Um baobá no coração, uma reflexão de O Pequeno Príncipe

Um baobá no coração, uma reflexão de O Pequeno Príncipe
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Se você encontrar um baobá no coração, arranque-o inteiro com as raízes, porque as suas sementes hospedam o medo, a insegurança, a decepção, a raiva, etc. Faça como o Pequeno Príncipe, que a cada manhã retirava todas as sementes dos imensos baobás de seu pequeno planeta, por medo de que crescessem demais e de que suas gigantescas raízes destruíssem o que ele tanto amava.

Existem medos lógicos e racionais que garantem o nosso bem-estar. Eles são temores adequados que regulam a nossa sobrevivência. No entanto, em algumas ocasiões, quase sem saber como, aparecem essas sementes de baobá que invadem tudo.

Elas estão no subsolo do nosso jardim psicológico, crescendo de modo silencioso, mas alterando o nosso equilíbrio e a nossa concentração.

“Existem sementes boas, de ervas boas, e sementes ruins, de ervas ruins. Elas dormem no segredo da terra até que uma delas cisme em despertar. Então, ela se espreguiça e lança timidamente para o sol um broto inofensivo. Se é de rabanete ou de roseira, podemos deixar que cresça à vontade. Mas quando se trata de uma planta ruim, é preciso arrancar logo, assim que a reconhecermos”.
– O Pequeno Príncipe –

De todas as reflexões que Antoine de Saint-Exupéry deixou em O Pequeno Príncipe, esta é uma das mais interessantes. No livro, o pequeno protagonista arrancava diariamente as sementes “ruins” do seu planeta enquanto alimentava e regava as sementes “boas”.

As ruins eram as dos baobás, que ele deveria eliminar por inteiro e com as raízes, antes que elas destruíssem o seu mundo a partir do interior. As sementes boas eram as de roseira, as suas preferidas.

Esta metáfora sutil simboliza a imagem dos nossos medos, das áreas mais escuras onde as distorções cognitivas se alimentam com frequência. São liderados pela raiva, a angústia ou a tristeza que embaçam e enchem de rachaduras o nosso palácio mental.

Um baobá no coração

Todos temos baobás como os de O Pequeno Príncipe no coração

Todos nós temos algum baobá no coração. Pode ser que só exista a sua semente, invisível, dormida e sem nenhuma ramificação. Outros, ao contrário, podem estar sofrendo com os efeitos do seu crescimento.

O impacto desse baobá que expande as suas raízes altera, muda e desestabiliza tudo. Os medos e os rancores explodem até quebrar a ordem interna, a lógica, a autonomia.

Em O Pequeno Príncipe, o protagonista chega a perguntar ao piloto, em um dado momento, se os cordeiros comem arbustos. Quando o piloto responde que sim, ele reage com uma imensa alegria ao pensar que, finalmente, poderá se desfazer da ameaça dos baobás.

No entanto, depois o piloto se corrige: um baobá não é um arbusto, mas uma árvore. Elas são árvores tão grandes quanto igrejas, tão imensas que nem um “rebanho” de elefantes conseguiria comer uma delas inteira.

O Pequeno Príncipe, ao imaginar essa cena, sugeriu que isso poderia ser possível colocando um elefante em cima do outro. No entanto, segundos depois, ele diz com muita certeza que a melhor estratégia seria a de evitar o seu crescimento.

Afinal, quando um baobá cresce demais, já não dá para fazer nada. Devemos deter esses gigantes destrutivos durante as suas fases mais precoces, quando eles ainda são pequenos, quando não são mais do que meras sementes…

“O solo do planeta estava infestado de sementes de baobás. Se não eliminarmos o baobá a tempo, nunca mais será possível se livrar dele. Ele obstrui o planeta inteiro. Ele o perfura com as suas raízes. Se o planeta é muito pequeno e se os baobás são grandes demais, eles o fazem explodir”.
– O Pequeno Príncipe –

Reflexões do Pequeno Príncipe

A importância de impedir que um baobá cresça no coração

Existem pessoas que vêm algo mais na metáfora do baobá de O Pequeno Príncipe. Algumas advertem que, mais do que as sementes dos nossos medos, essas árvores poderiam estar relacionadas com a própria maldade.

Uma força destrutiva que adoece o coração e é capaz de cometer os piores atos, de dar forma aos mais devastadores cenários de violência e destruição. Os mesmos que todos nós temos em nossa memória coletiva.

No fim das contas, essa semente de baobá sempre esteve e estará presente em nosso interior. Depende de nós alimentá-la e permitir que ela cresça porque, do mesmo jeito que no planeta do Pequeno Príncipe, em todos nós existem sementes boas e sementes ruins.

O fato de que elas germinem e criem raízes fortes depende, sem dúvida, de vários fatores: a nossa criação, a educação, as experiências vividas, etc.

No entanto, não podemos esquecer que está em nossas mãos a responsabilidade de sermos boas pessoas e transformar-nos em jardineiros para retirar a tempo as ervas ruins, as sementes que não servem, as que destroem o entorno, e que quebram o equilíbrio natural do nosso âmbito pessoal.

Essa tarefa hábil é realizada todos os dias pelo Pequeno Príncipe. Era ele que retirava o que não queria e que alimentava o que mais valorizava: as suas roseiras.

O Pequeno Príncipe

Não precisamos dos cordeiros, nem de um exército de elefantes dispostos um em cima do outro para executar essa tarefa de limpeza. Se nós temos um baobá no coração, temos a responsabilidade de retirá-lo a tempo, ou melhor, de não alimentar a sua semente.

Esta tarefa de manutenção gera equilíbrio, traz sabedoria e um sentido de disciplina. Permite que nós fiquemos atentos a qualquer mudança, a qualquer crescimento fora do normal, para evitar que os pequenos problemas acabem se transformando em imensos e apavorantes baobás.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.