Autocensura: barreiras psicológicas para transmitir informação

Autocensura: barreiras psicológicas para transmitir informação
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Às vezes, optamos por não revelar a informação que temos. Nos calamos sem que exista uma barreira que nos impeça de falar. Decidimos que é melhor nos calar do que compartilhar a informação. Por quê? Tudo isso se deve a um mecanismo psicológico denominado autocensura.

A autocensura se define como o ato de ocultar intencional e voluntariamente informação dos outros na ausência de obstáculos formais.

Quando as pessoas pensam que revelar a informação  tem um custo elevado, é mais provável que não a compartilhem. A informação autocensurada pode manter a coexistência em uma sociedade e ajudar a preveni-la da maldade. No entanto, a autocensura pode gerar angústia, culpa e vergonha, além de impedir o livre fluxo de informação.

Portanto, a autocensura também pode levar a sociedade à ignorância, empobrecer o debate público e contribuir para a deterioração mental.

O livre acesso à informação

O livre acesso à informação eleva o valor da liberdade de expressão e do  pensamento crítico Da mesma forma, o livre acesso à informação permite discussões mais deliberadas, além de abertas e gratuitas, permite a transparência do sistema e aumenta o alcance das discussões públicas.

Tudo isso permite que os líderes e os membros da sociedade tomem decisões mais equilibradas e melhor argumentadas sobre assuntos sociais, prevenindo as transgressões morais. Assim, o livre acesso à informação permite a mudança dinâmica de opiniões e facilita o desenvolvimento da tolerância.

No entanto, em toda sociedade existe uma tensão entre o fluxo livre de informação e sua restrição. Nesse sentido, pensemos que um fluxo desenfreado de informação pode chegar a danificar uma sociedade.

De fato, inclusive os estados mais liberais e democráticos consideram necessário suprimir pelo menos parte da informação e das opiniões. A limitação ao acesso da informação não está somente nas leis, nas regras e nos mecanismos formais, mas também nos indivíduos, como membros coletivos que se impõem à autocensura.

Homem pensativo em cafeteria

Componentes da autocensura

A autocensura requer que a pessoa tenha uma informação que não foi revelada. Ao falar da informação, deixamos de fora as opiniões. A informação, ao contrário das opiniões, tem que ser verdadeira. Ela se refere a algo que realmente aconteceu e é considerado verdadeiro e válido sem depender de opiniões pessoais. O conteúdo da informação pode ser diverso, com assuntos que vão desde os negativos aos positivos.

O ato de censura indica que o indivíduo intencionalmente e voluntariamente retém (não compartilha) esta informação apesar do fato de não existir um obstáculo formal, como a censura externa, que o impeça de compartilhá-la.

Isto é, as pessoas decidem voluntariamente não compartilhar a informação sem que exista outro tipo de limitação que as impeça de revelá-la. Este comportamento implica que os indivíduos controlem e regulem informalmente o fluxo de informação ou, em outras palavras, obstruam o livre acesso à informação, à liberdade de expressão, e o livre fluxo de informação.

Bases psicológicas da autocensura

A autocensura conta com pelo menos três bases estabelecidas na psicologia

Em primeiro lugar, os seres humanos naturalmente tendem a compartilhar, comunicar e divulgar informação. Os membros das sociedades têm um incentivo psicológico e social para compartilhar informação. Portanto, para que a autocensura aconteça, outro motivo deve se opor.

Em segundo lugar, as pessoas, como membros de um grupo, se preocupam com ele. Isso significa que as pessoas tentam manter uma imagem positiva de seu grupo e evitam informações que tenham implicações negativas para a imagem do mesmo.

Por último, uma pessoa consciente de possuir uma nova informação que é relevante e que não foi revelada vai experimentar um dilema. Este dilema vai aparecer quando esta informação puder causar dano ao ser revelada, pois viola uma norma, um dogma, uma ideologia ou um valor.

O nível de dilema pode variar de pessoa para pessoa e depender do tipo de informação, contexto ou outros fatores. No entanto, a pessoa sempre experimenta pelo menos um nível mínimo de dilema quando pratica a autocensura.

Mulher censurando a si mesma

Fatores que contribuem para a autocensura

Existem quatro fatores que contribuem para que a autocensura aconteça. Estes são: o contexto do grupo, os fatores individuais, o tipo de informação e os fatos circunstanciais. A importância do contexto coletivo reside no fato de que este dita as necessidades e os objetivos dos membros da sociedade, e os desafios que devem ser enfrentados para alcançá-los.

Também oferece oportunidades e limitações, estímulos e inibições, assim como os espaços e limites para o comportamento humano. Sobre os fatores individuais, os traços de personalidade, a visão de mundo, os valores, ideologias, emoções, atitudes e motivações vão influenciar a autocensura.

Com respeito ao tipo de informação, vão influenciar na autocensura a gravidade da informação, a relevância para o presente, o tipo de ato que envolve a informação, os objetos da informação e os problemas existentes na informação.

Da mesma forma, fatores circunstanciais relacionados com a compilação da informação, o número de pessoas que sabem dela, o tempo transcorrido desde que a informação foi obtida e as características do público ao qual a informação será revelada (identidade, papel, estado, etc.) vão influenciar na autocensura.

Em consideração a isso, a pessoa calcula os custos subjetivos e as recompensas por cada decisão e logo enfrenta o dilema que surge resolvendo a dissonância. O resultado dessas considerações pessoais subjetivas determina se uma pessoa vai revelar a informação, a quem, se vai ser somente parte da informação ou sua totalidade, ou se vai praticar a autocensura.


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  • Bar‐Tal, D. (2017). Self‐Censorship as a Socio‐Political‐Psychological Phenomenon: Conception and Research. Political Psychology38, 37-65.

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