Brokeback Mountain, uma história de amor

Brokeback Mountain, uma história de amor
Leah Padalino

Escrito e verificado por Crítica de Cinema Leah Padalino.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Dez anos se passaram desde a morte do ator Heath Ledger devido a uma overdose acidental de medicamentos; um ator que morreu jovem, aos 28 anos, mas que nos deixou um legado cinematográfico incrível, no qual se destacam títulos como Casanova, A Última Ceia, Brokeback Mountain, Batman: O Cavaleiro das Trevas e O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, filme que não chegou a completar e no qual teve de ser substituído por diversos atores. Sem dúvidas, seu papel mais lembrado é o do Coringa, que lhe rendeu o Oscar póstumo e pelo qual muitos o classificam como “o melhor Coringa da história”.

Hoje gostaríamos de homenagear Ledger com outro dos títulos que marcaram sua carreira, Brokeback Mountain, um filme de Ang Lee lançado em 2005 no qual Ledger compartilhou o elenco com Jake Gyllenhall, Anne Hathaway, e com aquela que se transformaria em sua esposa e mãe de sua única filha, Michelle Williams.

Brokeback Mountain se baseia no relato homônimo de Annie Proulx; o filme ganhou diversos prêmios, incluindo três Oscar. A história que Lee nos apresenta é uma história de amor, vivida por dois peões solitários. Ambientado nas décadas de 60 e 70, Brokeback Mountain  nos mostra as pressões sociais às quais as pessoas homossexuais são submetidas.

A homossexualidade no cinema

É cada vez mais comum a inclusão de personagens homossexuais no mundo do cinema e das séries, mas o certo é que isso nem sempre foi assim. Muitos destes personagens eram secundários ou não compunham uma temática romântica, e costumavam ser associados a situações cômicas. Deixando de lado o cinema independente, onde encontramos outros tipos de histórias, o fato é que no cinema mais comercial encontrávamos apenas histórias de amores heterossexuais.

A homossexualidade foi um grande tabu ao longo da história, e ainda que tenhamos percorrido um longo caminho, é difícil encontrar cenas de sexo entre homossexuais; em contrapartida, as cenas heterossexuais são incontáveis. Em poucas ocasiões os homossexuais são protagonistas ou recebem uma história ao estilo de Romeu e Julieta ou Titanic Parece que o gênero mais romântico está reservado unicamente à heterossexualidade.

“Às vezes, sinto tanto a sua falta que não aguento.”
– Jack Twist, Brokeback Mountain –

Brokeback Mountain, ainda que não seja o único filme de temática homossexual, foi um dos pioneiros em centrar toda a sua trama em uma história de amor entre pessoas do mesmo sexo; além disso, estas pessoas eram homens, algo ainda mais interessante tendo em conta que o gênero romântico sempre foi mais ligado ao feminino.

Nesta linha, nos damos conta de que é mais fácil encontrar cenas de amor entre mulheres do que entre homens. Inclusive nas cenas heterossexuais, o corpo nu da mulher costuma monopolizar mais planos do que o do homem; assim, temos títulos como Azul é a cor mais quente Parece que é menos escandaloso mostrar mulheres nuas e cenas lésbicas do que o corpo de um homem ou uma cena gay, talvez, porque isso colocaria em dúvida o estereótipo heterossexual de masculinidade.

Cena do filme 'Brokeback Mountain'

Apesar de todos os prêmios e do sucesso do filme, Brokeback Mountain não esteve isento de polêmica. O próprio Ledger teve que suportar perguntas incômodas e com tons homofóbicos por parte da imprensa, e algumas associações norte-americanas vinculadas à Igreja Católica criticaram duramente o filme.

Chegaram a cancelar a projeção do mesmo em alguns cinemas, foi proibido na China e censurado na Itália durante uma transmissão na televisão aberta. Nesta ocasião, foram censuradas cenas de amor homossexual e inclusive beijos; porém, foram permitidas cenas em que eram mantidas relações sexuais muito mais explícitas do que as homossexuais.

Ainda assim, o filme cumpriu sua tarefa, tratando de um tema controverso em um tom amável, respeitoso e, principalmente, mostrando o verdadeiro amor entre duas pessoas.

Brokeback Mountain, uma história de amor

Brokeback Mountain é um filme lento, pausado, silencioso… mas totalmente emotivo. Um longa carregado de sentimentos que nos trazem algo nunca visto no cinema comercial: a história de amor de dois homens, aparentemente “muito másculos”, que deverão lutar para viver o seu amor em uma sociedade que castiga os homossexuais.

Enis Del Mar, um jovem sério e que fala pouco, e Jack Twist, alegre e eloquente, passam um verão trabalhando como pastores nas montanhas, completamente afastados do mundo. A solidão, a cumplicidade e a convivência farão com que ocorra um encontro sexual entre os dois que, no começo, gerará sentimentos confusos e, posteriormente, desencadeará uma história de amor que irá acompanhá-los para sempre. As exigências da época, a sociedade patriarcal e o estereótipo de masculinidade farão com que os protagonistas vivam sua relação na clandestinidade.

Cena do filme 'Brokeback Mountain'

Jack é quem iniciará a relação; Ennis se mostrará contrário, ainda que acabe sucumbindo e se deixando levar por seus sentimentos. Logo, descobriremos que Ennis possui uma forte armadura e que se empenha em manter as aparências sociais. Está a ponto de se casar com uma mulher e deixará claro a Jack que ele não gay. Esta armadura e negação de seus verdadeiros sentimentos se deve a um trauma, já que Ennis foi testemunha de uma cena terrível na infância: um homem assassinado e torturado por sua orientação sexual.

O verão logo chegará ao fim e ambos deixarão de lado esta relação, seu segredo permanecerá guardado nas montanhas. Os traumas de Ennis nos levarão a viver cenas violentas entre ambos porque, apesar de seus sentimentos em relação a Jack, ele se nega a aceitar que é homossexual e isso o levará a agir com certa violência.

Com o tempo, cada um fará sua vida ao lado de uma mulher, ambos se tornarão pais e viverão como se supõe que devem fazer. Ennis, porém, viverá uma situação mais difícil, pois sua família terá problemas financeiros e ele não será feliz. Jack, pelo contrário, se casará com uma mulher rica e sua vida parecerá muito agradável; ainda que mais a frente descubramos que tudo não é mais do que uma fachada, pois seu casamento também não funciona e seu relacionamento com o sogro é complicado. O sogro de Jack é o claro exemplo de texano fincado nos valores patriarcais que acredita que todo homem deve ser um “bom macho alfa”, com os costumes associados a este estereótipo.

Cena do filme 'Brokeback Mountain'

Depois de muitos anos sem se ver, Jack e Ennis se encontrarão de novo e, a partir deste momento, suas escapadas serão cada vez mais frequentes. A paixão e o amor não terão desaparecido, apesar do tempo. Jack estará disposto a deixar tudo para começar uma vida junto a Ennis, é um homem muito mais livre e disposto a lutar por seus sentimentos, mas Ennis é vítima da sociedade e não consegue se desvincular de seu papel, tem medo de não ser aceito e terminar como o homem que viu quando era pequeno.

Como recomendação pessoal, creio que é conveniente ver o filme em sua versão original, pois a dublagem apresenta problemas de tradução que causam uma confusão no final. Brokeback Mountain  é um filme que nos convida a deixar os preconceitos de lado e ver a história como o que ela é: uma verdadeira história de amor. Em um ambiente puramente texano, católico, conservador, surge uma história de amor entre dois homens que vai marcá-los para o resto de suas vidas.

“Se estivermos perto um do outro e voltarmos a nos encontrar no lugar errado e na hora errada, nos matarão.”
– Ennis Del Mar, Brokeback Mountain –


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