Ciência e religião: os resultados de um debate absurdo

Todas as pessoas estão familiarizadas com a religião e a ciência. Por isso sabemos que continuam em disputa. Mas será que essa discussão vale a pena?
Ciência e religião: os resultados de um debate absurdo
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 12 novembro, 2023

Encontramos na típica disputa entre ciência e religião um debate clássico e, acima de tudo, muito equivocado. Este debate que confronta ciência e religião distorceu-se a ponto dos participantes escolherem uma enquanto repudiam a outra. É comum encontrar todos os tipos de raciocínios absurdos nas redes sociais. E se os insensatos são muitos, os ataques aos defensores da posição oposta não são menos.

Como sempre, há um grande mal-entendido: entre os defensores e os detratores do dilema ciência-religião, há sempre um perdedor. O sentimento de perda em um debate é sempre subjetivo. No final, este debate não esclarece e não convence. Ninguém mudou para o outro lado ou questiona a sua posição inicial.

Igreja vazia

Debate entre ciência e religião

Para mostrar alguns dos argumentos mais utilizados neste debate, falaremos sobre os dois lados da moeda que podem ser encontrados em qualquer fórum ou rede social em que esse assunto seja discutido. Os defensores da ciência atacam os religiosos argumentando que o que está escrito nos livros sagrados não é verdade. Por exemplo, para derrubar o cristianismo, é comum mencionar o mito da criação: como o primeiro homem foi criado por Deus e como a primeira mulher foi feita da costela desse homem.

Em uma distorção das teorias evolucionistas, os defensores da religião declaram a impossibilidade de o homem vir do macaco. Este debate absurdo, que parte de interpretações errôneas, é um dos mais comuns. Enquanto alguns não entendem a evolução, outros interpretam a Bíblia ignorando a sua escrita metafórica.

“A própria natureza imprimiu na mente de todos a ideia de um Deus.”
– Marco Túlio Cicero –

Outra das questões mais controversas é aquela que recai sobre a religião de pessoas que se destacaram na história. Tanto os defensores da ciência quanto os da religião costumam citar filósofos, químicos, físicos e uma série de pessoas famosas que acreditavam ou não acreditavam em Deus. Para alguns, os cientistas religiosos foram os melhores; para outros, os ateus foram melhores. No entanto, eles só citam pessoas importantes porque são importantes. Raramente falam de cientistas conhecidos que se aprofundaram na religião ou na religiosidade.

Por outro lado, a ciência tem sido considerada a religião do nosso tempo. E os religiosos utilizam argumentos científicos para provar a existência de Deus. Evidentemente, os argumentos para provar a sua existência ou inexistência acabam colapsando sem resolver o problema.

Einstein no debate entre ciência e religião

Como interpretar esses debates

Esses debates, longe da pausa e da reflexão, apenas procuram desacreditar o oponente. O fato de que são realizados através da Internet e não cara a cara dá às pessoas mais facilidade para se expressar. O suposto anonimato proporcionado pela internet também torna o objeto do ataque difuso. Quando alguém critica a posição da religião ou da ciência, não ataca determinadas pessoas, mas o aspecto geral. Mesmo assim, os debates podem acabar por que as pessoas interpretam o que é dito como algo pessoal.

Este processo encoraja que os argumentos sejam cada vez mais ridículos e focados nos ataques pessoais do que no tema principal. A ciência e a religião são compatíveis e existem diferentes posições que as integram. Os que parecem não ser compatíveis são as pessoas que se concentram no debate sem ouvir os argumentos da outra parte ou tomam a interpretação que é mais propícia à crítica.

Figura de buda

Posturas modernas sobre a ciência e religião

Deve ficar claro que a ciência é um método: pode ser entendida como uma ferramenta que nos ajuda a entender o mundo. Mas a ciência não é perfeita. O método não é perfeito e nem aqueles que o utilizam. As suas conclusões podem ser tendenciosas ou falsas. Há muitos aspectos da vida que escapam à compreensão da ciência. Embora isso não signifique que devamos aceitar todas as teorias mais loucas e cair em um relativismo absoluto.

“Se mãos tivessem os bois, os cavalos e os leões, e se pudessem com as mãos pintar ou produzir obras de arte, como se homens fossem, então pintariam os cavalos, semelhantes a cavalos, e os bois, semelhantes aos bois, as figuras dos deuses, e esculpiriam os corpos deles, cada um em conformidade com o próprio aspecto.”

– Jenofanes –

Por outro lado, a religião cumpre certas funções que tendem a escapar para aqueles que têm uma visão simplista. A religião serve para unir as pessoas, aliviar as tensões e os medos relacionados à morte, ensinar a generosidade e o compartilhar. Embora possam partir de suposições errôneas ou falsas, as religiões em si não são ruins. Aqueles que podem fazer o mal são as pessoas que vivem a religião de diferentes formas.

O cientista Carl Sagan apresentou um exemplo prático de como a ciência não pode interpretar toda a realidade. Sagan dizia que devemos pensar em um mundo bidimensional onde os habitantes eram quadrados planos. Neste mundo, um dia, de repente, uma bola aparece. Os habitantes quadrados não conseguiam ver que a bola flutuava no ar. Mas, em certa ocasião, a bola pousou no chão deixando uma marca redonda. Os habitantes ficaram surpresos diante de tal aberração.

Esta história, embora absurda, serve para reconsiderarmos as possíveis dimensões desconhecidas. Nós não sabemos tudo e nunca saberemos. Portanto, manter uma mente crítica, sem ofender aqueles que pensam de forma diferente, nos ajudará a não entrar em debates absurdos. A falta de respeito só causa conflitos e afasta as pessoas. O diálogo e a compreensão promovem a proximidade e a compreensão.


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