Como ajudar as vítimas de agressão sexual?

Como ajudar as vítimas de agressão sexual?
Laura Reguera

Escrito e verificado por a psicóloga Laura Reguera.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

O enorme número de casos de violência contra as mulheres coloca em evidência uma realidade esquecida durante muito tempo: como é difícil, para grande parte da sociedade contemporânea, entender as vítimas de agressão sexual.

Infelizmente muitas pessoas ainda culpam a vítima, e suas tentativas de recuperação são utilizadas para tentar questionar o seu relato sobre os acontecimentos.

A realidade é que sofrer um estupro é um evento com sequelas muito além daquele momento. Por isso, é importante saber quais aspectos psicológicos podem ser comprometidos, de modo que as vítimas de agressão sexual possam recuperar o seu bem-estar o mais rápido possível.

“Uma de cada 3 mulheres pode sofrer de abuso e violência durante a sua vida. Esta é uma abominável violação dos direitos humanos, mas continua sendo uma das pandemias mais invisíveis e pouco conhecidas dos nossos tempos”.
– Nicole Kidman –

Quais são os fatores que influenciam a recuperação das vítimas de agressão sexual?

Em primeiro lugar, é importante trabalhar um aspecto que influi notoriamente no mal-estar psicológico: o fato de que as vítimas de agressão sexual recriminam a si mesmas.

É comum que, depois de sofrer um trauma, elas façam avaliações negativas sobre si mesmas, o que incentiva o aparecimento do transtorno de estresse pós-traumático, depressão e, geralmente, uma pior adaptação.

Mulher vítima de agressão sexual

Se pensarmos nos casos de estupros que vemos nos noticiários, é comum que muitos questionem se o crime realmente ocorreu e façam perguntas absurdas (como “Por que você não disse ‘não’?” e “Que roupa você estava usando?”) Estes tipos de perguntas contribuem para que as crenças sobre a culpa se apoderem da vítima.

“Não é não. E se você não disse que sim, também é não. E se vestia uma saia curta, também é não. E se tenta continuar com sua vida apesar do medo, também é não. E se alguém tenta fazê-la se sentir culpada, a resposta é não”.
– La vecina rubia (blog) –

Devemos considerar que a avaliação subjetiva de quem sofreu a agressão não é a única influência. O apoio social com o qual essa vítima conta também é um aspecto muito importante. A pessoa precisa perceber que o tem para poder recuperar o seu bem-estar.

Por último, é extremamente importante o uso de estratégias de enfrentamento e de controle emocional adaptativo.

Como estes aspectos podem ser trabalhados nas vítimas de agressão sexual?

Em primeiro lugar, é importante trabalhar, através da reestruturação cognitiva, todas as crenças que as vítimas de agressão sexual têm em torno de si mesmas, e com respeito à sua culpa no evento sofrido.

Neste sentido, devemos modificar as ideias que aparecem ocasionalmente de que elas merecem aquilo que aconteceu. Não é difícil imaginar, conforme os acontecimentos recentes, que isso é algo que deveria ser trabalhado também com relação à nossa sociedade atual.

“Diante das atrocidades, devemos assumir uma posição. O silêncio estimula o carrasco”.
– Elie Wiesel –

Infelizmente, são pensamentos que estão arraigados em muitos grupos. Com relação às técnicas de enfrentamento, as vítimas podem aplicar estratégias concentradas no problema, que costumam ser adaptativas para outros tipos de situações.

Neste caso, são melhores as que se concentram na emoção, já que estamos diante de eventos que não são controlados pela própria pessoa.

Por último, é importante dizer algo com respeito ao apoio social, e como ele é notado pelas vítimas de agressão sexual. Em algumas ocasiões, quando temos alguém próximo que passou por uma situação traumatizante, nós queremos ajudá-la, mas não sabemos como fazer isso.

Podemos fazer com que a vítima conte com o nosso apoio, mas não exatamente do modo que ela precise.

Como ajudar as vítimas de agressão sexual

Neste sentido, é importante considerar que, talvez, a melhor forma de prestar a nossa ajuda seja deixando que os profissionais de saúde mental (psicólogos e psiquiatras) façam o seu trabalho, e que sejam eles os que tentem ajudar essa pessoa.

Isso não quer dizer que não vamos apoiar a vítima, mas que devemos avalair se estamos fazendo isso de uma forma adequada.

As imagens são cortesia de Kevin Laminto e Chau Luong.


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