O ciclo da violência de Lenore Walker

O ciclo da violência de Lenore Walker
María Prieto

Escrito e verificado por a psicóloga María Prieto.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

O ciclo da violência de Lenore Walker é uma teoria que contempla a existência de quatro fases em todas as dinâmicas da violência de gênero. Essa pesquisadora e psicóloga trabalha com esse tipo de violência há mais de quarenta anos. Sua ideia é que esta é uma violência possível de desarticular e combina sua ocupação profissional com a tarefa de acompanhar diante da justiça as mulheres que foram maltratadas e lutam para se defender.

Segundo essa especialista, as vítimas não denunciam abertamente o seu agressor por medo de represálias ou de piorar a situação que estão vivendo, especialmente no caso de serem financeiramente dependentes dos mesmos. Walker contribuiu para a psicologia da violência de gênero com uma ferramenta muito útil para entender o sofrimento das mulheres maltratadas e o caminho difícil pelo qual elas estão passando para romper definitivamente com seu agressor.

Em 1979, publicou as conclusões de sua teoria das fases extraída a partir dos testemunhos de mulheres agredidas com quem trabalhava. Walker percebeu que essas mulheres não são agredidas o tempo todo nem da mesma maneira, mas há fases de violência que têm uma duração variada e manifestações diferentes.

Ela estabeleceu um padrão similar de comportamento em todas as situações de abuso e observou como esses padrões de comportamento são reproduzidos de forma cíclica. Assim, o ciclo de violência descrito por Walker nos ajuda a entender como a violência de gênero ocorre.

Pesquisas recentes ajudam a explicar que a impossibilidade de sair do ciclo da violência agrava as consequências e abre o caminho para um desfecho fatal. A violência de gênero envolve a perda dos suportes que compõem a personalidade do ser humano, que são os condicionantes biológicos, psicológicos e sociais.

Mulher que sofreu violência

O ciclo da violência: fases do abuso

Este é o que tem sido chamado de ciclo da violência de L. Walker, uma das teorias mais difundidas sobre as fases que a violência de gênero atravessa.

Fase do acúmulo de tensão

Nesta fase há uma escalada gradual de tensão que é caracterizada pela frequência de brigas contínuas e atos violentos. É uma etapa sem duração específica, pode ser uma questão de semanas, meses ou anos. Ocorrem incidentes de ciúmes, gritos ou pequenas brigas.

Os insultos ou a violência verbal são interpretados pela vítima como casos isolados que podem ser controlados. O agressor experimenta mudanças bruscas de humor, fica irritado com coisas insignificantes e se mostra muito tenso.

A vítima tenta realizar comportamentos que não alterem o parceiro, tenta acalmá-lo acreditando que isso acabará com os conflitos. Tende a se culpar justificando o comportamento mostrado pelo agressor. Toda vez que há um incidente de menor agressão, há efeitos residuais de aumento da tensão por parte do agressor que, incitado pela aparente passividade da vítima, não tenta se controlar.

Fase de agressão

É a mais curta das três fases. Aqui a violência irrompe. Há uma falta de controle absoluto e ocorrem as agressões físicas, psicológicas e/ou sexuais. A vítima experimenta descrença, ansiedade, tende a se isolar e se sente impotente diante do que aconteceu. Costumam se passar vários dias antes de pedir ajuda.

Mulher maltratada

Fase de reconciliação

Nesta fase, o agressor geralmente pede perdão e promete à vítima que esse comportamento não acontecerá novamente. Usa estratégias de manipulação afetiva para tentar fazer com que o relacionamento não termine.

A aceitação de presentes, convites ou promessas não faz mais do que reforçar o comportamento violento. A tensão acumulada durante a fase de acumulação da tensão e a fase de agressão desapareceram.

Nessa fase, é difícil para as mulheres denunciarem a situação pela qual estão passando: a mudança de atitude do casal as leva a pensar que foi um evento específico e que isso não acontecerá novamente. A vítima quer acreditar que nunca sofrerá abusos novamente. A moderação do agressor sustenta a crença de que ele pode mudar, devido ao seu comportamento amoroso durante essa fase. Esta fase de conciliação termina quando a calma acaba e recomeçam os pequenos incidentes e as humilhações.

“Qualquer hora do dia ou da noite é bom para dar um basta e colocar fim a uma fase da sua vida que você teria desejado não viver”
-Raimunda de Peñaflor-

Como romper o ciclo da violência?

Para romper o ciclo da violência, é necessário que a vítima esteja ciente de sua situação. A partir desse reconhecimento, já poderá começar a receber ajuda emocional e profissional.

Sessão de terapia

Nos últimos anos tem sido dada visibilidade a um problema que se revelou muito mais sério e profundo o que se acreditava. A sociedade reagiu com medidas legislativas como a “Lei Orgânica de Medidas de Proteção Integral contra a Violência de Gênero” e a “Lei Maria da Penha”, mas estamos longe dos objetivos e cresce a preocupação com o surgimento de sinais de involução na percepção social.

“Se alguém coloca as mãos sobre você, certifique-se de não as coloque em cima de ninguém mais”.
-Malcolm X-


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.