Como será o futuro, de acordo com Slavoj Zizek
O filósofo esloveno Slavoj Zizek é um dos mais importantes pensadores da atualidade. Recentemente, ele falou sobre o futuro e criticou a forma como temos lidado com a pandemia. Para ele, a crise mundial é um golpe de misericórdia para o capitalismo neoliberal, que ele já considera morto.
Como sempre, as ideias de Zizek provocaram uma grande controvérsia, principalmente pela sua alegação de que a pandemia levará a uma nova ordem mundial que reinventará um novo comunismo.
Em particular, ficou famoso seu debate com Giorgio Agamben, mentor da ideia de que a pandemia é superestimada e de que as quarentenas devem ser flexibilizadas para retornar aos “negócios como de costume” o mais rápido possível.
Ele publicou recentemente o livro Pandemia: Covid-19 e a reinvenção do comunismo e anunciou que doará todos os lucros obtidos com essa publicação para a organização Médicos Sem Fronteiras.
O golpe de misericórdia para o capitalismo
A pandemia obrigou todos a parar de produzir, que é o mantra máximo do capitalismo. Tornou-se impossível manter a economia de livre mercado como a conhecemos devido à ameaça de contágio exponencial, que mudou radicalmente nossos padrões de consumo.
Slavoj Zizek acha que o mundo nunca mais será o mesmo. Ele acredita que o coronavírus é o golpe de misericórdia que marca o início de uma nova era econômica e política.
Para ele, a pandemia é uma catástrofe que nos forçará a adotar novos pontos de vista para analisar a realidade. O primeiro grande sinal desses novos tempos é o fato de que praticamente todo mundo está pensando em termos globais.
Primeiro, foi a ciência, que desde o início assumiu a responsabilidade de compartilhar informações. Isso tem sido decisivo.
Para superar a crise, também é necessário adotar uma perspectiva global dos recursos disponíveis. Alguns países abordaram a abordagem nacionalista e competitiva para o problema. No entanto, aqueles que adotaram uma postura cooperativa são os que agora estão se estabelecendo como líderes mundiais.
O ponto de vista “cínico-vitalista” e o futuro
Zizek cita e avalia o ponto de vista cínico-vitalista. Ele se refere à posição, aberta ou disfarçada, de simplesmente deixar a situação fluir. O resultado disso é que os mais fracos perecem, enquanto os mais fortes sobrevivem.
Ninguém se atreve diretamente a adotar essa posição abertamente. No entanto, algumas declarações e medidas parecem revelar essa intenção primitiva. Zizek cita, por exemplo, o protocolo dos “três sábios” no Reino Unido.
Segundo ele, “três homens sábios” em cada hospital devem decidir sobre o “racionamento de cuidados”. O que isso significa na prática? Que eles determinarão quem vive e quem não.
Em última análise, essa é a quintessência do capitalismo neoliberal. Na vida como era antes, isso se manifestou em termos de acesso ao emprego e à redistribuição de riqueza.
O sistema sempre deixa de lado um grande segmento de pessoas. No entanto, a exclusão agora pode significar a própria morte. As sociedades vão tolerar que esses critérios continuem a prevalecer?
A lógica brutal e a lógica solidária
Para Slavoj Zizek, o sistema capitalista já estava condenado ao desastre pela crise climática. Na sua opinião, a pandemia é “o último alerta diante da crise ecológica que está deixando o futuro do mundo em risco”.
Sua opinião coincide com os alertas da ONU e da OMS sobre a iminência de catástrofes globais devido à superexploração do planeta. O que aconteceu na Austrália no final de 2019 seria uma antecipação do que aguarda o mundo inteiro.
Zizek ressalta que duas lógicas entrarão em conflito. De um lado, está a lógica brutal de “cada um por si”. No entanto, essa maneira de pensar parece não ter muito futuro, porque ou todos nós saímos da pandemia e da crise climática ou todos nós afundamos. Não é algo que possa ser resolvido com sucesso a nível local. Do outro lado, está a lógica de nos ajudarmos mutuamente.
A proposta do filósofo e psicanalista esloveno é de que as sociedades se perguntem qual tipo de ordem social deve substituir o capitalismo liberal.
Na sua opinião, a realidade global mostra que uma sociedade construída a partir do individualismo, exclusão, utilitarismo e produtividade como valores principais não é mais viável.
A longo prazo, o pensador afirma que perceberemos que a vida no planeta só será possível através de uma cooperação inteligente. Ele não está falando de um tipo romântico de solidariedade, mas da construção de uma frente comum para que a vida no planeta continue a existir.
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Rubio, G. B. Comunismo del yo. La contingencia del COVID-19 desde Michel Foucault y Slavoj Žižek.