Como se fosse primavera, ela floresce
Ela sempre esperou muito de todo mundo. Vivia em seu universo particular em busca de algo que ainda não sabia explicar. Não se encaixa muito bem em padrões estabelecidos, gosta de arriscar o que é novo e diferente para todos os sentimentos.
Houve uma época em que ela amou e ficou exposta e entregue aos amores traçados. Se calejou de tanto tentar. Queria por que queria que o amor fosse seu par na dança da vida. Teimosia? Talvez sim, porque hoje ela mudou de par e ama a liberdade que lhe é presenteada todos os dias quando a cortina se abre e ela tem um mundo inteiro a ser desbravado.
Como ela gosta desses momentos de entrega. Fica ao deleite de sua solitude completa ao olhar as possibilidades que a vida tem lhe entregado. Sua melhor versão, sua melhor hora. Ela vive o presente e é feita de agoras, de gritantes urgências que não sabem esperar. Ela não adia a felicidade e nem faz questão de buscar, porque ela vive feliz onde está. Não tem hora. Lugar. Situação. Sua felicidade é sua existência e pronto.
Foi preciso amargar a boca muitas vezes para entender suas sustentações internas, chorou, vivia de cobrança, dela e dos outros, mas passou por tudo que passou para compreender melhor as profundezas da sua alma, que hoje é clara, rasa e linda.
Hoje ela aprendeu ler sentimentos e dispensa curiosos
Ela é livro e leitura ao mesmo tempo. Não é que sua intenção seja viver só, mas ela não quer mais a solidão acompanhada, apenas isso. Não prega nada, não milita por causa alguma, até sente vontade, mas prefere seguir sua vida em paz, sem discutir sobre nada. Para ela vale mais a sua paz do que revoluções que mexem muito com seu estado de quietude.
Em sua perfeita sintonia consegue enxergar a vida além do olhar, se entrega a primeira, segunda, terceira, milésima vez. Mesmo sabendo que ali, talvez, seja fonte rasa, ela entra, agora não mais de cabeça, mas de corpo inteiro em busca do que faz sua boca sorrir e contornar seu rosto. Já teve muito medo da vida e de viver, hoje substituiu o medo por paz, amor e por onde passa levanta essa bandeira.
É intensa de querer profundo, de olhar verdadeiro, de alma límpida, de ser apenas em momento. Ela é entrega e prece. Hoje ela ama, mas começa de si para escorrer em outros rios, ela não tenta mais trazer para dentro o que está fora, deixa emergir de dentro e ecoa para o mundo.
Os amores que já existiram, os empregos que não deram certo, as verdades que nunca foram ditas, não estão no seu portfólio, ficaram lá, no passado imperfeito, que deveria mas não é. E como ela detesta essa conjugação verbal, que geralmente vem acompanhada de um conselho ou de um arrependimento, como se tudo que é não é, porque teria sido de outro jeito. E então isso vira uma confusão na sua cabeça, e não pensar em nada é única solução justa nesse momento.
Seu doce olhar mira o horizonte, com uma certeza muito dela. Tem olhos de perseverança e vontade ao mesmo tempo, não uma vontade comum, mas daquelas que não se esgotam enquanto não chegar aonde quer chegar. Seu momento de acontecer é agora, que não espera mais de ninguém uma companhia para sábado à noite ou para ir ao cinema, agora que ela já viu que os amores vêm e vão, e se vão não é porque acabou, mas sim para que possa perdurar em sua história, ela entendeu que cada passo dado em sua trajetória formou esse coletivo de mulheres vividas, que ela agora sente pulsar dentro, e então ela traz seu pensamento para o que se tornou.
Seu olhar está longe, sentada em sua cadeira, olhando pela janela. A noite quente que se estende, sente seu coração pulsar diferente, de forma alegre que traz conforto e parece deixar uma magia diferente misturada à paz que envolve um sorriso, uma canção, uma nostalgia, uma taça de vinho e tantas mil histórias a envolvem nesse processo.
Sua evolução emocional começou a mil anos-luz desse momento: parece que já faz tanto tempo que nem sente que um dia já foi tão diferente de agora. Então ela fecha os olhos e sente como nunca sentiu antes, o seu momento. Ela sente a felicidade e a vê dançando na sua frente, com olhos de amor, saudade, vida. E como se fosse primavera, ela floresce, com amor inteiro de uma vida só!