O filósofo Byung-Chul Han e o "inferno do igual"

O filósofo Byung-Chul Han e o "inferno do igual"
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 02 abril, 2018

Byung-Chul Han é um filósofo e escritor nascido na Coreia do Sul que alcançou grande notoriedade no mundo contemporâneo. Suas reflexões foram orientadas para diversos temas, mas muito particularmente à tecnologia e à cultura que é produto dela. Ele também dedicou muitas de suas linhas à forma de trabalhar e produzir das pessoas atualmente.

Até o momento, Byung-Chul Han já publicou 16 livros. Neles, ele desenvolveu dois conceitos em particular. Um é o da “sociedade do cansaço” e o outro da “sociedade da transparência”. Em seu trabalho, ele apresenta abordagens muito críticas para o mundo de hoje. Ele ressalta que hoje em dia as pessoas exploram a si mesmas e têm pavor do que é diferente. É daí que ele fala sobre “o inferno do igual”.

… “a violência, que é inerente ao sistema neoliberal, já não destrói de fora do próprio indivíduo. Ela o destrói por dentro e provoca depressão ou câncer”.
-Byung-Chul Han-

Muitos asseguram que a obra de  Byung-Chul Han é uma leitura indispensável para entender o mundo de hoje. Seu enfoque é original e profundo, mas sobretudo muito atual. Ele é um dos poucos pensadores que criaram teorias com grande profundidade sobre fenômenos como redes sociais, privacidade e a sociedade da disfunção mental.

Durante uma visita que o autor fez à Espanha, ele concedeu várias entrevistas que geraram grande impacto. Nelas, ele explicou de maneira sintetizada alguns dos conceitos que dão fundamento à sua obra. Estas são, em linhas gerais, as reflexões que ele compartilhou.

A ilusão de liberdade no pensamento de Byung-Chul Han

Para Byung-Chul Han, estamos em uma era em que a liberdade é apenas uma grande ilusão. Segundo este filósofo, o que prevalece na atualidade é a escravidão consensual. Por exemplo, a aparente liberdade de expressão que existe nas redes sociais tornou-se uma prática que permite que o poder exerça vigilância sobre nós.

Barco no espaço

Byung-Chul Han ressalta que as pessoas têm um desejo quase pornográfico de exibir sua privacidade. Elas expõem seus pensamentos, seus momentos privados, seus sentimentos e tudo o que são, ou fingem ser, através das redes sociais. Todo mundo faz isso “voluntariamente”. O poder não precisa mais interferir ou se infiltrar nos segredos de ninguém, pois essas pessoas oferecem tudo isso de forma espontânea.

Da mesma forma, as pessoas se inscreveram “voluntariamente” em um modo de produzir onde a autorrealização é o centro de tudo. Byung-Chul Han indica que esta autorrealização nada mais é do que uma autoexploração. O produto disto é o trabalhador irritado, altamente fatigado ou doente de corpo e mente.

O inferno do igual e a intolerância ao diferente

Algumas reflexões de Byung-Chul Han giram em torno do igual e do diferente. Ele exalta que as pessoas vivem a individualidade como apenas mais uma ficção. Todo mundo quer ser diferente, precisamente porque todos são iguais. Esse desejo é precisamente uma evidência da homogeneidade que é o pensamento das pessoas.

O resultado disto é um conformismo radical. As pessoas aceitam humildemente “viver como todo mundo vive”. Ou seja, produzindo de forma desmedida, se exibindo de forma inútil, girando o tempo todo em torno dos ideais de sucesso que foram impostos. No anverso dessa realidade, existem as diferentes formas de depressão, de ansiedade. O ser humano adoece, misteriosamente, por motivos que ele não consegue elucidar. Para Byung-Chul Han, este sistema é muito estável e basicamente inquebrável. Ele chama isso de “neoliberalismo”.

Bonequinho segurando balão

Para este filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, é preciso que ocorra uma revolução no uso do tempoSem nenhuma hipocrisia, ele afirma que “o tempo trabalhado é tempo perdido, não é tempo para nós”. O que precisamos seria um tempo livre, em que deixássemos de produzir e que tivesse o caráter de festividade. Não se trata de uma pausa ou de descanso para continuar produzindo mais tarde. O que ele fala é de um tempo pessoal, que reivindica o desejo de não fazer nada considerado “produtivo” para o neoliberalismo.

Os pensamentos deste filósofo são atuais e provocadores. Sua crítica é ácida e direta, mas acima de tudo, muito bem embasada e sustentada. Vários de seus livros já foram traduzidos para outras línguas e alguns deles até são gratuitos online. É uma leitura altamente recomendada para aqueles que não estão confortáveis com o estado atual das coisas.


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