Comunicação não-violenta na família, uma linguagem de vida

Os conflitos são comuns nas famílias. Em si, eles não são negativos. No entanto, podem ser prejudiciais, e muito, quando não são bem manejados e abrem feridas que não cicatrizam. Agora, qual é o papel da comunicação não-violenta nesse contexto?
Comunicação não-violenta na família, uma linguagem de vida

Última atualização: 30 maio, 2022

A comunicação não-violenta (CNV) é um modelo desenvolvido por Marshall Rosenberg que facilita a comunicação entre as pessoas com empatia e assertividade. No contexto familiar, esse conceito seria extrapolado para a comunicação entre os diferentes membros da casa.

As ferramentas disponibilizadas pela CNV são eficazes para transformar uma situação conflitiva que pode surgir na convivência diária, ela ajuda a alcançar relacionamentos de forma amorosa, respeitosa e harmoniosa.

Esse modelo de comunicação familiar, também chamado de comunicação empática, propõe substituir os padrões de resposta ao julgamento e às críticas de outros membros da família em que são usados padrões defensivos ou evasivos, por outros em que a empatia tem um papel muito mais proeminente.

As reações de resistência, defesa e violência são reduzidas ao mínimo, pois quando nos concentramos em esclarecer o que observamos, sentimos e desejamos, em vez de nos dedicarmos a diagnosticar e julgar, a compaixão tende a surgir naturalmente.

Filha falando com sua mãe mais velha
A comunicação empática remove as barreiras entre as pessoas para se entenderem.

Diretrizes para uma boa comunicação familiar

Em caso de conflito entre dois membros da família, a CNV propõe seguir os seguintes passos:

  • Observar o que acontece (os fatos): como eu vejo eles e como o outro  os vê.
  • Como nos sentimos (eu e o outro)? : com empatia, sem julgar, rejeitar, etc.
  • Quais são as necessidades autênticas que fundamentam os sentimentos que descobrimos?
  • Fazer um pedido direcionado a tentar alcançar o objetivo ou desejo genuíno (necessidade). O que podemos e devemos perguntar a nós mesmos ou ao outro para resolver o problema e enriquecer nossas vidas.

Após ter feito a solicitação, é necessário garantir que a mensagem foi satisfatoriamente compreendida por meio de perguntas como: “está claro?” ou “você pode me dizer o que eu te disse?” Para fazer isso, é melhor pedir claramente uma resposta à outra pessoa; a ideia é saber como ela entendeu nossas palavras e corrigir qualquer interpretação incorreta (Rosenberg, 2013).

Em resumo, a estrutura sugerida por Rosenberg (2013) é a seguinte:

– “Quando você faz ou diz…

-Sinto-me…

-Porque eu preciso…

-Se você concorda, eu gostaria que você…”.

Um passo adiante é praticar esses quatro passos com os diferentes membros da família. Primeiro, percebendo o que observam, sentem e precisam, para depois descobrir o que querem para enriquecer suas vidas, ouvindo o pedido que nos fazem. Assim, ajudamos os outros a fazerem o mesmo e estabelecemos um fluxo de comunicação assertiva.

Vocabulário de sentimentos e necessidades na família

A expressão dos estados emocionais deve ser clara e precisa de uma forma que nos ajude a nos conectar com os outros. Para fazer isso, Rosenberg distingue entre sentimentos agradáveis, quando as necessidades são satisfeitas, e sentimentos desagradáveis, quando as necessidades não são satisfeitas.

Por um lado, menciona sentimentos agradáveis como afeto, confiança, entusiasmo, esperança, paz, felicidade, gratidão, interesse, inspiração e abertura. Por outro lado, relaciona sentimentos desagradáveis como saudade, aversão, confusão, raiva, inquietação, medo, tristeza, raiva, dor e vergonha.

Existem dois obstáculos frequentes que dificultam a expressão dos sentimentos. Uma delas é a falta de alfabetização emocional na família, o que dificulta a capacidade de seus membros se expressarem aberta e especificamente. Outro obstáculo é o medo que geralmente existe de nos mostrarmos vulneráveis aos outros, quando na verdade é essa vulnerabilidade que facilita a resolução de conflitos (Vivas, Gallego e González, 2007).

Quanto à expressão de necessidades, significa conectar o sentimento com tudo o que precisamos para nosso bem-estar físico, emocional e espiritual. Mais uma vez, Rosenberg fornece uma lista de necessidades humanas, incluindo conexão, proximidade, autonomia, integridade, participação, liberdade e interdependência, que podem nos guiar a saber qual necessidade não satisfazemos.

pai e filho conversando
A comunicação não-violenta permite a compreensão a partir da empatia e do respeito.

Uma ferramenta útil em casa: a caixa dos sentimentos

A caixa de sentimentos é uma dinâmica útil para usar em casa. Consiste em deixar sobre uma mesa, acessível a todos, uma caixa com folhas brancas recortadas em forma de pequenos cartões no interior. Todos os membros da família podem partilhar com os outros, através deste recurso, os diferentes acontecimentos que lhes causaram desconforto ao longo do dia.

No final do dia, cada membro lerá um pedaço de papel aleatório e proporá uma solução ou um comentário simpático para aliviar o problema do outro. Este jogo nos ajuda a ter consciência e responsabilidade por nossos pensamentos, sentimentos e ações, tornando-os recursos mais valiosos na tomada de decisões.

Concluindo, a comunicação não-violenta é uma ferramenta que pode nos ajudar a nos conectarmos com nós mesmos e com os outros. Graças a ela, você pode aumentar a compreensão e o acompanhamento, melhorando a convivência a partir da honestidade e do compromisso.


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  • Rosenberg, M. (2013). Comunicación No Violenta, un lenguaje de vida. Buenos Aires: Gran Aldea Editores.
  • Vivas, M., Gallego, D.J., y González, B. (2007). Educar las emociones. Venezuela: Producciones Editoriales C. A.

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