Compras nervosas devido ao coronavírus: o que a psicologia tem a dizer?

É evidente que estamos vivendo uma situação extraordinária com o COVID-19 e que, como tal, é preciso estar prevenido. No entanto, as compras motivadas pelo pânico geram consequências negativas: desabastecimento de certos produtos e aumento dos preços.
Compras nervosas devido ao coronavírus: o que a psicologia tem a dizer?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Prateleiras vazias. Filas longas com carrinhos lotados. Nervosismo, pressa, olhares cúmplices que compartilham a mesma inquietude: o medo de ficar sem recursos, sem alimentos, sem papel higiênico… As compras nervosas devido ao coronavírus estão se tornando um fenômeno cada vez mais comum que nos surpreende e intensifica a sensação de pânico.

Será que realmente faz sentido ir em massa ao supermercado para armazenar alimentos e outros produtos em casa? Ou será que estamos sendo testemunhas de um comportamento claramente irracional? Em primeiro lugar, há um fato evidente: o avanço do COVID-19 está nos obrigando a tomar medidas extraordinárias; uma delas é a quarentena.

Há áreas populacionais específicas que estão sendo obrigadas a ficar em casa durante pelo menos 15 dias. Algo assim evidentemente indica a necessidade de dispor de recursos suficientes para este período de tempo. No entanto, as redes de supermercado avisam: não há problemas de abastecimento, os produtos estão sendo repostos normalmente e não há indícios de que isso vai mudar.

Apesar disso, há medo. As compras motivadas pelo pânico estão acontecendo de Washington até a Nova Zelândia, passando pela Espanha, França e Malásia. No entanto, este comportamento não é novo e traz consigo uma série de explicações específicas. Iremos analisá-las a seguir.

Carrinho de compras motivado pelo coronavírus

O que motiva as compras nervosas devido ao coronavírus?

Abraham Maslow indicou, em sua famosa pirâmide das necessidades básicas, que na base do nosso bem-estar, no primeiro escalão, está a possibilidade de dispor de alimentos para a nossa subsistência. Em meio a um contexto de incerteza e medo, ter recursos básicos para subsistir em casa gera tranquilidade em nosso cérebro. É algo compreensível.

No entanto, algo que foi possível comprovar é que precisamos de muito pouco para responder com pânico. É claro que devemos ser precavidos, mas uma reação em massa provoca situações que todos queremos evitar: desabastecimento de certos produtos, longas filas e inclusive situações de estresse e confrontos entre todos.

É necessário, portanto, levar em conta alguns aspectos sobre as compras nervosas devido ao coronavírus.

Ser precavido é diferente de comprar por pânico

David Savage é professor de ciência do comportamento e microeconomia na Universidade de Newcastle, na Austrália. Este especialista afirma que devemos ser precavidos. A possibilidade de ter que manter uma quarentena de 15 dias é real e, como tal, é preciso se preparar. No entanto, devemos nos abastecer de uma maneira racional e equilibrada.

O que queremos dizer com “racional e equilibrada”? Significa, por exemplo, não comprar 15 pacotes de papel higiênico. Significa não colocar 20 frascos de álcool gel no carrinho. O que está acontecendo em muitas cidades e países desencadeia um comportamento de armazenamento irracional que vai trazer consequências. A primeira delas é a falta desses produtos. A segunda é o aumento dos preços.

As compras nervosas e o coronavírus

A compra por pânico gera mais pânico: a retroalimentação do medo

A mídia também é, de certa forma, incentivadora do pânico. As compras nervosas devido ao coronavírus não ocorrem apenas por uma reação instintiva das pessoas diante de uma situação de medo incerteza.

Ver imagens de pessoas comprando na televisão ou nos vídeos que compartilhamos nas redes sociais provoca um efeito de contágio.

Lembremos que, muito além do COVID-19, não há nada que contagie tanto quanto a angústia, quanto a sensação de que vamos ficar sem recursos básicos se não agirmos com rapidez.

A mente desconfiada e o desejo de ter o controle

Steven Taylor é psicólogo clínico e professor da Universidade da Columbia Britânica. Um de seus trabalhos mais relevantes é The Psychology of Pandemics (A psicologia das pandemias). Neste, ele explica um aspecto interessante que devemos levar em conta.

A mente humana costuma reagir com uma certa desconfiança diante da informação que recebe. Sempre surge a sensação de que “não estão nos dizendo tudo”. Às vezes, lemos dados falsos e lhes damos veracidade, outras vezes, recebemos informações contraditórias. Estas situações alimentam o medo, e o que precisamos é ter uma certa sensação de controle.

Uma forma de consegui-la é através das compras. Sabemos que lavar as mãos e manter medidas adequadas de proteção e higiene ajuda. Chegar em casa e ter a despensa cheia de alimentos e de produtos de primeira necessidade alivia, reconforta e nos oferece esta sensação tão necessária de controle.

Os enigmas do cérebro humano

Alternativa: a compra racional em um contexto de crise

As compras nervosas devido ao coronavírus alimentam o pânico, e devemos evitar cair nesse comportamento. É evidente que estamos vivendo uma situação extraordinária com o COVID-19.

Este contexto nos obriga a nos adaptar a esta situação, mas a possibilidade de enfrentar com êxito esta realidade envolve a necessidade de agir com calma, equilíbrio e inteligência. É assim que vamos conseguir tirar o melhor de nós mesmos.

Portanto, se você está se perguntando se deve ser precavido, a resposta é sim, mas de maneira racional. É recomendável aumentar o seu volume de compras de um dia para o outro?

Tudo vai depender das orientações que recebermos dos especialistas. Se você vai passar mais tempo em casa por causa de uma quarentena, ou se seus filhos não vão ter aulas, evidentemente será preciso estar um pouco melhor equipado.

  • Devemos evitar que o pânico nos controle. Os comportamentos motivados pela ansiedade e pelo medo agravam a situação: os preços aumentam e a oferta de produtos diminui.
  • É preciso comprar o que precisamos em função das necessidades cotidianas, nem mais, nem menos.
  • Se as instituições de saúde recomendarem alguma medida, devemos agir em consequência.
  • Não devemos antecipar futuros catastróficos irracionais: as lojas não vão deixar de ser abastecidas. Podemos continuar comprando com normalidade conforme precisarmos.

Para concluir, se em algum momento você notar que esta situação está tendo um impacto intenso demais e que você não está sabendo lidar com ela, não hesite em entrar em contato com profissionais especializados.

As crises devem ser enfrentadas com calma, consenso e comportamento cívico, reunindo esforços e motivações entre todos. No dia de hoje, temos boas notícias: a China está ganhando a batalha e há até 8 projetos de vacina.


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  •  Taylor, Steven (2019) The Psychology of Pandemics. Cambridge Scholars

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