sofrimento existe e negá-lo não fará com que desapareça. De fato, as dificuldades são uma realidade valiosa, que dão corpo e significado à existência.

“Não há ninguém menos afortunado do que o homem que a adversidade esquece, porque não tem oportunidade de se colocar à prova”.
-Séneca-

Suponha que exista uma pessoa que nunca tenha encontrado adversidades. Que por uma razão ou outra, só vivenciou momentos felizes. Nunca encontrou um obstáculo e sempre obteve o que quis. Qual seria a consequência de uma vida assim? Certamente, o resultado seria uma personalidade carente de sensibilidade junto à presença de egoísmo e, inclusive, uma grande dificuldade para valorizar o que se tem e estabelecer metas de longo prazo.

Assim como a adversidade dá origem a momentos amargos e, às vezes, difíceis de superar, também traz consigo ensinamentos enormes. Aqueles que sabem descobri-las e aprender com elas geralmente são também aqueles que levam uma vida mais significativa e plena.

O pensamento positivo e a adversidade

Desde cerca de três décadas atrás, aproximadamente, começaram a ser conhecidas as filosofias da positividade. A maioria destas linhas de pensamento se originaram nos Estados Unidos e se tornaram muito populares em todo o mundo. Existem centenas de best-sellers e incontáveis ​​seminários, conferências e eventos sobre o assunto.

Mulher com guarda-chuva colorido

Em seu aspecto mais radical, este tipo de filosofia praticamente impõe a felicidade como modo de vida. Promove a ideia de um otimismo cego e sem nuances, que deve prevalecer sobre todas as circunstâncias. Trata-se de um convite para fugir de qualquer aspecto negativo das situações, das pessoas ou da própria vida.

Supõe-se, então, que as pessoas devem viver em um estado perpétuo de alegria, bom humor e euforia. Como se na vida não existissem os sofrimentos, as contradições, as perdas e os motivos para sentir tristeza, irritação ou frustração.

Esses tipos de postura, especialmente quando são extremas, são um convite para o autoengano. E também uma fonte de culpa, já que esse tipo de Nirvana raramente é alcançado. Na maioria das vezes nos condenamos a questionar nossa incapacidade de acessar as plenitudes que proclamam em livros e palestras.

A adversidade, um fato inescapável

Basicamente, todos nós queremos viver uma existência sem os grandes sobressaltos deixados pelas perdas. Ou sem as amarguras provocadas pela traição, a falta de amor ou a impossibilidade de alcançar objetivos que nos parecem decisivos.

Se a morte não deixasse para trás esse rastro de dor, ou se fôssemos capazes de alcançar tudo o que propomos, certamente tudo seria mais fácil. Mas, por que pensar que o mais simples é o melhor?

Digamos primeiro que a adversidade é absolutamente inevitável. O próprio fato de que todos estamos condenados a morrer já imprime a marca de um profundo limite a toda a nossa existência.

Flores nascendo no asfalto

No entanto, grande parte do saber viver reside na capacidade de enfrentar a adversidade. Olhe-a nos olhos, reconheça-a e assuma-a; não aja como se não a visse. Também assuma a parte de responsabilidade que lhe corresponde nas dificuldades que encontrar.

Os ensinamentos da adversidade

Tanto as filosofias orientais quanto várias das ocidentais deram um lugar diferente ao fracasso, à frustração e à adversidade. Insistem que o segredo de tudo não está no fato de que ocorrem eventos dolorosos, mas na perspectiva que assumimos para abordá-los.

Você sofre muito mais não aceitando adversidades do que o fazendo. A recusa em admitir que chegamos a um limite e que algum desejo é impossível não significa que o próximo passo seja o de pensar que todas as coisas boas da vida nos foram negadas para sempre.

Homem olhando pela janela

Nós nos conhecemos melhor nos momentos de adversidade. Entendemos melhor a vida e os outros quando sofremos em nossa pele os rigores do sofrimento. Adotando uma perspectiva de aprendizagem e de humildade, os maus momentos nos ajudam a construir o caráter. Eles nos renovam, nos convidam a uma mudança positiva. Da mesma forma, contribuem para dar mais sentido e intensidade aos muitos momentos felizes, que certamente também nos aguardam ao longo do caminho.


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