O amor líquido e a fragilidade dos vínculos

O amor líquido e a fragilidade dos vínculos

Última atualização: 30 outubro, 2015

Amor líquido. É possível que você já tenha ouvido falar desse interessante conceito enunciado pelo sociólogo Zygmunt Bauman. Esta poética, mas desconsolante imagem, fala sobre uma realidade que parece ser bastante frequente em nossa atualidade: a fragilidade do vínculo.

Uma ideia assocada com a essência presente em nossa sociedade, onde o parecer é valorizado; o consumismo pontual que dá satisfação momentânea e que, em seguida, se desfaz. No entanto, devemos fazer, também, uma interessante pontualização.

Não estamos falando somente das relações interpessoais, mas também a relação que estabelecemos com nós mesmos, o que o próprio Bauman denomina como “a liquidez do amor próprio”.

Você é consciente, por exemplo, de que, para amar outra pessoa de forma madura, deve começar a amar a si mesmo? Assim, este é um problema constante em nossa sociedade: esta falta de autoestima e de autovalorização, na qual acabamos perdendo os demais por não começarmos por nós mesmos. Por “solidificar o amor próprio”.

Falemos hoje sobre isso, nos aprofundemos nesse interessante conceito.

O amor líquido e o individualidade

Às vezes, estabelecer um vínculo forte e comprometido não é fácil para muitas pessoas. Por trás disso, se esconde um sentido de responsabilidade e de transcendência pessoal que, talvez, não estejam dispostos a admitir. É possível que, inclusive, exista o fator medo e até mesmo uma imaturidade pessoal, onde não é possível conceber uma autêntica relação sólida, estável e com um projeto futuro.

O próprio Bauman nos explica que muitas relações de hoje em dia são “conexões” mais do que “relações”. Já não estamos falando unicamente do predomínio das novas tecnologias e das redes sociais, estas que nos unem com múltiplas pessoas no momento que que nós escolhemos.

Este conceito vai um pouco além. O individualismo busca somente satisfazer necessidades pontuais com um princípio e um fim, daí a ideia de “amor líquido”, emoções que não podem ser retidas e que escapam fugazmente das mãos até desaparecer.

É algo que, sem dar lugar para dúvidas, soa desconsolador. Vivemos num mundo dinâmico onde o real, às vezes, se mistura ao virtual, uma modernidade líquida onde muitas coisas parecem escapar de nossas mãos.

Estabelecemos relações instáveis porque nossa sociedade parece exaltar, por sua vez, relações humanas mais flexíveis. E não, não estamos falando unicamente das relações amorosas, pensemos também na educação das crianças.

Oferecemos inúmeros jogos e tecnologias aos pequenos, estabelecemos um jogo de chantagens onde, diante de uma prova com boas notas, premiamos com um novo presente. Deixamos que caiam, sem querer, em uma sociedade de consumo com valores escassos, criando indivíduos que, por sua vez, se tornam tiranos, que não reconhecem os limites e que, de algum modo, também acabam se tornando líquidos… suas amizades nascem nas redes sociais e, para terminar com alguma delas, quando já não lhes interessa, basta apertar o botão de “bloquear ou denunciar” para esta pessoa.

É impactante, sem dúvidas.

A importância do amor próprio para combater o “amor líquido”

Nós, pessoas, não somos bens de consumo nem temos uma obsolescência programada como qualquer eletrodoméstico. Pensamos, sentimos e amamos, mas temos que começar sempre por nós mesmos, vendo a nós mesmos como pessoas merecedoras de amor.

Um amor líquido sempre nos deixa com um coração vazio, e isso é algo que ninguém quer. O consumista sempre fica com fome e com uma profunda insatisfação. Isso nos serve de quê?  De quê nos serve viver com tanta incerteza?

1. Às vezes, por trás de um amor líquido está a insegurança pessoal. O fato é que não vemos a nós mesmos como seres capazes de manter um vínculo forte o bastante para prosperar, como construir um futuro junto com alguém.

2. A insegurança é reflexo de uma autoestima que não se desenvolveu adequadamente. É aí que se busca uma satisfação pontual para, depois, fugir. Todo o compromisso pode evidenciar nossa falta de competência, nossa imaturidade. Mas, por que não tentar?

Nada é seguro nesta vida e todos nós andamos em meio à neblina. Se eu começar a confiar em mim mesmo, avançarei pouco a pouco com mais segurança, apostando na estabilidade. Pelo autêntico compromisso comigo mesmo e com as pessoas que me rodeiam.

3. Bauman nos diz que, para sermos felizes, devemos ter em conta os valores imprescindíveis da liberdade e segurança. A segurança sem liberdade é escravidão, mas a liberdade sem segurança é um caos total. Todos nós precisamos de ambas as dimensões para encontrar o equilíbrio em nossas vidas.

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