O que acontece no cérebro durante uma experiência espiritual?

O que acontece no cérebro durante uma experiência espiritual?
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Acredita-se que as experiências espirituais são encontros com maiores verdades ou poderes relacionados à fé. Essas experiências espirituais podem assumir muitas formas, dependendo de como cada um de nós interpreta esse conceito. No entanto, o que acontece no cérebro durante uma experiência espiritual, mística ou religiosa?

A questão do que acontece no cérebro durante estas situações foi explorada em diversas ocasiões. De fato, os pesquisadores passaram décadas intrigados com a importância da espiritualidade na vida das pessoas, e por isso se concentraram em estudar o que acontece no cérebro humano quando as pessoas se sentem profundamente conectadas espiritualmente.

“Você está procurando o silêncio da montanha, mas você o procura no exterior. O silêncio é acessível a você agora mesmo, dentro do seu próprio ser”.
-Ramana Maharshi-

Diferentes maneiras de entender a experiência espiritual

O problema é que o conceito de “espiritualidade” pode ser entendido de muitas maneiras diferentes por cada cultura e indivíduo. Nesse sentido, qualquer coisa que alguém possa chamar de uma “experiência espiritual” pode estimular o cérebro de maneiras muito complexas. Por essa razão, a tarefa de especificar um mecanismo cerebral para a espiritualidade não é simples.

Experiência espiritual

No entanto, apesar do elevado nível do objetivo, os pesquisadores continuam a investir esforços nesse sentido. Entre suas conclusões se destaca a ideia de que múltiplas regiões do cérebro estão envolvidas no processamento de experiências de união com um ser superior.

Além disso, outra conclusão que encontramos no final de diferentes estudos afirma que os indivíduos que participam da prática espiritual de longo prazo têm diminuída a atividade no lobo parietal direito (relacionado à abordagem auto-orientada). Em outras palavras, as experiências espirituais pareciam aumentar, por assim dizer, o desinteresse no cérebro.

“Para vivenciar a espiritualidade todos os dias, precisamos nos lembrar de que somos seres espirituais passando algum tempo em um corpo humano”.
-Barbara de Angelis-

Espiritualidade e depressão

Lisa Miller, editora do Manual de Psicologia e Espiritualidade da Oxford University Press, conduziu uma série de estudos sobre o que acontece nos cérebros de pessoas com vidas espirituais intensas. Sua pesquisa revelou que essas pessoas mostram um espessamento cortical no córtex pré-frontal.

Curiosamente, Miller disse que as pessoas que vivem com depressão crônica sofrem um afinamento cortical na mesma região do cérebro. Isso moldou uma hipótese: a espiritualidade e a depressão são provavelmente dois lados da mesma moeda.

Miller e uma equipe de pesquisadores da Spirituality Mind Body Institute utilizaram a ressonância magnética funcional para descobrir o que acontece no cérebro das pessoas quando imaginam uma intensa experiência espiritual.

Eles recrutaram pessoas dispostas a participar de diferentes práticas espirituais e religiosas. Em um primeiro experimento, solicitaram que recordassem uma experiência espiritual pessoal enquanto escaneavam seus cérebros. Foram utilizados guias ​​com instruções para descrever uma situação na qual eles sentiam uma forte conexão com um poder superior ou uma presença espiritual.

Mudança no cérebro durante experiência espiritual

Como todos tinham práticas espirituais muito diferentes, as experiências descritas na orientação da experiência cobriram uma gama extensa de variabilidade, de “uma relação bidirecional com um poder superior” e “uma sensação de união com a natureza junto ao oceano ou em cima uma montanha” até “estar em uma área de atividade física intensa (como esportes ou ioga), consciência súbita, conectividade ou flutuabilidade sentida corporalmente, meditação ou oração”.

Os pesquisadores argumentam que isso se relaciona a uma definição mais ampla e moderna de espiritualidade que pode ser independente da religiosidade. Suas descobertas foram publicadas na revista Cerebral Cortex.

Espiritualidade e estresse

Estudar a atividade cerebral dos voluntários ao imaginar uma experiência espiritual pessoal permitiu aos cientistas identificar as regiões cerebrais que pareciam estar envolvidas no processamento de eventos espirituais.

Miller e seus colegas também compararam a atividade cerebral observada quando os participantes descreveram uma experiência espiritual com a atividade cerebral vista enquanto os voluntários imaginavam experiências estressantes ou neutras que não desencadeavam emoções fortes.

Ao fazer isso, puderam encontrar um padrão que dizem só ser observado quando se trata de uma experiência espiritual. Assim, descobriram que o lobo parietal inferior, vinculado à consciência de si mesmo e dos outros, reduzia sua atividade quando os participantes descreviam um evento espiritual, enquanto a atividade nessa região cerebral aumentava quando pensavam que o evento era estressante ou emocionalmente neutro.

Portanto, a equipe sugere que essa região pode contribuir significativamente para o processamento da percepção e das representações do eu-outro durante as experiências espirituais. Isso parece apoiar a ideia de que experiências espirituais poderiam ajudar a amortecer os efeitos do estresse na saúde mental.

Nesse sentido, esses resultados apontam diferentes mecanismos neuronais subjacentes à experiência espiritual. Além disso, os pesquisadores afirmam que explicar como as experiências espirituais são mediadas pelo cérebro, a partir da extensão de estudos similares a populações clínicas, poderia facilitar para que algumas práticas espirituais pudessem ajudar no contexto de determinadas intervenções de saúde mental.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.