O caos, um estado que favorece os narcisistas
O caos é um dos grandes aliados dos narcisistas. Sem esse estado de desordem generalizada, um narcisista não pode reinar como deseja, consciente ou inconscientemente. Se houver ordem, ele não é ninguém. Tampouco pode se desprender dos dramas aos quais está tão acostumado.
Lembremos que o narcisismo se caracteriza por uma exaltação excessiva do eu. Não é um sinal de muito amor próprio, mas um super dimensionamento das expectativas do eu. Uma fantasia de grandiosidade de si mesmo. Um desejo de se destacar ou de estar acima dos outros.
“Devemos organizar o caos. Eu não tenho dúvidas de que o melhor e mais rápido método é implantar a lei do povo em vez da lei da massa”.
– Gandhi-
Uma dose de narcisismo é saudável em um adulto. Ajuda o indivíduo a ser coerente e a se reafirmar diante do mundo. No entanto, quando este pseudo amor próprio é excessivo, acaba dando abertura a um narcisismo patológico. Em casos mais extremos, o narcisista torna-se incapaz de dar um valor real para as pessoas. Elas tornam-se instrumentos que só servem como meio para a exaltação de si mesmo.
O caos e os narcisistas
Os narcisistas patológicos implantam uma série de comportamentos destinados a satisfazer esse desejo de exaltação. O que esses comportamentos têm em comum é que semeiam o caos em maior ou menor medida. É na desordem que eles conseguem “ser alguém” e ter os demais sob controle.
O caos é o selo de identidade dos chefes ou líderes que dão ordens e contra-ordens a todo momento. É o selo daqueles que implementam medidas absurdas que, em vez de facilitar as atividades, as entorpecem. São aqueles que não se comunicam claramente e dão lugar a confusões que, caso cheguem a um bom resultado, lhes permitem reclamar o crédito. E se levarem a erros, lhes permitem culpar os demais.
Os narcisistas também promovem o caos em situações mais cotidianas ou familiares. Correspondem a aqueles amigos, familiares ou parceiros que dizem uma coisa, mas fazem outra sem razão aparente. Dizem que vão ajudar, e quando você mais precisa deles, eles desaparecem. Garantem que vão chegar em uma determinada hora e aparecem em outra. Brincam com as suas expectativas e tiram seu equilíbrio. Semeiam o caos e, com isso, garantem uma margem de controle sobre o outro.
Os narcisistas e o drama
No caso dos narcisistas patológicos, o caos costuma estar acompanhado de dramas. O chefe ou líder do qual falávamos anteriormente acompanha sua desordem com shows de indignação e preocupação. Mostra-se arrependido ou histericamente surpreso com tudo o que acontece. Como se não fosse ele quem tivesse conduzido tudo nessa direção, rumo a resultados incertos.
Assim, a pessoa que não aparece para um compromisso provavelmente não vai pedir desculpas. Pelo contrário, vai criar um drama. É muito comum que os narcisistas patológicos se façam de vítimas.
O ponto é que, no fundo, eles criam situações que lhes permitem se sentir no comando do mundo. Tentam ficar no centro de tudo, mas não se responsabilizam pelos seus atos. Em troca disso, criam cenários para fazer um show de intensas expressões emocionais.
O efeito sobre os demais
De uma forma ou de outra, os narcisistas usam o caos para quebrar psicologicamente os demais. Planejam situações, na maioria das vezes de forma inconsciente, para que os outros se encham de ansiedade. Para que enlouqueçam um pouco. Se conseguirem fazer isso, conseguem também o que no fundo mais desejam: ser determinantes na vida dos demais, seja de forma ruim ou através de truques.
No entanto, sempre há uma cara e uma coroa nesses tipos de realidades psicológicas. Na cara está o narcisista semeando o caos e manipulando os demais. Na coroa está esse mesmo narcisista sendo vítima de sua própria patologia. Os narcisistas são mais propensos a se sentir desencantados com a vida e entediados com a realidade. Em uma palavra, são mais propensos à depressão.
Isso se deve à inautenticidade de suas ações. Estão, por assim dizer, presos dentro de si mesmos. Não conseguem estabelecer vínculos profundos e construtivos com os demais e dependem excessivamente dos outros.
Se conseguem manipular os demais, ficam satisfeitos com essa imagem de si mesmos que tanto desejam. Se não conseguem, experimentam sentimentos de inferioridade, de falta de interesse na vida e de frustração.