Amigos com benefícios são amantes sem obrigações?

Amigos com benefícios são amantes sem obrigações?

Última atualização: 14 novembro, 2016

Recentemente circulou pela internet uma propaganda que promovia um produto fora do comum: perfumes à base de feromônios. A propaganda dizia que o perfume tinha uma eficácia de 100%. “Os membros do sexo oposto ficarão loucos por você”, prometiam, e logo depois vinha uma descrição “científica” de por que ninguém poderia resistir aos poderosos efeitos do mágico aroma.

Parece que a ideia de que o amor tem mais a ver com a bioquímica do que com o mundo simbólico é muito popular. Também paira no ar o princípio de que o problema básico a ser resolvido no amor é de que é preciso fazer com que o outro permaneça sempre seduzido, apaixonado ou encantado por nós. Além disso, revela-se uma certa fantasia de “prender” com nossos encantos, não apenas uma pessoa, mas muitas pessoas do sexo oposto.

“Sexo sem amor é tão oco e ridículo quanto o amor sem sexo”.
-Hunter S. Thompson-

Atualmente vem ganhando espaço um desejo contraditório em torno do amor: ter muitos parceiros sucessivos que alimentam nosso ego, nossa necessidade de experimentação ou nossa solidão e, ao mesmo tempo, deixar um lugar especial para que, a qualquer momento, seja ocupado por um ser extraordinário, “o amor das nossas vidas”.

Os amigos com benefícios temporários

Neste panorama, os amigos com benefícios caem como uma luva. Para os poucos que não sabem do que isso se trata, são as pessoas do sexo oposto com as quais são mantidas relações de  amizade nas quais há sexo casual. A chave está em que ambos compreendam que não é porque fazem sexo que precisam deixar de ser amigos.

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Os acordos entre os amigos com benefícios têm regras implícitas que ambos devem cumprir para que a coisa funcione. Entre amigos com benefícios há um pacto básico de “ não se apaixonar . Nem um nem outro quer lidar com compromissos e, por isso, o sexo tem sua função mais básica: satisfazer um desejo puramente físico.

Uma outra norma que ambos devem cumprir, e da qual a questão de “não se apaixonar” depende, é não intimar e não intervir de nenhuma maneira na vida pessoal do outro. Isto é, os benefícios têm um limite muito preciso. São direitos de tocar, de olhar, mas não chegam ao ponto de permitir que o “amigo” possa exigir tempo, atenção ou compreensão.

A regra de ouro dos amigos com benefícios, em todo caso, é a de um desapego à exclusividade. Cada um dos amigos com benefícios pode ter qualquer tipo de relacionamento com outra pessoa. Sob nenhuma circunstância deve-se sentir ciúmes, nem questionar o direito do outro de terminar o vínculo unilateralmente, no momento em que achar oportuno.

Amigos com benefícios são amantes sem obrigações?

Para a grande decepção dos amigos com benefícios e dos produtores de perfumes à base de feromônios, o cérebro humano é um órgão extremamente complexo no qual não pode haver dissociação entre corpo e afeto ou  emoções. Ocupar a ponta da pirâmide na escala evolutiva tem suas consequências. Uma delas é a impossibilidade de viver uma realidade e não simbolizá-la na área subjetiva.

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Não tem como um ser humano que faça sexo com outra pessoa não associar essa experiência ao que ela é, ao que foi e ao que será. Também não tem como a outra pessoa que fez parte dessa relação sexual se transformar na representação de um pedaço de carne do qual é muito simples se desfazer uma vez que o ato terminou.

Algo assim sempre deixa resquícios. Um eco ressoa, às vezes timidamente, e fala da autoafirmação ou da autonegação, de expectativas e fantasias, de necessidades emocionais e de carências.

A amizade com benefícios parece ser, especialmente, um recurso extremo de  medo  ou desespero. Ou de ambos. De medo do amor e das múltiplas possibilidades de sofrer que o envolvem.

Do desespero, ou de se recusar a esperar da vida algo além de experiências fugazes. Aqueles que optam por este tipo de relacionamentos estão sob a influência de um desejo impossível: tocar o fogo e não se queimar.

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Por isso, as amizades com benefícios costumam dar errado, principalmente se os envolvidos não forem autênticos céticos, mas sim pessoas que pensam não precisar de nada; ou se algum deles vê nesse tipo de relacionamento a oportunidade de “avançar como quem não quer nada”. Geralmente, não dá certo. Um dos dois costuma sair machucado ou ambos acabam alimentando suas inseguranças e exigindo esforços neuróticos que só geram ou aumentam a confusão.


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