Como ver e aproveitar as oportunidades por trás das dificuldades
O céu, com suas interessantes mutações, é como o mar que reflete as condições da vida. Ou, ao menos, é como a tela em que podemos encontrar pintados fenômenos, de certo modo, paralelos, similares ou comparáveis às situações pelas quais passamos. Tanto o céu com suas nuvens quanto o mar com suas ondas são como nossa vida cotidiana, perpassada por dificuldades. Há momentos ou até mesmo dias e períodos de tempo ruim. O clima depende do lugar em que moramos, assim como nosso entorno tem influência no nosso dia a dia. Pode haver dias de sol, mas há sempre nuvens cinzas e períodos de tormenta. No entanto, sempre há oportunidades por trás das dificuldades.
Um dia de chuva, um dia em que o céu está repleto de nuvens cinza, pode ser realmente bonito quando saímos para aproveitar o friozinho, ou quando estamos embaixo de um teto que nos protege, e podemos nos perder nos contos de um livro em nossas mãos… porque às vezes as histórias dos outros acalmam as dificuldades das nossas histórias. As palavras escritas nos falam e nós contamos também para elas. Dizemos através de um diálogo silencioso no qual somos completamente livres, porque não há personagem que nos julgue, não nos ouça ou nos dê conselhos, salvo aqueles realmente necessários.
Dias de dificuldades… de nuvens cinza que escondem o céu azul
Com certeza você se lembra de algum dia em que pensou: “Que bom seria se eu pudesse ficar na minha cama hoje… se eu pudesse nem me levantava!”. E é curioso, porque o que nunca pensamos é que para existir um sinal verde necessariamente deve existir também um sinal vermelho. E além disso, não deve apenas existir como temos que parar neles algumas vezes. Pode parecer um paradoxo, mas muitas vezes são as nossas pequenas desgraças, as nossas dificuldades, que fazem com que valorizemos as nossas grandes fortunas.
No sinal vermelho, como no dia frio de tempestades, há oportunidades por trás das dificuldades. Podemos ver a beleza que está escondida. É a hora de fechar os olhos e respirar, de ouvir as histórias dos outros que estão esperando a chuva passar ao nosso lado. Nesse sentido, se não vão nos devolver o tempo que estamos gastando esperando, por que não buscar um modo de aproveitá-lo, inclusive de desfrutá-lo com prazer?
Emoções que encontram alimento
Algo parecido acontece com as emoções, essas que consideramos negativas e indesejadas. Falamos da tristeza, da raiva e do medo. Da inveja, do ódio, da repulsa e do ressentimento. Essas emoções que ninguém quer para si, nem para as pessoas que gostamos. Justamente aqui, no entanto, está outra de nossas grandes contradições. São emoções que não queremos mas muitas vezes nós mesmos as alimentamos, garantindo sua sobrevivência ou fazendo com que elas estejam em um papel de protagonista.
Por que fazemos isso se achamos que essas nuvens cinza são indesejadas? Muitas vezes o fazemos porque elas alimentam alguns “ganhos secundários”. Descobrimos que quando estamos tristes recebemos mais atenção de alguém, ou que quando estamos com raiva as pessoas que nos rodeiam tomam muito mais cuidado com a maneira como nos tratam. Vejamos: atenção, cuidado, preferência. Para quem esses privilégios não seriam sedutores?
Que criança nunca simulou estar doente para não ir ao colégio pelo menos uma vez na vida? Pois bem… Quem de nós nunca fingiu alguma vez uma emoção para ganhar algum desses ganhos secundários mencionados? Podemos não fazer isso sempre de maneira consciente e premeditada, mas com certeza pelo menos uma vez o fizemos de propósito. A questão é que, ao contrário do que acontece quando tentamos fugir de uma manhã de aulas entediantes ao nos fingirmos doentes, as emoções costumam nascer de verdade quando as simulamos.
Nascer e se manter! Em muitos casos a emoção continua depois que o fingimento original já foi embora, mas não mais sendo fingida. Além disso, podemos continuar fingindo também uma emoção que um dia foi real perante dificuldades. Imaginemos uma avó que ficou viúva e cujos familiares passaram a dar muita atenção para ela, para tentar amenizar a dor da perda. Nossa querida avó pode sentir que se deixar de mostrar tristeza, os outros pararão de dar a atenção e os cuidados que são tão bons para ela. Nesse sentido, não é raro que comece em algum grau a simular a emoção, perpetuando a situação… Isso pode acontecer sem a nossa percepção consciente. Então nós mesmos criamos a dificuldade, porque dificilmente simulamos uma emoção sem cair nas redes da mesma.
Energia e informação: o grande poder das oportunidades por trás das dificuldades
Nesse sentido, um exercício saudável de introspecção pode verificar se estamos em uma dinâmica parecida com a que começou nossa querida avó. Isso não quer dizer que temos sempre que nos afastar dos sentimentos negativos que sintamos. Mas que por trás das dificuldades podemos sempre aprender algo sobre nós mesmos. Porque muitas vezes o real motivo de estarmos tristes é diferente do motivo que acreditamos em um primeiro momento. Não será nenhum problema admitir os reais motivos, não seremos mais fracos por aceitá-los.
Esse é o verdadeiro valor adaptativo das emoções negativas. É a verdadeira beleza das dificuldades. Tudo tem a ver com a informação e a energia. Toda emoção tem esses dois elementos. Por exemplo, a raiva nos avisa que alguém pode estar passando a perna em nós, e a energia que isso gera permite que nós tomemos uma atitude quando achamos necessário intervir.
No caso de acharmos necessário – e aqui se mostra importante o amadurecimento emocional – teremos que encontrar as informações por trás das emoções e também uma maneira de dissipar a energia que elas geram. Fazer uso das dificuldades para melhorar nossa própria vida.