Como a ansiedade afeta o amor?

Os transtornos de ansiedade são o alimento de muitos situações. Causam um impacto muito importante no funcionamento cognitivo, que afeta nossos relacionamentos. Uma mente hipervigilante, por exemplo, pode gerar desconfiança ou uma preocupação excessiva. O que podemos fazer nesses casos?
Como a ansiedade afeta o amor?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 14 janeiro, 2024

A ansiedade é o problema de saúde mental mais comum. Nem todo mundo procura ajuda profissional ou aplica estratégias adequadas para lidar com pensamentos excessivos, ou com uma mente ansiosa que vive em alerta. Essa condição não apenas limita o potencial e o bem-estar, mas também pode alterar a capacidade de amar de maneira saudável.

Se você sofre de ansiedade ou vive com um parceiro que tem esse problema, você já deve ter passado e presenciado muitos altos e baixos. Além disso, é comum que as pessoas que sofrem de ansiedade social tenham sérias dificuldades em manter relacionamentos afetivos significativos.

É muito difícil sentir confiança e satisfação quando se é prisioneiro de uma mente insegura e obsessiva. Construir e manter um compromisso sólido e feliz com alguém quando um dos fatores que o condicionam é um problema de saúde mental. E a ansiedade é a mais recorrente. Fobias, ansiedade generalizada ou transtorno obsessivo-compulsivo são um caleidoscópio de sofrimento que às vezes impedem consolidar um vínculo.

Casal preocupado sobre como a ansiedade afeta o amor
O parceiro de quem sofre de ansiedade é obrigado a ser aquele suporte que nem sempre pode ajudar o outro como ele precisa.

É assim que a ansiedade afeta o amor

A ciência vem abordando há anos como a ansiedade afeta o amor. Uma investigação da Temple University, nos Estados Unidos, sugere que essa condição psicológica interfere no vínculo, produzindo angústia.

Além do mais, não só pode interferir na qualidade do vínculo, mas também pode ser um empecilho para as possibilidades de mantê-lo. Outros trabalhos, como o publicado no Journal of Social and Clinical Psychology, alertam para uma realidade frequente. A ansiedade geralmente não viaja sozinha; em muitos casos, geralmente há outros problemas subjacentes, como uma depressão mais grave.

Para as pessoas que transitam por esses buracos negros silenciosos, todas as áreas vitais são afetadas, desde o aspecto laboral, financeiro, social, lazer, relacionamento familiar e, claro, amoroso. Vejamos agora como ela costuma se manifestar no âmbito dos vínculos afetivos:

1. Preocupação excessiva

A mente impulsionada pela ansiedade vive em estado de alerta constante. Qualquer problema, por menor que seja, torna-se uma ameaça intransponível. Além disso, nesse medo persistente de “algo acontecer” vemos catástrofes que não existem e ameaças quando tudo está em harmonia. Isso põe em risco qualquer relação, alimentando-a de desconfianças e suscetibilidades.

Da mesma forma, é comum que analisem demais cada palavra, gesto ou comportamento da pessoa amada. Eles dão mil voltas às conversas, ao que foi dito ou não dito. Algo assim gera grande desgaste relacional.

2. Sentir-se culpado

Os sentimentos de culpa são como tachinhas dolorosas no cérebro ansioso. Nessa dinâmica de pensamentos excessivos, a pessoa costuma concluir que tudo o que acontece é culpa dela. A autopercepção negativa alimenta um diálogo prejudicial no qual aparecem ideias como: “Estou falhando com meu parceiro, ele vai me deixar porque estou sobrecarregando-o e a culpa é toda minha.”

Essa visão exaustiva e perigosa é a que aproxima a pessoa da beira da depressão.

3. O apego ansioso ou evitativo

A maneira como a ansiedade afeta o amor também se expressa na maneira como nos relacionamos com nosso parceiro. Algumas pessoas o fazem por meio de um apego ansioso, aquele marcado pelo medo do abandono e pela necessidade de demonstrações constantes de afeto. Nesse caso, os vínculos são criados a partir da dependência e dessa obsessão pela validação constante para nutrir a autoestima.

Por outro lado, a ansiedade também pode se manifestar por meio do apego evitativo, esse em que é difícil criar uma intimidade duradoura porque a desconfiança e o desejo de independência pesam muito. Nesse caso, o que acontece é que a pessoa com essa condição não quer admitir sua vulnerabilidade e constrói muros e paliçadas como mecanismo de proteção.

4. A ansiedade nos absorve e nos impede de ver o que é mais importante

A ansiedade é um demônio mental que ocupa espaços excessivos no cérebro. Tudo está cheio de medos, obsessões, incertezas e falsas ameaças. Estamos diante de uma condição que tudo absorve e esgota, impedindo a quem a sofre de poder focar a atenção no que é importante: as pessoas que os amam.

As pessoas com transtorno de ansiedade tendem a sofrer maiores fracassos em seus relacionamentos afetivos. Eles também têm mais dificuldade em encontrar um parceiro.

Paciente em terapia falando sobre como a ansiedade afeta o amor
A ansiedade pode ser tratada, existem abordagens psicológicas muito eficazes para recuperar o controle de nossas vidas e melhorar nossos relacionamentos.

Como melhorar meus relacionamentos se sofro de ansiedade?

A maneira pela qual a ansiedade afeta o amor é complexa e contraproducente. No entanto, os transtornos de ansiedade não afetam apenas a qualidade dos relacionamentos, mas têm impacto em toda a nossa vida. Nesses casos, é importante solicitar ajuda especializada para obter um diagnóstico adequado e uma abordagem terapêutica conforme às nossas necessidades.

A ansiedade se manifesta de várias formas e tem diferentes origens. Uma fobia social não é o mesmo que um transtorno obsessivo-compulsivo. Às vezes, a ansiedade é produto de traumas ou inseguranças que carregamos desde a infância e que devemos enfrentar. Vamos refletir sobre essas estratégias que podem nos ajudar.

A terapia psicológica e farmacológica

Existem várias abordagens que podem ser úteis no tratamento da ansiedade. A abordagem cognitivo-comportamental ou terapia de exposição no caso de fobias, por exemplo, pode ser de grande ajuda. Aprender técnicas de resolução de problemas, regulação emocional e relaxamento também é interessante.

A reestruturação cognitiva, que consiste em eliminar ou desativar padrões de pensamento negativos para substituí-los por outros mais saudáveis, é uma etapa necessária em qualquer processo terapêutico. Por outro lado, e em alguns casos, os médicos podem recomendar um tratamento farmacológico, como os ansiolíticos.

Trabalhar no padrão de nossos estilos de apego

A ansiedade pode nos levar a desenvolver estilos de apego dependentes ou evitativos. Em nosso processo de melhorar nossos relacionamentos, é interessante trabalhar esse aspecto. Precisamos, acima de tudo, nos relacionar com quem amamos de forma mais segura, madura, sem medo, sem carências e com boa regulação emocional.

Para concluir, a qualidade de todos os relacionamentos pode ser melhorada. Vamos evitar que a ansiedade seja o terceiro inquilino em nossa história a dois e deixar o amor florescer de forma saudável e enriquecedora.


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