Autoconceito: origem e definição

Autoconceito: origem e definição
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Podemos entender que o autoconceito é a ideia ou imagem que temos de nós mesmos. Este reflexo interior é formado e condicionado pelos vários papéis que desempenhamos, nossas metas e objetivos, nossa personalidade, nossa ideologia ou filosofia, etc. Por outro lado, esta ideia de nós mesmos é dinâmica, o que quer dizer que varia com o tempo, sendo sensível às mudanças nas áreas que já enumeramos.

Conhecer a nós mesmos nos ajuda a decidir o que e como devemos pensar e o que temos que fazer em cada situação. Este conhecimento de si mesmo pode se dar a nível individual ou grupal. A consciência da nossa identidade e da de outras pessoas torna a nossa vida mais simples e facilita nossos relacionamentos interpessoais e intergrupais.

Na psicologia podemos estudar o autoconceito a partir de diferentes perspectivas. Os psicólogos da personalidade focam em conhecer o conteúdo da identidade, criando tipologias da mesma. A psicologia social está interessada em verificar em que medida o autoconceito afeta os relacionamentos que temos com os outros ou como ele é condicionado pelos relacionamentos que temos com eles.

Como o autoconceito é formado e modificado?

A seguir falaremos de duas teorias que explicam como o autoconceito é criado ou desenvolvido. Uma delas é a teoria da autodiscrepância, baseada em uma regulação interna do indivíduo. E a outra é a teoria do autoespelho, baseada em uma regulação social.

Menina se olhando no espelho

A teoria da autodiscrepância

Esta teoria parte da base de que o ser humano busca coerência entre as diferentes percepções que tem de si mesmo. Aqui entram em jogo os autoconceitos interconectados, os quais vamos expor de forma breve a seguir:

  • O “eu ideal”: é o autoconceito que nos indica como queremos ser um dia.
  • O “eu responsável”: é o autoconceito que tem a ideia de como deveríamos ser um dia.
  • O “eu potencial”: é a ideia sobre o nosso potencial, até que ponto podemos chegar a ser.
  • O “eu esperado”: é o autoconceito sobre a previsão do que podemos chegar a ser num futuro.

Estes autoconceitos são bastante semelhantes entre si, só se diferenciam em pequenas nuances. O importante destes “eus” é que eles agem como geradores de discrepância com o nosso conceito atual. E quando um deles é dissonante com o nosso autoconceito atual ou até mesmo entre eles, gera uma ansiedade. A partir daqui, essa ansiedade vai motivar certas mudanças nos autoconceitos para, assim, solucionar a discrepância.

Por exemplo, se no nosso “eu ideal” nos vemos como pessoas solidárias, mas normalmente nos comportamos com atitude egoísta, existe uma discrepância. Essa dissonância pode ser resolvida de várias formas: (a) mudando o nosso comportamento egoísta e, com ela, o nosso conceito atual; (b) alterando a percepção do nosso comportamento, deixando de considerá-lo como egoísta e alterando, assim, o nosso conceito atual; ou (c) mudando o nosso “eu ideal”, adaptando-o ao nosso conceito atual.

A teoria do autoespelho

Esta visão parte da criação do autoconceito como um processo no qual o social tem muito peso. A criação do mesmo se deve às ideias que os outros têm sobre nós. Assim, construiremos a noção de como somos através da informação que os outros nos dão sobre nós.

Isto é porque percebemos que na mente dos outros existe uma ideia de como somos, portanto, tentaremos saber qual é essa ideia. Teremos uma motivação para evitar a discrepância entre a ideia que os outros têm de nós e o nosso próprio autoconceito. Quando existir essa dissonância, poderemos resolvê-la de duas formas: (a) mudando as nossas relações por outras que nos vejam como pensamos que somos, ou (b) mudando a ideia que temos sobre nós mesmos.

Pessoa no centro das atenções

Esta teoria explica em grande medida por que buscamos relacionamentos que estejam de acordo com o nosso autoconceito e evitamos aqueles que nos veem de forma distinta a como acreditamos que somos. Ela também nos ajuda a compreender os efeitos das expectativas sobre uma pessoa, como o famoso Efeito Pigmaleão.

Um aspecto importante é que não costumamos nos ver como os outros realmente nos veem, e sim como pensamos que eles nos veem. Não determinamos a forma como os outros nos veem através da informação que recebemos deles, mas sim através das nossas autopercepções. Nós criamos uma ideia de nós mesmos, e pensamos que os outros nos veem da mesma forma.

Ambas as teorias nos explicam como o autoconceito é formado e modificado de formas diferentes, mas não contraditórias. É interessante ver a partir de uma perspectiva ampla e entender como os “eus” da teoria da autodiscrepância também podem ser criados e modificados devido à influência social. Ao ter em conta as duas posturas na hora de explicar o autoconceito, conseguimos obter um ponto de vista sólido dos fatos, o que explica a realidade de forma ideal.


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  • Tory E. Self-Discrepancy Theory: What Patterns of Self-Beliefs Cause People to Suffer? Advances in Experimental Social Psychology. 1989; 22: 93-136.
  • Hosking P. Utilizing Rogers’ Theory of Self-Concept in mental health nursing. JAN. 1993; 18(6): 980-984.

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