Alcatraz - Fuga Impossível: suspense e liberdade

'Alcatraz - Fuga Impossível' é uma canção à liberdade em sua forma mais pura. Asfixiante e claustrofóbico, consegue nos aprisionar e nos envolver em uma atmosfera na qual o suspense é mantido até o fim. Neste artigo, queremos falar sobre o que acontece atrás das grades de Alcatraz.
Alcatraz - Fuga Impossível: suspense e liberdade
Leah Padalino

Escrito e verificado por Crítica de Cinema Leah Padalino.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

No cenário mais isolado e inóspito mundo, no lugar em que ficavam os criminosos mais perigosos, nasceu o mito, a lenda que posteriormente seria levada para o cinema sob o título Alcatraz – Fuga Impossível (Don Siegel, 1979).

O filme tornou-se referência entre os que tratam de prisões (e com razão). A verdade é que, sempre que vemos um filme semelhante, compará-lo com Alcatraz é inevitável.

O ambiente frio e hostil, o confinamento e, acima de tudo, o suspense asfixiante o tornam um filme fascinante, que nos mantém atentos à tela a todo momento. O rosto enigmático de Eastwood é outro dos grandes pontos fortes do filme, além da localização excepcional e da narrativa real da história.

Parece que um filme baseado em eventos reais sempre desperta mais interesse, mas se, além disso, tratar de um dos mitos mais difundidos do século XX, este interesse será ainda maior.

Uma prisão em uma ilha assegurava o confinamento dos prisioneiros, impossibilitava que eles fugissem, e ainda assim eles conseguiam fugir. Se sobreviviam ou não, este é outro dos mistérios que levaram Alcatraz a ser conhecida em todo o mundo.

O cinema contribuiu para mitificar essa imagem e para que o imaginário coletivo fizesse suas próprias suposições. Don Siegel levou a angústia às salas de cinema e nos fez sentir empatia pelos prisioneiros que lá se encontravam, e que desejavam apenas a sua liberdade.

Alcatraz, atrás das grades

A ilha de Alcatraz está localizada nas proximidades da Baía de São Francisco (Estados Unidos). Ela serviu como fortificação militar, mas é mais conhecida por ter recebido alguns prisioneiros famosos, como Al Capone.

Depois de 29 anos de funcionamento, a prisão fechou suas portas e foi ocupada por várias tribos nativas americanas. Atualmente, a ilha de Alcatraz é um parque nacional e local histórico.

Durante seus anos como prisão federal, a ilha também contava com moradias para os funcionários e suas famílias. A principal função de Alcatraz era manter prisioneiros considerados extremamente perigosos, que haviam causado danos em outras prisões e cuja reinserção era considerada impossível.

O local era quase inacessível e garantia sua condição de segurança máxima; os prisioneiros eram proibidos inclusive de falar.

De alguma forma, criou-se um certo ar de mistério e terror em torno da prisão. Por um lado, ela abrigava os prisioneiros mais perigosos; por outro, ouvia-se sobre inúmeras atrocidades vindas de Alcatraz.

Os suicídios entre os prisioneiros iam aumentando, e outros, como Rufe Persful, chegaram a mutilar seus dedos.

Prisioneiro lendo no filme 'Alcatraz: Fuga Impossível'

A má reputação acompanhou Alcatraz durante muito tempo. O que acontecia atrás de suas grades permanecia em silêncio absoluto, mas os rumores eram cada vez mais fortes.

No entanto, parece que alguns apontaram que as condições da prisão não eram tão ruins quanto pareciam, e inclusive houve prisioneiros que pediram para ser enviados para Alcatraz alegando que a comida era melhor do que em outras prisões. Mas a polêmica sempre existiu. Julgamentos, suicídios… tudo parecia indicar que Alcatraz era um lugar onde a hostilidade reinava.

Tentativas de fuga de Alcatraz

Nos últimos anos de operação, há indicações de que algumas das estritas regras da prisão foram extintas ou suavizadas. Houve várias tentativas de fuga durante seus anos como prisão, mas apenas duas ficaram marcadas na história.

A primeira delas é conhecida como a Batalha de Alcatraz, que deixou um total de cinco mortos: dois guardas e três presos, além de vários feridos. A segunda foi a única tentativa bem-sucedida: a fuga de Alcatraz em 11 de junho de 1962.

O cérebro do plano foi Frank Morris, um ladrão acusado de posse de narcóticos e assaltos à mão armada, cujo QI era muito superior à média . Com ele, conseguiram fugir os irmãos John e Clarence Anglin; Allen West colaborou com eles e estava disposto a fugir, mas devido a um problema com seu duto de ventilação, não conseguiu escapar.

O plano era absolutamente perfeito e os prisioneiros desapareceram sem deixar vestígios. O FBI os deu por mortos, mas o mistério continua vivo até hoje.

Diz-se que a mãe dos irmãos Anglin recebia dois buquês de flores todos os dias das mães, e acredita-se que há uma fotografia que os mostra vivos. Em 2013, o FBI reabriu o caso após receber uma carta assinada por John Anglin na qual dizia que a fuga havia sido bem-sucedida e que, no momento, ele estava doente.

Certamente, nunca saberemos o que aconteceu, mas isso faz parte da magia dessa história.

Por que nos sentimos tão atraídos por essas histórias? Porque alimentam nossa imaginação e se conectam com um sentimento comum: o desejo de ser livre. O cinema forneceu imagens à nossa imaginação e nos permitiu visualizar como foi aquela fuga excepcional.

O longa elevou alguns prisioneiros ao nível de heróis da sociedade por desafiar o sistema e por alcançar aquilo que todos nós desejamos: a liberdade.

Cena do filme 'Alcatraz - Fuga Impossível'

Um caminho claustrofóbico para a liberdade

O filme começa com uma cena quase fantasmagórica da ilha no meio da noite, enquanto a chuva e a música nos mantêm em estado de alerta. Frank Morris avança na escuridão acompanhado pelos guardas que o conduzem à prisão, o farol é observado à distância e, pouco a pouco, nos aproximamos da ilha.

Esta introdução é perfeita; todos os elementos estão em perfeita harmonia e introduzem o espectador à história.

Frank Morris é apresentado como um personagem silencioso, que dificilmente se expressa com palavras, seu rosto é frio e distante, permanece sempre imperturbável.

A verdade é que poucos rostos poderiam ter se encaixado melhor do que o de Eastwood no personagem. Siegel tira um grande proveito do rosto enigmático de seu protagonista, dos gestos e dos pequenos detalhes.

A informação é dada de forma progressiva; sabemos que Morris possui uma inteligência incomum, muito superior à média, mas não sabemos muito mais sobre ele.

A atmosfera criada em torno do personagem é fascinante, e o restante dos presos e os funcionários da prisão também são perfeitamente explorados.

Cena do filme Alcatraz - Fuga Impossível

Um final que promove uma reflexão

Alcatraz nos mergulha na obscuridade da prisão, na difícil vida dos presos e nos mostra a inteligência excepcional de Morris. O grande realismo e o detalhe com que todos os passos a serem seguidos no plano são mostrados fazem do longa uma obra-prima, um filme do qual é impossível se desconectar.

Não importa se já conhecemos a história, não importa se já conhecemos todo o plano em detalhes, a tensão é mantida desde os primeiros minutos do filme até os últimos. O suspense não é gerado pelo desconhecido, mas pelo conhecido.

Nós sabemos o fim, mas queremos ver como o alcançam, percebemos a angústia dos personagens e seus medos e preocupações ultrapassam a tela. Seu desejo de liberdade é tão forte que nem mesmo o medo de serem descobertos ou fuzilados poderá detê-los.

Finalmente, o longa nos dá uma pausa, as ondas do mar supõem um alívio, uma pequena esperança, e rompem aquela atmosfera sombria e sufocante do começo.

Alcatraz nos proporciona a oportunidade de nos aprofundarmos em um dos grandes mistérios do século XX, deixando um final aberto, como essa história realmente teve, embora com alguma esperança.

Brinca com a sutileza, com a linguagem não verbal, com a angústia e a claustrofobia causadas pelo confinamento, mas, acima de tudo, com o desejo de liberdade. Desta forma, o filme se torna uma verdadeira lição de suspense e, finalmente, de cinema. 

No fim, resta apenas perguntar: o que é realmente a liberdade? Talvez eles não tenham conseguido sobreviver (ou talvez sim), mas, sem dúvida, foram livres. Às vezes, a morte pode ser mais libertadora do que a própria vida.


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