É possível corrigir o comportamento das crianças malcriadas?
“Ele não me obedece”, “Sou incapaz de ensiná-lo a se comportar”, “Faz birra o tempo todo”, “Não sei mais o que fazer”… Estas são as frases que muitos pais repetem diante do comportamento de crianças malcriadas. Por mais que se esforcem para por em prática tudo o que sabem, nada parece funcionar.
A falta de limites e regras é uma causa frequente por trás do mau comportamento das crianças. Contudo, também podem aparecer outros fatores que propiciam este tipo de conduta.
Impor limites e regras consistentes
Para corrigir a conduta das crianças malcriadas, os limites são necessários. Estes limites devem ser coerentes e consistentes na sua aplicação, além de sensíveis ao contexto em que são aplicados. O que isso quer dizer? Que os limites são úteis se forem uma referência para os pequenos, redobrando seu valor quando compreendem que existem para evitar que entrem em situações de riscos ou ameaças.
A Associação Espanhola de Pediatria relaciona isso ao confinamento. Em situações difíceis, é comum permitir que as crianças saiam dos limites, além de tentar compensar seu mal-estar através de concessões e bens materiais. Este tipo de atitude pode ser muito perigosa quando as variações dos limites não são claras.
“Uma criança malcriada e sem limites acaba se tornando um tirano para os pais” .
– Anônimo –
O reforço é melhor do que o castigo para lidar com o comportamento das crianças malcriadas
Muitas crianças malcriadas (e as bem-educadas) desconhecem que há uma parte muito positiva no seu comportamento. Isso acontece porque elas só recebem atenção quando se comportam mal. Quando fazem algo bem, recebem o pior castigo em troca: a indiferença de seus referenciais de personalidade. Assim, com frequência, se comportam mal para receber essa atenção que tanto desejam, ainda que não da forma como gostariam.
Por outro lado, quando as crianças recebem um reforço positivo por um bom comportamento incompatível com más condutas (por exemplo, quando reconhecemos que lidaram bem com a discussão que tiveram com seu irmão, em contraponto de terem xingado ou agredido), isso faz com que sejam ensinadas de duas formas valiosas. Primeiro, aprendem o que fazer e o que não fazer. E, por fim, se obtiverem um reforço após a sua iniciativa pessoal, isso fortalece a sua confiança e o seu autoconceito.
Ao implementar os reforços, não importa que os bons comportamentos sejam ações muito pequenas. O importante é que essa forma de educar comece a ser mais relevante que o castigo. A primeira vantagem é que a dinâmica muda. Organizar o quarto, abraçar o irmão mais novo, fazer os deveres sem reclamar, desligar a televisão na hora certa… É importante valorizar todas estas iniciativas.
Por outro lado, esta maneira de educar também é muito mais positiva para os pais. A possibilidade de recompensar um filho produz muito mais satisfação do que impor castigos e testemunhar seus sofrimentos. Ou seja, é possível educar com inteligência retirando a variável do sofrimento.
A disciplina é compatível com o amor
As crianças malcriadas podem fazer com que muitos pais percam a paciência. Entretanto, esse é o momento em que o autocontrole adulto deve prevalecer. Às vezes, isso pode ser muito difícil, principalmente se os pais estiverem cansados, quando acabaram de chegar do trabalho e não tiveram um bom dia. Por isso, queremos oferecer algumas estratégias que podem ser aplicadas de maneira sistemática:
- Crianças precisam de carinho incondicional dos pais (com o amor não se negocia): por isso, a Associação Espanhola de Pediatria recomenda uma educação baseada no reforço sobre o qual já falamos.
- Incentivar que se expressem: é comum soltar frases como “cale a boca”, “chega” ou “não estou gostando do seu comportamento” para as crianças malcriadas. Porém, se ao invés disso as incentivarmos a se expressarem e mostrarmos qual é a melhor forma de conseguir que sejam ouvidas, estaremos educando. Indiretamente, estaremos dizendo que existem jeitos melhores que a violência.
- Se estiverem muito aborrecidas, é melhor não interagir: este é um conselho aplicável aos próprios adultos. Interagir quando as emoções estão à flor da pele não é bom. Por isso, os pais podem explicar às crianças que, quando se acalmarem, poderão conversar. Devemos incentivá-las a expressarem suas emoções e sentimentos.
- Não à chantagem emocional! A chantagem emocional não é amor, muito menos disciplina. Oferecer uma balinha para que as crianças mudem de comportamento é uma dinâmica que causa muitos problemas. Além do mais, isso ensina às crianças que se relacionem desta forma, o que não é sadio.
“Crianças malcriadas não são felizes.”
Se os pais utilizarem essas estratégias, talvez possam descobrir por que seus filhos são malcriados. Consideramos que um comportamento deixa de ser reproduzido quando a motivação deste comportamento desaparece, ou quando há outros comportamentos pelos quais o interesse seja maior.
A tecnologia avança, o conhecimento avança, e a educação, com seus recursos, também. Neste sentido, educar os pequenos não deixou de ser um desafio, mas seria uma inverdade dizer que não contamos com conhecimentos para que os resultados deste processo não gerem aquilo que popularmente chamamos de “crianças malcriadas”.
Assim, hoje sabemos que o amor incondicional é compatível com a disciplina e que o carinho e a escuta ativa não se opõem ao estabelecimento e respeito às regras. Sabemos que a educação não é uma questão de preto no branco, mas de uma escala de cinza que nos desperta o desafio de nos movermos com inteligência através dela.
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- Céspedes, A. (2007). Niños con pataleta, adolescentes desafiantes. Como manejar los trastornos de conducta en los hijos. Ed Vergara, Chile.
- Larocca, F. E. Abecedario ‘N’es por Niños malcriados: la disciplina y sus efectos….